Simplesmente Irresistivel



Boa tarde!

Esse conto é de uma das minhas autoras favoritas, desde o tempo do extinto xana in box adoro seus poemas, mas já não acompanho os contos como antes.
Apreciem a leitura, não sei dizer se esse conto é postado em outro local, por tanto desculpem.
O nome da autora encontra-se em casa parte das postagens.

bjs
Drika

Capítulo 1: Fim de relacionamento


(por Karina Dias , adicionado em 23 de Março de 2007)






Eu me chamo Cristina, podem me chamar de Cris, eu prefiro. Tenho vinte cinco anos, sou uma mulher dentro da média no quesito beleza, corro todos os dias pela manhã para manter a forma, meço 1,68m, tenho 68kg, cabelos lisos com tom de mel abaixo dos ombros, olhos castanhos claro, pele branca. Há dois anos e meio não moro mais com os meus pais, tenho um emprego estável na loja de carros da família, e estou terminando a faculdade de jornalismo. Tenho casa, carro, amigos, uma família maravilhosa, constituída pôr: Carlos, meu pai, 55 anos, é o cara mais incrível que conheço, sabe tudo sobre carros, quando mais moço trabalhava de taxista nas ruas do Rio de Janeiro. Dois anos nesse ramo, já estava com uma frota de táxis. Quando o negócio começou a ficar maçante e não despertando mais o seu verdadeiro “eu” empreendedor, passou a vender alguns carros, e com o dinheiro de um taxi vendido, ele comprava dois ou três carros em leilões públicos, fazia os pequenos reparos que sempre tinham para fazer, depois os vendia na porta de casa mesmo, tendo o lucro de mais de cem por cento do que havia investido. Quando o negócio cresceu, quase um ano depois, papai comprou um galpão quase abandonado, vendeu o último taxi que ainda estava em seu poder e abriu o CARROS JÁ, que é onde trabalha até hoje. Além de mim, que sou sua filha, tem mais doze empregados, entre eles meu irmão Luiz que é um ano mais velho do que eu, e é tão sensacional quanto meu pai, vende carros como quem vende balas, adora o que faz, é dedicado, trabalhador, bom caráter, e amigo, isso mesmo, Luiz é um dos melhores amigos que alguém pode ter. Completando o time da família tem também minha mãe Ana, dona de casa dedicada, nos criou com o máximo de amor, jovem ainda, principalmente de espírito, tem 48 anos, com aparência de vinte nove, quando saímos juntas, mais parece minha irmã, por falar em irmã, também tenho uma irmã mais nova, Amanda, essa tem dezoito anos, é linda, uma bonequinha em todos os sentidos, um pouco desinteressada pelos negócios da família, só passa na loja quando precisa de dinheiro. Está cursando o primeiro ano de cinema, é uma sonhadora incondicional, adora Internet, shopping e homens, bem diferente de mim, que adoro ficar em casa, vendo filme na tv, estudando ou jogando baralho com os amigos, confesso que nem sempre fui assim, mas... Deixa pra lá... Hoje sou assim. Ah! Já ia me esquecendo, não gosto de homens, quer dizer, não gosto de namorar homens, desde meus quinze anos, quando beijei pela primeira vez a boca de uma mulher, não consigo parar de pensar em outra coisa, talvez seja por isso que eu e meu irmão Luiz nos damos tão bem, é nosso assunto preferido, ele sempre brinca dizendo que Deus não o deu um irmão mais novo para que pudesse ensinar-lhe algo sobre as mulheres, no entanto, fez melhor, lhe deu uma irmã mais nova que tem a vantagem de conhecer as mulheres como ele jamais irá conhecer, engraçado ele, não acham? Bom, no time da família também inclui, um cachorro vira-lata chamado Rex que é o xodó de minha mãe, o papagaio Frederico, sim, porque louro já é muito ultrapassado, e uma gata angorá chamada Patrícia em homenagem a minha irmã. Aos Domingos nos reunimos para matarmos a saudade, embora nos vejamos quase todos os dias, isso porque a loja fica ao lado da casa dos meus pais, e minha casa fica a duas ruas dali, na verdade saí de casa quando conheci Aline, foi uma paixão fulminante, ela não tinha um bom relacionamento com seus pais, então resolvemos juntar nossas escovas de dentes, mas, Aline sempre fora muito geniosa, ficamos alguns meses morando com minha família, a experiência não foi tão boa, pra ser sincera, foi um fracasso mesmo, a menina queria mandar mais do que minha mãe, vê se pode? Devido a esse pequeno contratempo, resolvi partir para um aluguel, no entanto, meu pai, sábio como sempre, me proibiu de cometer essa loucura, e nos presenteou com um apartamento perto dali, um apartamento pequeno, porém aconchegante e quitado. Bom... Acho que vocês estão se perguntando, e daí? Porque tá dizendo tudo isso? Calma! Eu só quero que vocês me conheçam melhor... Voltando a Aline... Aline sempre fora uma mulher maravilhosa, adorava cozinhar, e era muito quente, tinha um corpo atraente, voz excitante, era morena, de cabelos cumpridos, isso me atrai bastante, lembro-me de quando nos conhecemos numa boate aqui no Rio, eu estava bêbada, e ela me odiou a primeira vista, não me deu a mínima, e naquela época, eu estava literalmente na “galinhagem”, acho que está explicada aquela frase: “nem sempre fui assim”... Como começamos a conversar? Ah! Nosso primeiro diálogo foi muito construtivo, eu estava no estacionamento da Boate quando de repente... Vomitei no pneu do carro de Aline. Foi sem querer. Como eu iria saber que o carro era dela? E eu sou tão azarada que ela estava chegando bem naquele momento, posso dizer que essa foi a Segunda vez que nos vimos.

- Mas que droga! – Disse ela.

- Calma – Foi o que eu consegui dizer – Eu tô bem – Sussurrei.

- Estou falando do carro... Tanto lugar para você vomitar, tinha que ser no pneu do meu carro? – Ela estava realmente brava.

- Credo menina! Pensei que você estava preocupada comigo.

- Com você? Por acaso alguém te obrigou a encher a cara? – Disse fitando-me com aquela carinha que diz: “vou te esganar”

- Tudo isso por causa de um pneu? – Tirei um cartão do bolso da calça e entreguei-lhe – Leva o seu carro nesse endereço, temos um lava jato ao lado, vamos resolver o seu problema – Olhei-a séria.

- Até parece que eu vou me despencar do Méier até Copacabana para lavar um pneu – Olhou-me novamente. Agora eu já estava de pé, vomitar sempre faz bem quando estamos passando mal, ou bêbados, como era o meu caso. Acho que ela gostou de mim ao terceiro olhar... Ela sorriu e pôs a mão na cabeça como se estivesse arrependida por tudo o que me dissera. Claro, né? Fez uma tempestade em um copo d’água – Acabei de fazer dezoito anos... Peguei minha habilitação ontem... Essa foi a primeira volta que eu dei no carro do meu pai, e uma louca vomita no pneu – Disse e sorriu. Eu sorri também, claro. Dezoito anos? – Pensei – Com aquele corpo? – Continuei pensando.

Ela foi gentil, não foi? Ah sim! Eu ainda não disse o porque dela ter sido gentil... Bem, ela levou-me para casa, eu havia perdido às chaves do meu carro... E quando chegamos na minha casa, já eram cinco da manhã, todos estavam dormindo e Aline ficou com peninha de me deixar jogadinha por lá... Foi comigo até o meu quarto, e ajudou-me a tirar a roupa para eu tomar banho, no entanto... O que aconteceu foi bem simples, roda a fita aí: começamos a nos beijarmos antes mesmo de entrarmos em casa, nos semáforos do caminho. Quem nunca fez isso? Um dia vai fazer, pode apostar. Depois, foi fácil, já estávamos sem roupa no banheiro... Aquela pele quente que ela tinha, sua boca percorrendo meu pescoço... Senti seu corpo se esquivando da água, alcançando o apoio da parede... A menina me puxava para ela, e minhas mãos não conseguiam sair do meio das suas pernas... Eu penetrava Aline cada vez mais rápido e ela estava insaciável, sempre querendo mais... Abaixei-me no meio das suas pernas e descobri naquele momento o que satisfazia aquela menina...Minha língua se perdeu por horas dentro dela... Depois dessa noite... Digo, manhã de amor... Manhã de sexo? Decidam-se por favor. Bom... Sempre vivemos bem, até o mês passado, justamente quando Aline recebeu um convite irrecusável de ir para os Estados Unidos fotografar, esqueci de comentar o quanto ela queria ser modelo. Era sua chance, eu não podia pedir para ela ficar, e nem poderia ir com ela, então, em uma Segunda-feira ela recebeu a proposta, na Sexta-feira, ela estava na ponte aérea, Aline nem ligou para dizer se havia chegado bem, fiquei dias do lado do telefone, olhava o celular de dois em dois minutos na esperança dele tocar, fiquei sem comer, sem dormir e meu rendimento no trabalho estava péssimo nesses dias, foi então que Aline ligou, pediu-me desculpas, disse que sentia minha falta, mas que estava vivendo o melhor momento de sua carreira, e então, nós terminamos. Chorei a noite inteira, na manhã seguinte, recebi a visita de Cíntia, amiga de trabalho de Aline, elas estavam disputando a mesma vaga para esse trabalho no exterior, ambas são belíssimas, nem sei como tiveram a coragem de descartar uma delas, bom, eu ficaria com às duas, mas, isso não importa... Fiquei surpresa com a visita, porém curiosa, tomamos café juntas enquanto conversávamos, só então fiquei sabendo o real motivo de Aline ter me descartado tão friamente pelo telefone, a safada engrenou um romance com o produtor do evento para se dar melhor e conseguir a vaga, e pensar que chorei a noite toda.

- É o preço que se paga por se envolver com uma pirralha de vinte anos – Pensei.





CONTINUA...





Capítulo 3: Esse meu primo...

(por Karina Dias , adicionado em 24 de Março de 2007)




Hoje, faz quinze dias desde a visita de Cíntia, acordei mais cedo, encaixotei todas as coisas que Aline deixara em meu apartamento, e deixei na casa dos seus pais. Agora, são dez e vinte da noite, percebo que o apartamento ficou bem menor, embora tenha tirado tantos objetos dali. Não sei bem como estou me sentindo, mas, acho que estou melhor, esses últimos dias me fizeram amadurecer, e sei que não vou chorar mais, nem por Aline que não teve a mínima consideração por mim, nem por alguma outra que venha usufruir de algum espaço na minha cama, estou bem dura interiormente, será impossível confiar e entregar a minha vida novamente a outra pessoa. Estava exausta, haviam dois recados na secretária eletrônica. Sentei-me no sofá.

- Cris! É o Guga, me liga assim que chegar, beijo.

- Cris! Atende Cris! É o Guga de novo. Tá em casa? Eu sei que não está, se estivesse não faria isso comigo. Olha, sabe aquela garota que eu te falei? Ela tem uma amiga gostosona que está doida pra te conhecer, me liga!

Que piada! Gustavo, o Guga, meu primo, filho da minha tia Vera, irmã mais velha do meu pai, ele tem a minha idade, não tem emprego, não terminou os estudos, vive de pensão da mãe que o trata feito bebê, e sempre se mete em furadas, a última foi ter se envolvido com uma mulher casada, e o pior, o marido dela, um policial que estava doido para saber quem era o canalha que comia sua mulher quando ele ia trabalhar, uma vez chegou mais cedo em casa, e quase surpreendeu Guga com a esposa na cama, sorte que o cachorrinho de estimação da mulher deu sinal, então meu primo atrapalhado correu de cueca de Santa Teresa até a Praça Quinze, no centro da cidade, às roupas na mão eram quase invisíveis para ele, sabe pra quem ele ligou? ligou para mim, e eu ainda tive que ir buscá-lo, porque o trouxa deixou o dinheiro cair pelo caminho, nem o do ônibus ele tinha, conseguem imaginar o desespero desse desmiolado? Hoje essa estória é motivo de piadas, mas... Na época... Nossa!!!!! Sorri lembrando-me do incidente.

Já passava da meia-noite quando o interfone tocou.

- Quem é? – Disse sonolenta.

- Cris, sou eu, Guga – Disse aflito – Abre, é urgente. Rápido por favor.

Era bem provável que meu priminho irresponsável tivesse aprontado alguma de suas peripécias. Abri a porta...

- Surpresa! – Disse ele sorridente.

Bom, o que dizer daquela cena barata? Guga estava diante de mim com duas... Duas loiras exuberantes. A situação fora no mínimo desconfortável. O que deu na cabeça dele pra trazer visitas aquela hora na minha casa?

- Oi – Cumprimentei às menina, logo fitei Guga com fúria nos olhos. Olhei o relógio pra ver se ele se mancava, mas, meu primo desconhece essa palavrinha.

- Cris, essa é a Luana, e essa aqui é sua futura esposa – Sorriu – Brincadeira, é a Susy. Trouxe batatas e cervejas – Abriu uma sacola – Filmes eróticos e ... Camisinha, pra mim, é claro.

Puxei-o no canto.

- Você só pode estar brincando, não é? – Disse furiosa.

- Relaxa prima! Ainda vamos brincar – Sentou-se no sofá – Sou sua fada madrinha, há quanto tempo não sai de casa? E o que é pior, há quanto tempo não tem uma noite daquelas? – Concluiu animado.

- Lamento desapontá-lo, mas, não quero dividir a minha cama com ninguém, muito menos com uma garota que eu nem conheço – Disse absoluta.

- Meninas, fiquem à vontade – Puxou-me pelo braço – Vamos só pegar uns copos.

Fomos até a cozinha. Abrimos umas cervejas, batatas na tigela...

- Guga, está tarde, eu quero dormir – Disse desanimada – Porque não leva as duas para um motel?

- Cris, a Susy é toda sua, o meu negócio é com a Luana, ela não é uma delicia? – Tomou um gole de cerveja, logo ascendeu um cigarro – Vou ficar com o quarto de hospedes, tá?

- Eu sabia, tá sem grana para o Motel – Fitei-o reprovando suas intenções.

- Não é isso, só que... Como sou seu amigo, quis trazer essa gatinha para curar sua deprê, tá legal? Mas, você é mal agradecida mesmo! - Disse cínico – Nunca liga para as boas ações que faço, tá pensando que eu faria isso por outra pessoa? – Só faltou chorar. Que cara dramático!

- Seu mané! Pode parar de tentar me enrolar – Acendi um cigarro também – Tá vendo? Eu tinha parado de fumar, você é um mau exemplo – Sorrimos, independente de qualquer defeito daquele sacana, eu gostava bastante dele – Pode ficar com o quarto de hospedes, a Susy dorme no meu quarto, e eu... Me ajeito na sala mesmo.

- Vai dispensar aquela gata? Cris, você deve estar com febre – colocou a mão na minha testa – A garota veio te conhecer, vai amarelar?

- Se prefere colocar desta maneira, vou amarelar sim – Abri a geladeira, coloquei água no copo... Bebi - Nada de filme pornô, está bem? – Disse autoritária. Conheço bem o meu primo, ele precisa de regras, se não... – Vou falar com as meninas, e depois vou dormir o sono dos justos, se quiser, faz uma festinha com as duas, eu tô fora!

Vocês tinham que ver a cara dele, ficou atônito, cara de bobo, ele já tem normalmente. Confesso que se fosse a alguns anos atrás, mais precisamente, antes de ter tido uma vida em comum com Aline, eu estaria deveras animada para aquela festinha com Susy.

Quando voltei do quarto com lençóis e travesseiros, percebi que o aparelho de DVD não estava no mesmo lugar, sorri imaginando onde estaria. Ele realmente não obedecia a nenhuma regra. Susy voltou do meu quarto com o roupão que eu havia lhe emprestado, olhei-a melhor, sem dúvida era uma mulher bonita, cabelos cumpridos num tom castanho claro, quase loiros, combinavam com sua pele bronzeada de praia, seus olhos esverdeados ganhavam destaque na face jovem e delicada, devia ter entre vinte e vinte três anos, e seu corpo era bastante atraente. Iríamos começar um diálogo quando o barulho do quarto ao lado chamou-nos a atenção, eram tantos gritinhos e gemidos que ficamos constrangidas, eu pelo menos fiquei, ela? Ela sorriu...

- Esse meu primo é incorrigível – Disse envergonhada. Chato sentir vergonha pelas atitudes dos outros.

- Ele disse que você precisava de companhia, mas acho que estava enganado- Disse ousando de um tom de voz extremamente sensual. Deus que me perdoe, mais ela parecia um Demônio do bem. Que carinha de safada era aquela?

- É... Ficar sozinha às vezes tem o seu valor... Estou preferindo... Reorganizar... Minha vida – Disse insegura, e não muito convicta do que eu queria. Ela me olhava como quem olha um pedaço de pizza.

- Que pena – Disse com aquela voz saliente que as mulheres Demônio costumam ter.

Susy abriu o roupão, estava completamente nua, aproximou-se de mim, gelei ao sentir sua pele nas minhas mãos, sim! Ela segurou minhas mãos e conduziu lentamente até os seus seios... Queriam que eu fizesse o que? Eu estava deprimida, não morta. Apertei os bicos e ela se contorceu, logo, colocou-os na minha boca, chupei-os com vontade... Susy sentou-se no sofá de pernas abertas para que eu chupasse melhor seu sexo, minha língua agradeceu... Logo meus dedos invadiram-na fazendo-a gemer de prazer, ela se contorcia, colocava o dedo na minha boca... Parecia estar no cio. Minhas mãos passeavam pelo seu corpo, ela me beijava e mordia o meu pescoço... Deixando marcas... Arranhava minhas costas e falava barbaridades no meu ouvido. Às palavras mais “lights” que eu ouvi dos lábios dela, foram:

- Mete mais fundo, assim... – Dizia e gemia, lambia a minha orelha... Mordia também – Me fode gostoso... Chupa a minha boc... – Bom... Ela disse coisas piores, mas, tenho vergonha de dizer, então... No minuto seguinte, estávamos rolando no tapete da sala, nos acariciando como se não houvesse mais amanhã... Perdi as contas de quantas vezes gozamos. Mais meia hora com aquela mulher Demônio, e eu enlouqueceria de vez... Acharia que é melhor garantir um pedacinho no inferno do que no céu. Ela tinha argumentos pra isso... Susy levantou-se... Iria vestir o roupão, no entanto.... Desistiu... Que bom, ela ficava bem melhor nua... A menina parou na porta que separava a sala do corredor, pensou por um instante, me olhou...

- Se eu soubesse que seria tão bom, não tinha nem cobrado - Disse antes de ir tomar banho.

- Opa! Mas... Q filho da mãe! – Pensei – Não acredito! Garotas de programa? É bem a cara dele – Disse frustrada. Deixei meu corpo cair do sofá para o tapete, eu não tinha forças nem para questionar a atitude do meu primo.





CONTINUA...





Capítulo 4: Dia de terror

(por Karina Dias , adicionado em 26 de Março de 2007)




Dormimos na sala mesmo. Acordamos com o maluco do Guga gritando e ligando o som no último volume.

- Acordem meninas! – Abriu às janelas – Olhem o Sol! Está lindo lá fora. Vamos todos à praia – Me sacudiu – Cris, que noite, hein?

Mal podia abrir os olhos, tamanha era a claridade. Cheguei à cozinha tropeçando nas pernas, e o chato do Guga não parava de tagarelar.

- Seu tarado! – Disse indignada – Elas são garotas de programa, sabia?

- Me deve duzentos paus – Disse naturalmente.

- O que? Você sabia? – Fitei-o brava – Tá maluco? Eu chupei a mulher toda!

- Relaxa! São garotas de luxo, digamos assim – Pegou o pote de biscoitos – Que fome, nessa casa não tem comida de gente? – Abriu a geladeira – Fazem teste de DST regularmente, usam camisinha sempre, e só dão para políticos e empresários, mas, como eu tenho meus contatos, consegui as duas por uma pechincha, tá vendo como sou legal contigo?

- Só me mete em furadas seu louco! – Disse perplexa – Não consigo nem olhar pra menina, sabia? – Esfreguei às mãos nos olhos, eu precisava voltar pra cama, ainda estava exausta, e minhas costas doeram bastante por ter dormido no tapete da sala, e pensar que minha cama ficara vaga a noite inteirinha, que idéia essa! Porque não dormimos na cama? – Pensei – Preciso dormir mais – Disse.

- Dormir nada... Anda, vai se arrumar – Empurrou-me, quase derrubei uma garrafa de cerveja vazia que estava sob o armário. Desorganizado esse cara, deixa tudo espalhado - Vamos à praia brincar mais um pouquinho com as sereias – Disse ele sorridente.

- Esquece! Tô fora. Tenho prova na Segunda - Tirei a garrafa do caminho.

- Essa não! Eu consigo duas gatas de primeira, e você diz que tem prova na Segunda? – Ficou analisando-me por uns segundos - Cris, você tem vinte cinco anos, mora no Rio de Janeiro onde ninguém dorme enquanto a cerveja não acaba, está livre e desimpedida, aposto que tem dinheiro guardado no colchão, e se preocupa com prova? Eu estou ouvindo bem, ou ficando maluco? - Ele estava indignado? É estava! O que será que ele pensa da vida?

- Você não está ficando maluco, você é maluco!

- Um acordo, não te cobro os duzentos paus pela noite, e você vai com a gente pra praia, tá? – Olhou-me com aquela cara de inocente.

- Um acordo: te pago os duzentos, e te dou mais cem pra você ir com elas sem mim – Disse.

- Fechado! – Me deu um beijo no rosto – Você sabe mesmo fazer negócios – Disse sorridente- Vocês também pagariam para se verem livres dele, aposto que pagariam.





Dei graças a Deus quando eles foram embora. Tomei um banho gelado para mandar a preguiça para bem longe... Coloquei uma garrafa transbordando de café ao meu lado. Era minha folga no trabalho, bom acumular banco de horas, Sexta-feira em casa... Tinha que aproveitar... Então, estudei o dia inteiro. Guga ligou-me duas vezes para ter certeza de que eu não iria mesmo encontrá-los na praia... No fim da tarde liguei para mamãe e fiquei de buscar Luiz na faculdade.

Fazem dois dias que não penso em Aline da mesma forma, quero dizer, nem com raiva, e muito menos com saudade, e também, depois da noite que tive, vou demorar para sentir saudade de alguma coisa, e se eu for mais a fundo em meus pensamentos, posso até dizer, que Aline não é tão diferente de Susy, ambas fazem por dinheiro. Tem diferença? Não, não acredito que tenha.



Às dez da noite, eu e Luiz estávamos tomando cerveja em um bar de fronte a faculdade que ele estudava, Luiz faz curso de administração, acha que será bom para os negócios da família, tem planos de ampliar a loja, e expandir filiais. Meus planos para esta vida, é ter paz, ultimamente isso está tão difícil, que chego a acreditar que ela, a paz, não existe.

- Como você está hoje? – Disse ele preocupado, minha cara não devia estar boa, né? – Tem tempo que não te vejo correr de manhã na praia. Poxa! Perdi minha companhia mais animada!- Sorriu pelo canto da boca, eu não sorri de volta... Não costumo sorrir sem vontade.

- É, tenho andado desanimada... Acordando tarde mesmo.

- Não tem dormido bem?

- Até me acostumar com a vida de solteira novamente, leva tempo – Disse. Acendi um cigarro, literalmente havia voltado a fumar, tinha parado quando conheci Aline, ela detestava o cheiro, mas, nos últimos dias, ele, o cigarro, diminuía a minha ansiedade, e eu às vezes nem o punha na boca, mas gostava de ver a sua fumacinha subir – Não se preocupe comigo, Luiz... Hoje estou melhor – Disse – Sabe o que o Guga aprontou?

- Imagino que não foi coisa boa – Sorriu, logo balançou a cabeça no sentido negativo.

- Pior é que foi boa demais – Sorri pelo canto da boca, agora sim tive vontade de sorrir – Ele levou uma garota de programa lá em casa esta noite.

- Sério? – Fitou-me perplexo.

- Nossa! Foi... Foi... Maravilhoso – Disse enquanto respirava fundo, lembrando-me daqueles momentos que passei com Susy.

- Cris, você é louca? Dormir com uma prostituta? – Fitou-me preocupado.

- Eu não sabia, pensei que fosse amiga dele... Sei lá! Quando me dei conta, nós já tínhamos feito de tudo, só depois fiquei sabendo que era um programa.

- Que loucura – Tomou um gole de cerveja – Por falar em Guga, Domingo terá um almoço na casa dele, você vai? Faz um esforço, tem dois Domingos que você não almoça com a gente.

- Talvez dou uma passadinha para não deixar os velhos preocupados – Disse.





A conversa fora agradável, bebemos um pouco, e depois terminei a noite como sempre, sozinha em meu apartamento. Solidão era a minha companhia cativa... Ela jantava comigo, via filmes comigo, até jogávamos cartas... Paciência, eu jogava paciência no pc.

... Acordei de ressaca, e olha que eu nem bebi muito, acho que era ressaca de desânimo mesmo, ressaca de desânimo? Credo! Isso existe? Engraçado, quando sofremos uma desilusão, há dias que acordamos tão bem, cheios de esperança, com vontade de tocar a vida, acreditando realmente que as coisas vão melhorar, porém, há outros que parecem ser os piores de nossas vidas, são nesses dias, que sentimos o peso do mundo sobre nossos ombros, parece até que não somos capazes de nos recuperarmos. Era Sábado, o dia estava lindo, mas, eu queria ficar trancada no quarto remoendo tudo de bom e de ruim que eu havia vivido com Aline, se quer entendia o porque de sentir mais raiva do que saudade. Ah! Voltei a sentir raiva dela. Às vezes pergunto-me se era amor, ou algo bem parecido, será que quem ama pode sentir tanta raiva assim? Tenho questionado muito isso ultimamente.

Eu tinha duas opções, ficar trancada em meu quarto remoendo minhas lembranças fatídicas, ou... Optei por reagir, era minha folga, e o Sol estava explodindo na janela como um convite para a vida. Vocês não teriam feito o mesmo? Liguei para o Guga, não o encontrei em casa, e o celular só caia na caixa de mensagens, Luiz estava cheio de trabalhos da faculdade para terminar, passaria todo o Sábado estudando, Amanda... Não! Amanda estava fora de cogitação. Tentei contato com alguns velhos amigos, uns estavam viajando, e outros não consegui nem notícias. Porque sempre que estamos deprimidos, tudo fica mais difícil? Será que hoje não é o meu dia? Não me intimidei, tomei um banho, coloquei camiseta, short e chinelo... Em dez minutos estava na praia de Copacabana. Caminhando na areia, tudo deveria ficar melhor, tanta gente bonita e feliz, acho até que elas eram bonitas porque pareciam felizes, mas que droga! Será que ninguém se sente como eu? – Pensei. Sei que é um pensamento egoísta, mas... É que... Pensei que, se talvez encontrasse pessoas tão solitária quanto eu, sem sorriso no rosto, meu pesar diminuiria, no entanto, acho mesmo que minha única companhia é o cigarro, por falar nisso, percebi que estou fumando como nunca, uma boa olhada envolta de mim... O telefone tocou antes que eu pudesse terminar meu raciocínio.

- Alô? – Disse.

- Cris, sou eu, Guga – Um silêncio – Preciso de ajuda – Tinha a voz trêmula.

- Em que furada se meteu desta vez? – Não preocupei-me com aquele suspense, ele sempre fazia isso, gostava de nos deixar preocupados para depois rir da nossa cara.

- Eu... Eu... Tô preso na favela – Disse hesitante.

- O que? – Logo fiquei aflita... Verdade ou não, isso era bem sério – Não me diga que mexeu com a mulher de alguém daí! Seu palhaço!

- Não...Não... É nada disso!- Disse gaguejando – Tô na Rocinha... Tô devendo uma grana na boca, entende? Se não pagar, os caras me apagam.

- O ... O que? – Sabe quando alguém toma uma pancada e fica atordoado? Exatamente assim que me senti naquele instante - Não acredito que está usando drogas! – Disse indignada e furiosa.

- Não estou, foi... Mas que merda! – Pensou por uns segundos - Aquela vadia da Luana me ferrou, a dívida é dela!

- Como assim te ferrou? – Não o deixei responder, não achei que aquela pergunta fosse necessária naquele instante – Quanto? – Disse.

- Três... Três mil... – Disse hesitante.

- Não tenho essa grana em casa, vou ter que falar com sua mãe, ela deve ter – Estava visivelmente aflita, saí da areia e sentei-me na cadeira de um quiosque.

- Não! Não Cris! Deixa ela fora disso, minha mãe me mata se souber- Disse desesperado.

- Droga! Hoje é Sábado, não tenho como levantar essa grana toda – Disse enquanto ouvia o choro desesperado de Guga do outro lado da linha. Tentei pensar em algo rápido, mas, não me veio nada na cabeça... Se eu falasse com meu pai, minha tia ficaria sabendo... Luiz não teria o dinheiro, banco? Não! Hoje é Sábado... Mas que droga! – Pensei – Mas que droga! – Disse.

- Cris, não me deixa aqui... Por favor... – Sussurrou, ele parecia não Ter forças pra falar.

- Calma – Disse tentando contornar a situação – Tô indo te buscar.

- Tô apavorado – Disse e desligou, ou desligaram, não sei.

...Passei em casa, peguei um dinheiro que estava guardado para uma eventual emergência, afinal de contas, concordam comigo que essa era uma emergência? Meu celular também valia algum dinheiro, e eu também tinha um cordão e uma pulseira de ouro que não eram de se descartar.





... Na entrada da favela, pisquei o farol duas vezes, como me foi informado perto dali. Confesso ter ficado ainda mais deprimida ao ver aquelas crianças com pistola e armamento pesado nas mãos, e na medida que eu subia a ladeira, os meninos passavam as características do veículo por um rádio comunicador.

- Quer bagulho tia? – Disse um moleque magricela.

- Onde é a boca? – Perguntei-lhe.

- Quer coisa grande, né? – Disse debochado – É só continuar subindo, lá no pé do morro, tá ligado? – Apontou o local.

- Obrigada – Mais uma olhada nos olhos daquele moleque, sabem o que eu vi? Nada! Não havia nada naquele olhar.

A sociedade e o governo fecham os olhos para isso, esse garoto podia ser meu filho, não deve ter nem oito anos, se estivesse na escola, não estaria empunhando uma arma como aquela, e o Guga, safado! Alimentando tudo isso, sim porque, quem compra sustenta esse desastre urbano, e eu, na medida que me propunha a quitar a dívida do meu primo, por tabela também estou alimentando, mas, não podia deixá-lo morrer lá dentro. Sabemos como esses caras cobram dívidas de drogas. Respirei fundo e segui em frente.





Lá estava ele, ainda aos prantos, roupas sujas, marcas de agressões nas pernas e nos braços, deve ter levado uma surra, olhei para os lados, que irônia, minutos atrás estava vendo a beleza das pessoas em Copacabana, agora, vendo toda essa gente, percebo que parecem feias porque devem estar tristes, e mesmo que não estejam, parecem estar. Damos tanta importância as aparências, e digo com certeza que agora, diante dessas pessoas aparentemente tão solitárias, sem sorriso no rosto, não sinto-me melhor como pensei que me sentiria. E meus problemas? O que são meus problemas diante de tudo isso?

Desci do carro, dei uma boa olhado ao meu redor... Haviam cinco homens perto de Guga, o mais baixo, com uma cicatriz no lado esquerdo do rosto veio até mim, tive a impressão de estar falando com o cabeça de tudo.

- Cadê a grana gata? – Disse, voz grossa, ele cheirava a álcool. Aquela hora da manhã e o cara cheirando a álcool.

- Eu vim negociar – Mantive um tom de voz firme, não queria ser intimidada.

- Se não tem a grana, vão ficar os dois deitadinhos nesse chão – Engatou a pistola – Se ligou? – Disse ríspido.

- Calma aí cara! Hoje é Sábado, não deu pra levantar todo o dinheiro, mas trouxe umas coisas pra trocar, e acho que vocês vão sair no lucro – Disse quase sem ar nos pulmões, tamanha era a minha apreensão. Quem disse que eu consegui manter a voz firme?

- Senta aí! – Continuou ríspido.

Sentei-me em uma pedra, mas ao fundo tinha um barraco de madeira cheio de homens jogando baralho, ouvimos gritos, e logo uma discussão se propagou, em seguida, um tiro foi disparado, logo outro... E outro... Fiquei assustada e muito chocada quando vi dois homens puxando um cara morto pelos pés, o mesmo encoberto de sangue... Senti vontade de vomitar, minhas pernas começaram a tremer, minhas mãos suaram frio, e a vontade de fugir dali era a mais latente que circulava dentro de mim. Cicatriz, como o caracterizei, sorriu, logo voltou a me olhar.

- Tem o que pra mim, gata? – Disse.

- Bem... – Gaguejei, na altura do campeonato, certeza era a única palavra que não estava no meu dicionário – Tenho oitocentos reais... Meu celular que está novo, tem um preço bom...E... E essa corrente de ouro – Tirei mortificada o objeto do pescoço.

- Só isso? É pouco! – Disse furioso. Ele levantou-se, colocou a pistola no elástico do short – É muito pouco – Completou.

- Tenho também essa pulseira de ouro – Mostrei-a para cicatriz, deixei-a por último devido ao valor sentimental, tinha ganhado de presente quando fiz dez anos, e fora o falecido pai de Guga quem me dera - Pra mim, não tem preço – Pensei – Tem bastante valor – Disse receosa

Cicatriz olhou os objetos, logo sorriu novamente, mesmo quando ele sorria, não deixava de nos intimidar, na verdade, aquele sorriso dava medo.

- Gosto de dinheiro vivo, entende? – Guardou o dinheiro no bolso – A dívida dele é grande, tem muito juros – Chamou um outro homem, esse era alto, forte, não tinha mais que vinte três anos - Leva ele lá pra dentro! – Disse com autoridade.

- Espera! – Desespere-me – Me dá um prazo até Segunda, eu trago o que falta.

- Sem prazo! Não me ouviu? Leva o moleque!– Gritou.

Guga gritava, seu desespero transformava sua fisionomia, nesse instante, também comecei a chorar, depois que nós vimos aquele homem ser morto dentro daquele local, imaginei que fariam o mesmo com Guga.

- Fica com o carro! – Disse numa última tentativa – Fica com o carro! – Repeti, tirando a chave do bolso do short... Minhas mãos estavam trêmulas... Deixei as chaves cair no chão de terra, estávamos num beco, não tinha asfalto, mais ao fundo um matagal... Cicatriz olhou-me indiferente... Nada adiantou, trancaram a porta. Fiquei imóvel, esperava apenas o barulho dos tiros, não os ouvi. Dez minutos depois, ouvi risos vindo do local, logo a porta se abriu e jogaram Guga para fora, estava vivo, mas parecia morto pra mim. Corri em sua direção.

- O que fizeram com você? – Disse assustada.

O mais alto dos cinco saíra do barraco também.

- Ele chupa igual uma putinha – Disse – Pode levar essa bichinha daqui.

Não dissemos uma só palavra durante todo o caminho até minha casa. Depois de tudo o que aconteceu, achei que Guga não seria mais o mesmo, e não me importava se ele havia mentido sobre a dívida de drogas, eu não passaria nenhum sermão que havia preparado antes de todo aquele incidente, e certamente, o silêncio que nos envolvia, selava aquele que seria o nosso segredo para sempre.





CONTINUA...







Capítulo 5: Festa?

(por Karina Dias , adicionado em 28 de Março de 2007)




Guga tomou um banho demorado, depois comeu um sanduíche de queijo que eu preparei, o refrigerante ajudava a descer pela garganta que tinha um nó, ainda estávamos em silêncio. O que eu iria dizer pra ele depois do ocorrido? Ele nem olhava-me nos olhos.

- Quer conversar? – Perguntei receosa.

No mesmo instante Guga começou a chorar, logo apoiou a cabeça no meu ombro. Senti muita pena dele, mas, não tinha palavras para consolá-lo, na verdade, eu também estava precisando ser consolada, fora uma tarde de horror, que espero jamais viver novamente. Tenho certeza que vocês também pensariam da mesma forma.



Na manhã seguinte, acordei com o telefone tocando, olhei para os lados, e Guga não estava. Atendi o telefone ainda sonolenta.

- Alô.

- Oi Cris. É o Luiz. Pensei que já tivesse saído de casa.

- Que horas são? – Perguntei preguiçosa.

- Onze e meia. Já estou na casa do Guga, e está rolando o maior churrasco.

- O Guga tá por aí?

- Chegou quase agora, e trouxe duas gatas incríveis, a Susy é linda! – Disse empolgado.

Podem acreditar nisso? Nem esfriou o ocorrido de ontem, e ele já estava se metendo com essas meninas novamente. Será que ele nunca vai tomar jeito? Tive vontade de contar tudo o que aconteceu para Luiz, na verdade, o que eu queria mesmo era matar meu primo com minhas próprias mãos. Se eu o pego agora... Juro que o mato. Tá, é mentira, mas... Estou chateada com ele, e isso me dá o direito de sonhar em matá-lo... Esquece, esganá-lo fica melhor.

Em menos de meia hora eu já estava na casa de Guga, e lá estava ele, à beira da piscina, como se nada tivesse acontecido, aos beijos e abraços com Luana. Ele não tem vergonha?

- Oi Cris! Quer cerveja? – Disse logo que me viu, sorridente como sempre.

- Seu maluco! Ainda tem coragem de andar com essa garota? – Fitei-o aborrecida.

- Calma aí Cris! Ela estava sendo chantageada por aqueles caras.

- Você é um mentiroso! Eu devia te entregar – Disse furiosa – Droga! Nós vimos um cara morrer, você quase levou um tiro bem no meio da testa – Nossa! Eu tinha mesmo dito aquilo?

Meu primo puxou-me para um canto mais afastado das pessoas, demos a volta na piscina... Ele receoso que alguém nos ouvisse. Nunca o tinha visto tão sério.

- O que você quer que eu faça? Quer que eu fique chorando pelos cantos, remoendo essa desgraça toda? Ou prefere me ver reagir e tocar a vida pra frente? porque é o que estou tentando fazer! – Fitou-me pensativo, logo retomou às falas – Eu estou vivo, e de hoje em diante, não passo nem perto de drogas, e se quer saber, eu menti, a Luana não tem nada a ver com isso.

- Que merda Guga!

- Agora eu tô limpo Cris, olha pra mim! – Segurou meus braços – Me dá uma chance, não conta pra ninguém, eu vou te pagar, prometo.

- Não é pelo dinheiro! – Disse irritada – Não quero te ver metido nessa furada. Eu te amo da mesma forma que amo o Luiz, não quero que estrague a sua vida.

- Eu sei, então me dá essa chance – Disse, enquanto tentava encerrar aquela conversa.

Antes que eu pudesse dizer-lhe outras palavras, Amanda aproximou-se de nós com uma amiga, bom... Não dava mesmo para continuarmos nossa conversa, não diante... Dela! Meu Deus! Pensei que essas coisas só acontecessem em filmes, sabem aqueles romances água com açúcar que a gente assiste nas tardes durante a semana? Meio estranho dizer, nunca tinha passado por isso na minha vida, eu olhei pra menina, e não consegui ver mais ninguém ao meu redor, olhei bem fixo nos olhos dela, e fiquei desconcertada com as sensações que meu corpo sentiu... Devia ser desejo! Só pode, a amiguinha de Amanda era... – Linda! – Pensei – Eu devia ter dito gostosa, porque eu não disse? - Diante dela, nós ficamos totalmente... Hipnotizados, isso! Hipnotizados seria a palavra perfeita para descrever aquele momento

- Oi gente? – Disse Amanda notando nosso... Fascínio.

- Oi – Dissemos ao mesmo tempo. Dois bobos, podem ter certeza.

- Essa é a Natasha – Virou-se para a menina – Minha irmã Cris, e meu primo Guga – Apresentou-nos.

Fiquei admirada com a beleza daquela garota, Natasha tinha a pela mais alva que meus olhos já viram, tinha cabelos e olhos tão negros quanto a noite, e seus olhos exibiam um mistério difícil de se encontrar, sua boca parecia ser deliciosa, na verdade, eram os lábios mais perfeitos que já vira em toda minha vida, e a menina exibia um decote que mal dava para disfarçar o olhar, e sem falar no cheiro dela, dava pra sentir a km de distância aquele cheiro suave que exalava da sua pele.

- Oi – Disse ela, beijou-nos no rosto... Amanda puxou-a pelas mãos. Às duas caminharam até a cozinha, meus olhos também as acompanharam.De onde nós estávamos, dava pra ver toda a movimentação dentro da cozinha. Sem educação essa minha irmã, né? Foi puxando a menina, nem deu tempo de dizer “tchau”, só um aceno com às mãos. Vendo-a de costas, não pude deixar de notar aquelas formas perfeitas. – Uau! –pensei – Essa mulher saiu da onde? Dos meus sonhos? – Continuei pensando.

- Cris, tô apaixonado – Disse, enquanto apoiava a mão no meu ombro

- Deixa de ser ridículo, cara! – Tirei a mão dele de cima de mim.

- Sério, não é todo dia que eu esbarro com um avião desses.

- Ainda mais medindo um e setenta de altura, né? – Sorri, eu também estava atordoada com a presença dela.

Guga olhou-me com um “?” na testa.

- Como sabe que ela tem essa altura?

- Eu não sei, imagino que tenha – Disse.

- Vai lá! Fala que eu estou afim dela – Disse empurrando-me.

- O que? Porque você não vai lá falar com ela? – Disse indignada – Me solta, cara!

- Tô com medo de levar um fora daqueles – Ele riu – Eu com medo, pode?

- Azar o seu. Eu não vou falar com ela – Disse convicta.

- Não se esqueça que a Susy está aqui, e foi eu quem te proporcionou aquela noite – Sorriu – Ela está afim de ficar com você novamente.

- Não vou falar com a garota, está bem? E se quer saber, também não quero ficar com a Susy – Disse contrariada – Nem com ela, nem com ninguém.

- Está bem, não quer me ajudar, não ajuda. Eu mesmo vou falar com ela – Disse e saiu pisando forte.

Continuei olhando Natasha na cozinha – Natasha – Pensei – Esse nome combina com ela, ela tem cara de Natasha – Sorri, essas palavras continuaram no meu pensamento... Nem notara a presença de Susy, na verdade, notei quando percebi que meu sorriso despontava mais do que eu queria nos meus lábios.

- Acorda! Estou falando com você – Disse ela.

- Desculpa, o que disse?

- Disse que podíamos fugir para o seu “ap”, agora sem o compromisso de patrão e empregado, entende? – Fitou-me da cabeça aos pés, mordeu os lábios.

- Não é uma boa hora, pra ser sincera, não quero estar com ninguém nesse momento – Disfarcei, olhei novamente em direção a Natasha. Pronto agora vou ficar querendo repetir o nome dela o tempo todo... Natasha, Natasha, Natasha...

- Você disse algo bem parecido na Quinta-feira, mas, nós ficamos.

- Dá licença, vou tomar água – Disse fugindo daquele olhar, logo saí de perto dela. Mulher Demônio, né? Dá medo.

Guga parou-me ainda na porta.

- Não consigo! – Disse.

- Não consegue o que? – Eu estava literalmente de saco cheio daquela cara de babaca que ele estava exibindo naquele dia.

- Falar com ela – Pôs a mão no meu ombro – Quebra o galho Cris, fala que eu estou querendo ficar com ela, você é boa nisso... Eu estou sem assunto – olhou-me com tristeza – Por favor – Disse com aquela cara de cachorro sem dono.

Pow! Cheio de dedos só para falar com uma menina? Será que o que aconteceu ontem acabou de vez com a sua alto estima?

Acabei cedendo as lamentações de Guga, detesto ouvir frases repetitivas, na verdade, sem hipocrisia, pra vocês eu conto... Eu queria mesmo falar com Natasha. Respirei fundo. Aproximei-me...



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Capítulo 6: coragem

(por Karina Dias , adicionado em 29 de Março de 2007)




A menina estava sentada na varanda, não haviam muitas pessoas naquela parte da casa, todos preferiam ficar próximos a piscina e a churrasqueira, era lá também que o som estava alto... Amanda havia deixado-a para pegar cerveja. Porque minhas mãos estavam suando frio? Era só uma menina... Ela estava de costas pra mim, toquei levemente o seu ombro, ela virou-se...

- Oi – Disse confusa... E... Tímida? Acho que sim, quanto eu vi aqueles olhos mais de perto... Senti um nó na garganta horrível.

- Oi – Disse, logo olhou-me curiosa.

Ei! Eu estava completamente constrangida diante dela, tanto quanto Guga fiquei sem palavras. Com cara de babaca? Será que isso pega? Ela não devia ter me deixado daquele jeito, acabamos de nos conhecer.

- Bom...Posso me sentar um minuto? – Continuei receosa, boca seca... Nevosa...

- Claro – Disse receptiva.

- Bom... – Puxei uma cadeira... Sentei-me quase ao seu lado.

- Você já disse isso – Fitou-me sorridente.

- É que...

- É que... – Sorriu novamente.

Seu sorriso era encantador, tinha uma luz que não se pode comparar com nenhuma outra, era algo extremamente angelical, e... Sedutor! Nossa! Como aquele sorriso combinava com aquele rostinho de anjo.

- É que... O meu primo... – Gaguejei, será que era porque eu não queria falar do Guga? E aqueles olhos... O que tinha naqueles olhos que me deixava tão desprotegida? Nesse instante, olhei pra trás...

- Não acredito, Cris! – Disse aborrecida – Você vai cantar a minha amiga, é sério? – Minha irmazinha apoiou a bebida na mesa, cruzou os braços e bateu o pé... Ela sempre faz isso quando está aborrecida. Menina mimada, sabem?

- Calma aí Amanda! Não estou cantando ninguém – Disse também aborrecida, logo levantei-me, não deu tempo nem de esquentar a cadeira.

- Vamos Naty – Puxou a menina – Vamos beber a nossa cerveja em outro lugar – Disse.

Naquele momento, senti vontade de esganar a minha irmã. Porque ela tinha que levar a menina embora dali? Mas que metida! Não demorou nem dois minutos para o Guga vir até mim... Pronto, já veio encher a minha paciência – Pensei.

- Falou com ela? – Disse ansioso.

- Não deu, a Amanda achou que eu tivesse dando em cima dela.

- E estava? – Disse aborrecido.

- Não! Claro que não. Vê se não me enche mais, tá legal? – Empurrei-o e saí.

A sala era o único lugar quieto da casa, fechei às janelas e encostei a porta para sufocar os ruídos que ainda teimavam em me atormentar. Liguei a tv. Hoje o dia estava bem... Complicado! Mas, será possível! – Pensei, enquanto olhava para Luiz que parou na minha frente com uma cara de... De... Trouxa!

- Cris – Disse – Você não vai acreditar!

- Não vou acreditar em que Luiz? – Disse entediada.

- Ainda bem que está sentada – Sorriu - A Susy é garota de programa.

- Eu sei, com duzentos reais você come ela – Continuei indiferente, fiz um gesto pra ele sair de frente da TV. Comecei a mudar de canais com o controle remoto...

- Ela me cobrou trezentos – Pensou por uns segundos – Saquei! Foi com ela que você estava na Quinta-feira – Sentou-se ao meu lado – Vamos, me conta mais detalhes...

- Será que pode me deixar em paz?! – Aumentei o volume da TV.

- Nossa! Que bicho te mordeu? – Olhou-me confuso – Que mau humor infernal.

- Putz! Quero ficar sozinha, posso?

- Tchau – Disse e saiu apressado, bateu a porta ao fechá-la.

Afundei minhas costas no sofá... Nada parecia ter sentido para mim, Guga continuava o mesmo, enquanto uma nuvem negra rondava a minha cabeça, o barulho dos tiros, o cara morto sendo arrastado pelos pés, Guga saindo daquele barraco... Pra piorar ainda mais o meu estado de espírito, meu irmão queria dormir com a garota que eu transei, e eu estava completamente encantada por Natasha, a garota que meu primo queria ficar. Esse mundo está ficando louco mesmo, ou sou eu quem estou ultrapassada? Balancei a cabeça no sentido negativo... Fechei os olhos... Aspirei o ar que perpetuava o ambiente, senti um perfume gostoso circular, olhei para trás...

- Ora, ora... Fugindo do tumulto? – Disse aproximando-se – Posso sentar?

- Claro – Olhei-a desconcertada – Ah! Só para constar, eu não estava te cantando.

- Eu sei – Sorriu – Estava tentando falar sobre o seu primo.

- Como sabe?

- Ele veio falar comigo, e me desculpa, mas... Ele é um idiota – Disse com um sorriso tímido no canto dos lábios. Fitei-a mais de perto...

- Não se importa por eu ser...

- Porque me importaria? Você não está me cantando, está? – Sorriu, um sorriso digno de Natasha, sua face iluminava quando ela sorria daquele jeito, seus olhos se fechavam um pouco, e... Era encantador.

Natasha parecia ser divertida, seu bom humor conseguiu fazer-me esquecer a nuvem negra que rondava a minha cabeça.

- É, não estou mesmo – Sorri também, um sorriso tímido, mas, já era alguma coisa – De onde conhece Amanda? – Perceberam que eu queria puxar conversa, né? Que bom.

- Nos conhecemos na faculdade, comecei a duas semanas no curso de cinema, ela tem me ajudado bastante, estou um pouco perdida.

- Já trabalha com cinema?

- Não, na verdade não gosto muito de falar do meu trabalho, é algo que faço só para me dar prazer, é um hobby, sem fins lucrativos mesmo – Disse.

- Estranho não gostar de falar do trabalho, não é algo ilícito, é? – Que besta! Ela disse sem fins lucrativos – Pensei - Eu tô só brincando – Completei.

- Não é nada ilícito, fique tranquila – Disse animada.

- Você não parece ser infantil como as outras amigas da Amanda – Mais uma mancada, putz! De onde veio essa pergunta? Sempre segui a seguinte opinião: “não tem o que dizer, fica quieto”. Então, porque eu não calava a boca?

- Dezenove – Disse

- O que?

- Tenho dezenove anos... Deixa eu ver... – Pensou por uns segundos - Ah sim, moro com meus pais ainda, tenho um cachorro de estimação, mas, queria mesmo uma cobra... – Sorriu – Brincadeira – Disse – Minha mãe me mataria se eu levasse uma cobra para dentro de casa.

- Você está falando sério? É muito estranho alguém ter uma cobra como bicho de estimação – Balancei a cabeça, logo sorri – Isso só pode ser uma piada, não é?

- Não é uma piada, uma vez, viajei para o Maranhão e conheci uma amiga de uma prima minha que tinha uma cobra de estimação. Goste da idéia, achei... Extravagante – Sorriu, deve ter sorrido da minha cara de espanto - Mas... E você?

- Não tenho vontade de criar cobras, se quer saber.

- Eu sei – Ela não parava de rir, será que era a cerveja, ou a companhia literalmente hilariante? – Quantos anos tem?

- Eu? Bom... Eu tenho vinte cinco anos, não moro com os meus pais, tenho cachorro, papagaio e um gato.

- Tudo isso no apartamento?

- Como sabe que moro em apartamento? – Disse curiosa.

- Sua irmã disse, e ela falou também que o cachorro, o gato e o papagaio são da sua mãe.

- São da família.

Nós rimos. Deu pra perceber que a menina tinha um humor sofisticado.

- Acho que vou voltar lá pra fora – Disse – Vim só pegar uma cerveja – Mostrou-me duas latas de bebida - Se não, daqui a pouco sua irmã entra por aquela porta, e diz que você está me cantando, ou pior, que está me violentando.

- Fique tranquila, eu não te cantaria.

- Porque? Sou tão feia assim? – Disse extrovertida.

- Feia? Jamais! – Sorri também – Você iria gostar se eu te cantasse?

- Não, mas, gostei de conversar com você – Levantou-se, olhou para as suas mãos ocupadas, piscou o olho e saiu, aquilo havia sido um “tchau”?



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Capítulo 7: Nem tudo é o que parece

(por Karina Dias , adicionado em 30 de Março de 2007)




Ganhei o dia! Conversar com aquele monumento de mulher, fora a coisa mais prazerosa que pude usufruir nos últimos tempos, Guga tinha razão, um avião como este não se pode ver todos os dias. Não consegui mais ficar sozinha na sala, preferi enfrentar o barulho lá fora mesmo. Fiquei olhando Natasha de longe, de vez em quando ela até desviava o olhar em minha direção, sempre com a certeza de que eu estava observando-a, na maioria das vezes ela mexia no cabelo, e exibia um sorriso saliente no canto dos lábios, esse tipo de provocação me deixa louca... Nossa! Ela estava me deixando louca... Às horas foram passando, e eu ainda estava ali, sem conseguir piscar os olhos diante dela, na verdade, eu nem vi às horas passarem. Olhei pro relógio lá pelas dez da noite, quando Natasha começou a dançar com o Guga. Ao segundo olhar, percebi que o clima entre eles estava mudando... Tenho que confessar... Bastou isso para tudo voltar ao normal dentro de mim, a mesma nuvem negra sobre a minha cabeça, só que diferente, mais pesada e extensa, o beijo que os vi trocarem, apenas confirmou o que já deixava sinais. Não pensei duas vezes, apressei os passos, dei a volta na piscina... Destranquei o portão com agilidade, e já estava dando a partida no carro quando alguém bateu no vidro. Eu nem pensei no que iriam achar por eu ter saído daquele jeito da festa. Eu estava confusa demais para raciocinar.

- Não vai se despedir, mal educada? – Disse séria.

- Mudou de idéia muito rápido, pensei ter ouvido dizer que ele é um idiota – Disse irônica.

- Não sei porque está tão magoada, você disse que não me cantaria.

- Claro, você disse que não iria gostar de ser cantada por mim.

- Eu não sirvo pra você Cris, desencana – Continuou séria.

- Porque ria quando sabia que eu estava te olhando? – Disse ainda mais confusa.

- Porque nunca ninguém me olhou como você - Nesse instante eu vi seus olhos mais vivos, mais negros, mais brilhantes... Olhos de Natasha, só ela tinha aquele olhar, um olhar que me deixava, sem ter o que pensar.

- Chega desse papo – Liguei o carro – Pra mim, essa festa já deu o que tinha que dar - Pisei fundo no acelerador, hesitei em olhar pra trás, mas não resisti – É muito linda! – Pensei. Logo o meu desapontamento fora maior do que aquele pensamento... Tentei desvincular-me da imagem de Natasha a noite inteira, noite essa que passei em claro, bom gente... Uma xícara de café não tem todo esse poder, mas, Natasha certamente tinha. Nessa altura, ela poderia estar na cama do meu primo, tá certo que ela não parece ser esse tipo de garota, que dorme com o cara no primeiro encontro, mas, eu estava tão deprimida, que podia vê-los naquelas circunstâncias. Será que ela podia mesmo estar na cama dele? Afundei minha cabeça no travesseiro... Isso era ridículo, não era? Podem dizer, eu agüento... Eu tinha prometido que depois de Aline, não me envolveria sentimentalmente com mais ninguém, muito menos com uma... Uma... Pirralha de dezenove anos? Mas que loucura! Como posso estar pensando em sentimento? Acabei de conhecer a menina... Logo que consegui mandar aquelas imaginações embora, veio em minha cabeça novamente as lembranças daquele homem morto na favela, o ocorrido com Guga... Senti vontade de vomitar novamente, um gosto amargo na boca... Se quer discutimos esse assunto hoje. Parece que acabamos de acordar de um pesadelo, isso será sempre uma sombra em nossas vidas, não dá para sermos indiferentes ao que vivemos, toda vez que eu olhar uma favela como aquela, lembrarei de tudo, do sofrimento daquelas pessoas que abrem suas janelas, e dão de cara com aquele mundo de descaso e insegurança, e também daqueles que não conseguem se livrar da escravidão do vício das drogas, e morrem por isso, ou são aprisionados para sempre naquele sofrimento, espero que Guga não seja mais um...



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Capítulo 8: Uma grande matéria

(por Karina Dias , adicionado em 31 de Março de 2007)






Quando cheguei na Faculdade, estava aquele rebuliço, fomos divididos em grupos, e tínhamos que conseguir uma matéria, tema livre... Discutimos o assunto, e chegamos a conclusão de que queríamos fazer um trabalho maduro, não só um trabalho para ganhar nota, e sim algo que pudesse representar crescimento, tanto em nós, futuros jornalistas formadores de opiniões e cidadãos, mas também para às pessoas que veriam e comentariam nosso trabalho, queríamos chocar, deixar um marco em nossa passagem pela faculdade, e sem falar que a melhor matéria teria um destaque em um dos jornais locais mais lidos da cidade, o Folha Branca, um jornal sério, e o sonho de qualquer jornalista, os mais consagrados, ou já haviam passado por lá, ou simplesmente estavam lá, e se não bastasse isso, a melhor matéria passaria na tv. Podem imaginar como isso seria significativo? Ou melhor, o pontapé inicial da carreira de qualquer um de nós. Pensar nessa possibilidade renovou minhas expectativas, ao menos o lado profissional tinha chances de se dar bem, concordam comigo que minha vida até o dado momento está uma merda? Desculpem a “expressão merda”. Sabia que vocês iriam me compreender. Bom... Na primeira reunião estávamos os quatro, eu, Vitor que era o mais falante de todos, magro, alto, cabelos ralos, já despontando uma pequena calvície, apesar dos seus vinte quatro anos, Janice, uma menina sensacional, alegre e expontânea, apenas não queria entrar em atrito com ninguém, o que decidíssemos, para ela estaria bom, embora nenhum de nós tivesse a mínima idéia do que iríamos fazer. Janice tinha uma face brilhante e rosada, e estava bem acima do seu peso, mas, isso não a incomodava, estava sempre bem humorada, diferente de outras pessoas que conheço, que simplesmente não se aceitam e por isso estão sempre insatisfeitas com tudo. Esse povo parece que não sabe viver... Bom, Anselmo era o mais cabeça dura de nós quatro, ele tem trinta e dois anos, cabelos grisalhos, magro, alto... Gênio difícil, autoritário e inflexível. Barba sempre bem feita, roupas sempre alinhadas, tinha até uma pasta de couro de Jacaré legítimo.

- E então meu povo? – Disse Vitor fazendo a mesa de tambor.

- Pára de bater na mesa... – Ergueu às sobrancelhas irritado - Acho que devemos fazer a matéria sobre animais em extinção – Disse Anselmo convicto.

Foi inevitável. Dei uma nova olhada na sua pasta. Sorri por entre os dentes.

- Não acho uma boa idéia – Disse.

- O que vocês decidirem, pra mim, está bom – Disse Janice, como já era de se esperar.

- Podíamos fazer uma matéria sobre esportes radicais, ou sobre a “night”... Mulheres, os bares mais populares... Baladas! Boates... – Disse Vitor empolgado.

- Vocês são muito teimosos – Disse Anselmo aborrecido – Vamos falar sobre os animais em extinção, atingiremos o alvo certo, mulheres e crianças, é sucesso garantido, podem apostar – Concluiu empolgado.

- Nós temos que bolar algo mais chocante – Disse pensativa – Algo maior, que façam as pessoas pensarem, que influencie nossas vidas de alguma forma... Tá certo que falar de animais em extinção é uma boa idéia, é um absurdo mesmo não preservar os animais... Esportes radicais também daria uma matéria interessante, mas... Acho que podemos ousar mais.

- Então o que sugere, dona sabe tudo? – Disse Anselmo sarcástico.

- Penso que... – Lembrei-me de tudo o que aconteceu comigo e com Guga na Rocinha... Senti um frio na barriga, contudo, meus pensamentos foram mais além do que aquele terror vivido, pensei nas conseqüências, no entanto, pensei mais ainda nos benefícios - Podemos subir o morro – Disse - Mostrar a realidade do subúrbio, o crime e seus escravos, a falta de oportunidade e seus herdeiros, a miséria em um todo, e a hipocrisia... Gente, somos futuros jornalistas, naturalmente formadores de opiniões... Hoje nós vivemos numa guerra urbana e quanto mais pudermos mostrar isso, é como arregaçar às mangas e ir a luta... Podemos conseguir uma boa matéria, e por tabela vamos jogar mais uma vez na cara da sociedade e dos nossos governantes esse caos em que vivemos.

- Belas palavras Cris – Disse Vitor – Tô fora! Não vou me arriscar dessa maneira.

Se eu tivesse pensado como Vitor, não teria tirado Guga de lá.

- Ninguém vai querer se meter dentro da favela, menina! – Concluiu Anselmo – Nem estamos ganhando pra isso..

- Que raio de jornalistas serão vocês? Se eu não puder usar a minha profissão para retratar assuntos que atinjam diretamente a sociedade, eu não quero me formar... Não tô ralando na faculdade pra cobrir a coluna de esportes – Disse inconformada com a covardia deles.

- Concordo! – Disse Janice que estava pensativa até o momento – Eu vou, Cris! Pode ser uma experiência legal.

Confesso ter me surpreendido com Janice. Nunca sabemos mesmo o que esperar de uma pessoa.

- Então... – Anselmo continuou inflexível – Vocês duas fazem a matéria das favelas, eu e Vitor, cobrimos os animais em extinção.

- Somos um grupo, temos que chegar a um consenso – Fitei-o aborrecida, cara individualista.

- Espera! – Disse Vitor enquanto descia da mesa em que estava sentado - Prefiro a favela, posso editar as informações que vocês colherem – Respirou fundo – Admito, sou um covarde! - Disse – Favelas têm tiroteios o tempo todo... Polícia querendo invadir, facções rivais tentando tomar o controle da venda de drogas... Agora tem até milícia tentando tomar o poder – Respirou fundo novamente – Vou me sentir melhor cobrindo a coluna de esportes.

- Covardes vivem mais – Pensei, enquanto lembrava do meu ato insano de falso heroísmo, até agora questiono-me de onde viera tanta coragem para ir direto na “boca”, na verdade, estava tão absorvida na preocupação com Guga, que ceguei-me. Duvido que vocês não teriam feito o mesmo, Guga é como um irmão pra mim. E também, gosto não se discute, eu pelo menos não iria chegar perto da coluna de esportes... Gosto do jornalismo investigativo.

Como Anselmo não nos deu outra alternativa, decidimos que nós três faríamos a matéria na favela, e ele, se propôs a fazer sozinho sua cobertura sobre animais em extinção. Eu disse individualista, não disse?

O primeiro passo seria escolher o local para às pesquisas, não cogitei a possibilidade de ser na Rocinha, lá seria o último lugar onde eu gostaria de ir, pelo menos por enquanto. Trauma, sabe?

Vocês devem estar se perguntando: e a Natasha? Não pensou nela? Pensei... Cada vez que eu fechei meus olhos, veio a fisionomia daquela menina na minha frente... Posso afirmar, que mesmo em meio a toda essa discussão sobre “uma boa matéria”, fechei os olhos muitas vezes, no entanto, tentei buscar forças para concentrar-me em algo que não tivesse ligado a ela.



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Capítulo 9: Surpresas

(por Karina Dias , adicionado em 2 de Abril de 2007)






Já passava das oito da noite quando cheguei na casa da minha mãe, resolvi no caminho mesmo que hoje faria uma visita, muito tempo não fazia isso, na verdade, eu queria estar perto das pessoas que amo para exorcizar certos fantasmas que me rondam, sempre pensei desta forma. Carinho de papai e mamãe nunca são demais. Péssima idéia, Porque? Simples, Amanda estava lá com Natasha. No mesmo instante, tive vontade de dar meia volta e ir embora, ir ou não ir? Fiquei naquela indecisão... Mas, logo pensei que minha mãe se zangaria, se zangaria? Na verdade... Acho que vocês perceberam que isso era uma desculpa para não admitir que aquela garota me fascinava tanto, que eu queria ao menos poder olhá-la, tá bom, admito, sou um fracasso para desculpas. Fiquei parada na entrada da porta da sala por alguns segundos, às luzes estavam apagadas, o ambiente ficara acolhedor com a claridade que vinha da televisão... Elas nem se deram conta de que eu estava ali. Duas batidinhas na porta pra fazer barulho, nesse momento as duas desviaram a atenção para mim... Amanda sorriu, Natasha fiou séria, digo, continuou séria.

- Olá! – Cumprimentei-as.

- Oi Cris – Disse ela quase num sussurro. Também estava surpresa ao me ver.

- Senta aí, mana – Disse – O filme é bem legal.

Sentei-me ao lado de Natasha, acendi um cigarro, no entanto, apaguei-o antes que Amanda reclamasse. Conhecendo minha maninha como eu conhecia... Ela era chata, digo, mimada... Ah!Tem diferença?

- Não foi a faculdade? – Disse ela com um risinho debochado no canto dos lábios ao ver que eu apaguei o cigarro.

- Saí mais cedo... Prova, sabe? – Olhei para Natasha de rabo de olho.

Amanda levantou-se...

- Vou pegar pipoca e refrigerante – Disse e saiu. Três segundos de silêncio...

- Você foi muito grosseira ontem – Disse a menina aproveitando a ausência de minha irmã – Infantil também – Concluiu.

- Você foi muito dissimulada – Dei uma olhada em direção ao corredor, pra ver se Amanda não estaria por alí.

- O Que? – Disse indignada.

- Dissimulada sim, uma hora diz que o Guga é um idiota – Disse inevitavelmente com rancor nos olhos – Em outra, está com a língua dentro da boca dele – Virei-me de fronte para a menina, a pouca luz no ambiente não me deixava ver seus olhos com nitidez, no entanto, quando um fio de luz clareava o rosto dela, parecia o flash de uma máquina fotográfica, os gestos que eu conseguia ver, ficavam registrados na minha memória como uma fotografia num álbum, os álbuns têm esse poder, conseguem parar o tempo, fotografe uma folha caindo de uma árvore, e ela jamais tocará o chão, consequentemente nunca morrerá, e era exatamente o que eu queria fazer, parar o tempo, meus olhos jamais se cansariam de vê-la.

- Está sendo grosseira novamente, e estúpida também – Disse ainda mais aborrecida.

- Natasha, esse papo não vai nos levar a lugar algum, eu te conheci ontem, e o que você faz da sua vida é problema seu, só que... Esquece.

- Só que... Você queria sair comigo, e eu sai com o seu primo – Disse irônica.

- Pretensão é o seu forte?- Disse sarcástica.

- Não – Fitou-me debochada – Sou realista, só está chateada porque te tratei como trato todas às pessoas, sem diferenças, mas, talvez, você não esteja acostumada com isso, ficou frustrada, achou que eu estava te dando condições pra me cantar, só que não estava Cris, não mesmo, e se quer saber, seu primo é bem interessante.

Senti o sangue subir para a minha cabeça.

- Você realmente é muito pretensiosa – Sorri irônica – Mas, tem razão, eu queria ter ficado contigo mesmo, senti muita vontade de trepar com você, mas é só isso, você é o tipo de mulher que eu gostaria de comer, só de comer – Frisei bastante a última frase. Acho que ela não gostou muito, também, né? Nenhuma mulher iria gostar de ouvir isso.

Confesso que... Minhas palavras doeram mais em mim, do que nela. Pela primeira vez em minha vida levei um tapa na cara de alguém, eu não disse que doeu mais em mim? Bom... Ainda assim, não consegui sentir raiva de Natasha, o que realmente estava ferindo-me por dentro, foi tê-la visto aos beijos com Guga, e também ter ouvido dos lábios dela palavras tão duras. Queria irritá-la, e não conseguia sufocar o desejo que exalava dos meus poros quando eu olhava pra ela, num impulso, segurei seus braços, e num impulso ainda maior, ou vontade, sei lá! Era mais forte do que eu... Dei-lhe um beijo na boca, senti sua língua macia tocar os meus lábios numa tentativa fracassada de dizer algo, a minha logo entrou dentro da sua boca, puxei-a um pouco mais para junto de mim, não larguei seus braços... Seus seios rígidos encostaram nos meus, me fazendo tremer de desejo, fiquei molhada na hora... Aos poucos seus lábios cansaram da resistência, e sua língua ousou tocar na minha... Foi coisa de menos de um minuto, sabem? Mas... Eu não trocaria aquele “quase um minuto” por nada deste mundo. Nunca em minha vida tinha sido tão ousada, e fiquei perplexa por não ter sentido nenhum remorso por esse ato tão inusitado, seus lábios eram exatamente como imaginei, deliciosos.

- Sua idiota! – Disse com aquele olhar furioso.

- Acho que você gosta de beijar idiotas – Ainda podia sentir o seu hálito no meu rosto - Sua boca é muito gostosa – Sussurrei, logo dei-lhe um outro beijo de leve nos lábios. Aqueles beijos roubados, sabem?

- Sua idiota! – Repetiu.

- Você já disse isso – Fitei-a com irônia, e completamente maravilhada com o gosto daquela boca.

- Estou namorando o seu primo – Disse ela num impulso.

- Namorando? Pensei que... – Soltei-lhe os braços.

Assim que me levantei, Guga entrou na sala abraçado com Amanda. Meu santo é forte, viram? Ainda bem que eu já tinha soltado a... Namorada dele? Foi isso o que eu ouvi? Ela disse isso mesmo?

- Fala aê Cris! - Ascendeu a luz da sala, em seguida deu-me um tapinha cordial nas costas, logo um beijo em Natasha. Será que eu estava pagando todos os meus pecados de uma vez só? Que injustiça! – Pensei. Agora pude ver os olhos da menina, aqueles lindos olhos negros estavam carregados de receios.

Fiquei sem palavras, foi uma péssima surpresa.

- Oi Guga – Cumprimentei-o encabulada – Já estou... De saída – Completei meio desconcertada.

- Acabei de chegar! Vamos tomar uma cerveja – Puxou-me pelo braço...

- Não posso – Evitei fitá-lo nos olhos – Não posso mesmo – Repeti quase sem forças, ainda podia sentir o gosto dos lábios de Natasha na minha boca, agora, além de doce estava com sabor de proibido também.

- Cris, a mamãe está te esperando pro jantar – Disse Amanda – Ela saiu com o papai, mas já está chegando, e eu falei que você estava aqui.

- É... Mas... Tenho um compromisso urgente... Não... Posso desmarcar – Disse insegura, com vontade de sair correndo dali... Já sentiram essa vontade? É algo extremamente desconfortável, vai subindo um desespero pelo corpo todo, a gente não consegue ficar parado no mesmo lugar, fica mexendo nas coisas, andando de um lado pro outro...

Guga sorriu.

- Aposto que esse compromisso tem nome, Susy, não é? – Disse animado, um novo tapinha nas minhas costas.

- Faculdade – Disse enquanto tirava um cigarro da carteira, olhei para Amanda, desisti de acendê-lo – É a única coisa boa que tenho na vida.

- Credo Cris! – Fitou-me Amanda, reprovando meu ar desânimo – A sua família não é nada pra você? Devia esquecer logo essa Aline.

- Aline? – Fitei-a confusa – Que Aline? – Pensei por uns segundos - Ah! Aline...

Guga sorriu novamente.

- Não sabia que tinha outra mulher na jogada. Não vai me falar quem é? – Roubou o cigarro que estava na minha mão, logo ficou fingindo que iria acendê-lo, ele gostava de irritar minha irmã. Pareciam duas crianças.

- Você não vai gostar de saber – Pensei - Não tem mulher nenhuma – Olhei para Natasha – Só estou... Cansada mesmo – Disse – Meu Deus! Porque ela tem que ser tão... Linda? – Pensei.

- Pois devia ter uma mulher – Disse – Assim iria parar de esquentar tanto a cabeça com faculdade – Tornou a beijar Natasha, um beijo rápido nos lábios, e pensar que eu tinha acabado de sentir o gosto bom daqueles lábios... Não! Eu juro que não joguei pedra na cruz! – Minha namorada não é linda? – Continuou exibido.

- Linda! – Pensei – Bonitinha – Disse, na verdade, nem sei se eu disse. Eu estava confusa, droga! Perdida, alienada... Não sabia mais distinguir o que eu disse do que eu pensei.



Não jantei com eles, fiquei rodando de carro pela cidade, afim de digerir às últimas notícias...Já passava da meia noite quando cheguei em casa, larguei-me no sofá e liguei a TV... “ ...O tráfico de drogas na favela da Roc... “ – Mudei de canal – “ ...Está sendo transferido para a penitenciaria de segurança máxima Bangú 1...” – Mão no controle remoto de novo – “ ...Mais uma vítima de bala perdida...” – Desisto! – Gritei! A pilha do controle remoto devia estar fraca... Levantei-me e desliguei na própria TV, depois fui tomar banho pra tentar dormir – Que tédio! É assim que quer ser jornalista, D. Cristina? Não suporta ver uma reportagem na TV... Minha monografia? “ Jornalismo investigativo...” – Pensei.



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Capítulo 10: A proposta

(por Karina Dias , adicionado em 5 de Abril de 2007)




A semana seguiu péssima para mim... Na faculdade, não tiramos o projeto da gaveta, todos esperavam por uma definição de onde faríamos a matéria, eu na verdade, estava morrendo de medo do que iríamos encontrar nas favelas, já disse a vocês que estou traumatizada? Então, desculpa.... No trabalho, meu rendimento caíra bastante, pra ser mais exata, meu rendimento há tempos não era mais o mesmo. Poxa! Uma porrada quase todo dia! Ninguém agüenta... Meu pai chamou-me para conversarmos duas vezes, e eu disse sempre a mesma coisa, que estava muito pressionada na faculdade, ainda não tinha me acostumado com a falta de Aline... Isso é mentira, mas, ele não precisa saber... E também que eu estava doente, doente? Dores profundas no coração e na alma...

Fiquei quase duas semanas sem atender os telefonemas de Guga, claro! Ele só queria falar sobre Natasha por isso achei melhor evitá-lo, para o meu próprio bem, e também, para o bem da nossa amizade... Até na casa dos meus pais eu não conseguia ir, eles é que sempre vinham almoçar ou jantar comigo. Via Luís na faculdade, mas, não tinha coragem de contar-lhe o que estava acontecendo, nem eu mesma sabia, apenas era marcante a lembrança de Natasha, e me pergunto várias vezes ao dia o porque de estar vivendo isso, há vi duas vezes, havia uma distância impressionante entre nós, éramos diferentes, ela namorava o meu primo, me dera um tapa na cara, e eu roubei-lhe um beijo para afrontá-la ainda mais, bom... Que beijo aquele! Mas... Nada justificava! Minha vida havia parado, ela não saia da minha cabeça... Aline? Sei lá, espero que esteja muito feliz.





Era Sábado a noite, e eu estava em casa sozinha como sempre, a campainha tocou duas vezes, demorei para atender, tinha acabado de sair do banho, coloquei um roupão às pressas... Abri a porta.

- Oi Cris! – Beijou-me o rosto – Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé... É assim mesmo que se diz?– Sorriu – Conhece a Natasha, não é? – Disse com tom de brincadeira.

- Claro – Disse desconcertada enquanto cumprimentava-a.

- Preciso de um favor teu, prima – Falou no meu ouvido.

- Favor? – olhei-o confusa.

Guga fez um gesto para que fossemos até a cozinha.

- Já volto gata – Disse.

- Precisa de dinheiro? –Logo abri a geladeira e servi-me de um copo d`água, não preciso nem dizer que só de olhar pra menina, meu coração disparou, minha boca ficou seca e minhas pernas ficaram trêmulas, né?

- Não! Não é dinheiro agora – Baixou o tom de voz – Me conhecendo como me conhece, não imagina?

- Não mesmo – Disse ainda mais confusa.

- Quero... Ver vocês transando – Disse sem rodeios.

Engasguei com a água que bebia.

- O que? – Fitei-o assustada – Ela é sua namorada!

- Sou tarado por isso, você sabe, só de pensar, eu fico...

- Pensei que gostasse dela – Disse quase indignada.

- Gosto! – Disse – Nunca gostei de nenhuma mulher como gosto dela.

- Ela sabe o que você está me pedindo?

- Deu o maior trabalho convencê-la a fazer isso – Colocou água no copo – Levei a Susy no Motel com a gente, e não rolou nada.

- Se não rolou com a Susy, porque acha que vai rolar comigo? – Disse confusa.

- Com você ela disse que faz – Sorriu – Que mulher Cris!

- Você é um pervertido – Disse furiosa – Não vou fazer isso, ela é sua namorada.

- Não estou te entendendo – Disse aborrecido – Qual o problema? Não vai ser a primeira vez que você transa com uma namorada minha, sempre gostei de ver, e você sabe disso.

- Naquela época, eu era tão cabeça de vento quanto você – Fitei-o pensativa – Depois que conheci Aline às coisas mudaram. Poxa! – Passai às mãos pelos cabelos, estava confusa - De qualquer forma, eu só topava dormir com as suas namoradas porque sabia que delas você nunca gostou de verdade, mas... Da Natasha... – Uns segundos de silêncio – Eu gosto – Pensei – Você gosta – Disse.

- Eu sei... Por isso que... Quero te pedir pra não beijar ela na boca – Disse envergonhado.

- O que? – Olhei-o desacreditada – Está dizendo que eu posso comer a sua mulher, mas não posso beija-la na boca? Eu entendi bem?

- É estranho, eu sei... Mas, pra mim, tem que ser assim. Droga! O que há com você Cris? Ela topou, Porque está pondo tanta dificuldade?

Meus pensamentos estavam totalmente... Confusos... Não posso deixar de admitir que era uma proposta tentadora, mas... Como eu poderia aceitar uma proposta daquelas? Natasha perpetuava os meus sonhos, não saia da minha cabeça dia e noite, eu queria tocá-la sim, acho que eu queria isso mais que tudo na vida, no entanto, como seria depois que acabasse? Como a menina me olharia? Como ficaria minha cabeça? E o meu coração? Só eu sabia o que estava dentro dele, e posso garantir que não era pouca coisa. Continuei muda e pensativa.

- Vem comigo – Puxou-me até a sala. Ele não queria me dar tempo de pensar.

Natasha estava linda sentada no sofá. Sua fisionomia envergonhada contrastava com a fisionomia ansiosa de Guga. Sentei-me ao seu lado, também constrangida, Guga voltou para a cozinha com a desculpa de pegar algo para nós bebermos, nós sabíamos que ele queria nos deixar a sós.

- Como você pode ser conivente com uma loucura dessas? – Fitei-a nos olhos.

- Sei que parece loucura Cris, mas... Ele quer tanto, está me perturbando com isso há dias, na verdade, nem sei se terei coragem, e se você não estiver afim, não tem problema, é bom que ele desiste dessa história – Disse, fugindo do meu olhar incisivo.

- Você sabe que eu quero – Disse num impulso... Passei a mão de leve no seu rosto – Só não queria que fosse nessas condições.

- Só estou fazendo isso por ele... – Esquivou-se do meu carinho.

- Mentira! Você quer uma desculpa...

- Não fantasia Cris – Disse aborrecida – Ainda estou furiosa com aquele beijo que você me deu.

- Se um beijo te deixou tão furiosa, imagina se nós fizermos...

- Resolveram? – Disse Guga antes que eu pudesse terminar minha frase.

Olhei para Natasha, seus olhos iluminavam a minha vida, eu sabia que poderia me arrepender profundamente se compactuasse com aquela história, mas, era só olhar para ela, e meu coração já não sabia como pulsar, não dava para dizer não, na verdade, eu jamais conseguiria dizer não para Natasha, ela é o tipo de mulher que só precisa de um olhar para nos jogar literalmente aos seus pés... É! Realmente... Ela me tem aos seus pés...

- Resolvemos – Disse segura, a menina olhou-me um pouco desacreditada, ou decepcionada, eu realmente não sei – Só uma objeção – Frisei a última frase.

- Qual? – Disse Guga ansioso.

- Você só vai olhar como sempre fez – Disse – Não tô afim de ver ninguém trepando.

- Caraca Cris! – Agora ela olhou-me furiosa – Precisa usar palavras tão vulgares? Isso me irrita, sabia?

- Tá certo – Disse Guga sorrindo, encerrando a discussão e achando graça da irritabilidade de Natasha – Só olho então, nem encosto na minha namorada – Concluiu.

Dei mais uma olhada nos olhos dela... Senti raiva por ela ter concordado com uma coisa dessas, no fundo, bem lá no fundo, eu nutria a esperança de que um dia fizéssemos amor, mas, não com platéia, não para agradar... O namorado dela – Pensei com um nó na garganta. Levantei-me, puxei a menina pelas mãos até o quarto... No primeiro momento eu senti repulsa por ela, no entanto, no minuto seguinte, meu coração disparou... Ela me olhou assustada, não dei tempo dela dizer nada... Era uma mistura de raiva com desejo acumulado... Segurei Natasha pela cintura, beijei sua nuca, meus lábios desceram pelo seu pescoço... Deslizei minhas mãos pelo seu corpo... Eu já estava sem ar, ela não precisou nem encostar suas mãos em mim, para deixar-me sem ar... Coloquei a mão por baixo da sua blusa, ela conteve meu toque, me olhou e balançou a cabeça no sentido negativo... O sangue ferveu... Comprimi-a na parede, segurei seus pulsos acima de sua cabeça... Coloquei minha coxa no meio das suas pernas... Vi seus olhos se fecharem, logo ela gemeu no meu ouvido... Soltei seus braços e segurei seu queixo com uma das mãos, a outra passeava pelas suas nádegas, apertando-as com desejo, desnudando-a ... Tapei seus lábios com as mãos e devorei seu pescoço, tapei sua boca porque tive medo de não resistir e beijá-la... A menina mordeu minha mão, e foi inevitável não deixar de soltá-la, não senti dor, senti mais desejo aflorando de dentro de mim... Senti sua respiração perto do meu ouvido, suas mãos laçadas envolta de mim, me puxando pela nuca para que eu não desencostasse meus lábios do pescoço dela... Com as duas mãos livres, eu logo livrei-me da sua saia, depois passei os dedos por baixo da sua calcinha... Arranquei-a... Dei uma rápida olhada no seu corpo quase nú... Coloquei novamente minha coxa no meio das suas pernas, senti um líquido quente escorrer, molhando a minha coxa... Respirei fundo... Eu não queria perder o controle... Subi minha mão pela sua nuca, e deixei seus cabelos serem aprisionados pelos meus dedos, puxei-os até que minha boca alcançasse o seu ouvido, primeiro passei minha língua envolta dele, depois...

- Você não vale nada – Sussurrei, logo senti seus pêlos se arrepiarem... Beijei seu queixo, passei a língua... Tirei sua blusa, e desabotoei seu sutiã... Seus seios eram lindos... Rosados, médios, rígidos... Senti algo escorrendo no meio das minhas pernas também... O calor que emanava dos nossos corpos, parecia queimar a nossa pele. Afastei-a da parede, caminhamos lentamente para a cama... Minhas mãos apertavam suas nádegas, e a puxavam para mim, para junto do meu corpo... Beijei novamente o seu queixo, depois o cantinho da sua boca... Natasha fitou os meus olhos, agarrou meu rosto com força e tentou beijar os meus lábios, não deixei, virei o rosto... Ela ficou brava, logo passou a língua macia e quente no meu pescoço, e depois cravou os dentes no mesmo.

- Aiiii – Disse baixinho... Ela olhou-me, sorriu e mordeu mais forte. Deixou-me tonta com aquelas mordidas no meu pescoço.

A menina sentiu sua perna encostar na cama, e jogou o corpo para trás, caí por cima dela, procurei seus seios, com as mãos, com a boca... Suguei com vontade... Minha língua passeava por eles, enquanto minhas mãos deslizavam pelo seu corpo à procura do seu sexo... Quando minhas mãos pousaram no meio das suas pernas, eu suguei seus seios com mais força, e ela gemeu mais alto...

- Tá toda molhada – Disse novamente no seu ouvido.

- Aproveita, não vai ter outra vez – Disse com a respiração entrecortada.

Coloquei as mãos por entre suas coxas... Acariciei seu sexo e ela deu um grito de prazer, sua respiração ofegava, logo meus dedos entraram sem resistência, na mesma hora, Natasha forçou a saída dos meus dedos de dentro dela, puxou-me pelo roupão, desamarrou o mesmo... e me fez deitar no meio das suas pernas, ao sentir nossos corpos em atrito, não resisti e beijei-a com desejo, nos esfregamos freneticamente, e o suor dos nossos corpos molhava o lençol bagunçado da cama... A menina disse no meu ouvido que iria gozar, parei o ritmo daquele contato, eu precisava sentir o gosto dela, desci e segurei seu quadril com as duas mãos, puxei-a pra mim, ela abriu mais as pernas e ficou me olhando com os dentes cravados nos seus lábios, e com os olhos saltando fogo... Coloquei a minha língua no seu sexo, comecei a gozar antes dela, ela percebeu que eu estava gozando por tocar nela, inclinou a cabeça para trás e deixou aquela eclosão de sensações tomarem conta do seu corpo que arfava por aquele orgasmo, orgasmo intenso, demorado... Aquele que arranca gemidos, gritos sufocados pela falta de ar nos pulmões, espasmos nas pernas... Deitei-me ao lado dela na cama... Passei a língua envolta dos meus lábios para degustar um pouco mais do sabor daquela mulher, e posso garantir, era deliciosa demais... Nunca tinha sentido um gosto tão bom na minha vida. Nesse instante, ela virou-se de lado, fitou meus olhos... Aqueles olhos negros, cheios de malícia...Puxei-a pela nuca num impulso e dei a ela o seu próprio gosto pra provar, a menina sugou os meus lábios com fervor... Quem disse que nós percebemos a presença de Guga? Só depois que a ficha foi caindo... Ele nem entrara no quarto, ficara parado na entrada da porta... Parecia uma estátua, acho que não acreditou muito no que aconteceu... Olhei pra ela novamente, ela olhou pra mim, baixamos os olhos... Recoloquei o roupão, mal consegui olhar para Guga, que não escondera a sua insatisfação ao ver que havíamos nos beijado, e também, que o nosso contato havia sido bem maior do que os outros que tive com suas ex namoradas, só para constar, foi a primeira vez que meu primo me vira sem roupa, das outras vezes eu apenas... Apenas... Tocava nas namoradas dele. Deu pra entender? Senti-me uma canalha, ainda podia sentir minhas pernas trêmulas. Natasha era exatamente como havia idealizado em meus sonhos, fora a experiência mais extraordinária de toda minha vida - Ela é perfeita – Pensei.

O que aconteceria depois que tudo acabasse? Lembram dessa pergunta? Pois é... Nenhum de nós era mais o mesmo. Posso afirmar com toda certeza que eu pelo menos estava entrando em parafusos.

- Preciso de uma bebida – Disse Guga antes de ir para cozinha. Ele estava tonto, e arisco dizer que não era de prazer pelo que viu.

Naquela altura, eu também queria mergulhar em uma garrafa de vodka, quem sabe não resolveria todos os meus problemas, e também, se não resolvesse, me deixaria com uma dor de cabeça tão grande que ao menos me distrairia.

Natasha continuara quieta, não olhava-me nos olhos. Ergui sua face até que seus olhos encontrassem os meus.

- Como vou conseguir te esquecer agora? – Disse.

- Cris, eu nem sei o que dizer... Se ele não tivesse insistido tanto, você sabe que eu não teria feito.

- Tudo bem – Disse com nó na garganta – Não precisa ficar repetindo que fez porque ele quis... – Afaguei sua face – Mas, já que fez...Vai embora e acabou? É simples assim?

- Não tô afim de te magoar, e...

Nem deixei que ela terminasse sua frase, abracei-a e beijei seus lábios com paixão, Natasha não se opôs, alimentando ainda mais todo aquele sentimento que queimava dentro de mim.

- Posso te ligar? – Disse insegura.

- Deixa que eu te ligo Cris.



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Capítulo 11: Dias de espera...

(por Karina Dias , adicionado em 9 de Abril de 2007)






Hoje faria três dias na espera torturante por um telefonema de Natasha. Será que eu ouvi bem? Ela disse que me ligaria, não disse? Bom... Eu estava tão consumida em minha ansiedade que resolvi buscar Amanda na faculdade. Olhei o relógio, eram cinco e quarenta e sete... Estacionei o carro bem próximo à saída... Liguei para o celular de Amanda, não falei que estava esperando-a na porta, só perguntei que horas sairia... Não demorou muito para às duas avistarem-me, Amanda sempre gostava quando eu vinha buscá-la, eu fazia isso com mais freqüência quando estava morando com Aline, elas se davam muito bem, por isso, sempre que podíamos passávamos na faculdade para buscá-la, depois íamos ao shopping, ou tomávamos cerveja em algum lugar por perto, e era bem divertido. Tenho mania de dizer que minha irmã é chata, mas, a verdade é que eu amo muito essa chatinha.

- Oi Cris – Disse sorridente – Finalmente veio me buscar.

- Oi meninas – Dei um beijo em Amanda, logo outro em Natasha – Como está? – Olhei-a com os olhos transbordando de saudade, chegava a doer meu coração de tanto que pulava dentro de mim.

- Bem, e você? – Ela fitava-me desconcertada.

- Vou indo... – Disse com um sorriso amarelo no canto dos lábios - Tá calor, né?

- Oba! Estou morrendo de vontade de tomar sorvete – Ofereceu-se Amanda.

- Ótimo! Vamos tomar sorvete... – Valeu mana! – Pensei - Vem com a gente Natasha? – Disse exibindo um falso descaso. Como se eu não fosse ligar se ela rejeitasse o convite, sabem?.

- Não, obrigada. Sorvete engorda – Sorriu... Seus lábios eram tão rosados... O contorno deles tão perfeitos... Difícil não ficar com água na boca por vontade de beijá-los – Brincadeira, tenho que ir para casa – Disse evitando olhar pra mim.

- Eu levo você em casa – Insisti.

- Vamos Naty – Puxou-a pelas mãos – Vem com a gente, a Cris te leva em casa depois.

- O Guga ficou de passar... Lá em casa... Pra gente sair – Disse desconcertada – Demoro muito pra me arrumar... – Baixou os olhos, fugindo novamente do meu olhar.

Foi tão estranho ouvi-la falar de Guga, senti um gosto amargo na boca. Depois dos últimos acontecimentos, meu primo não me procurou mais, se quer um telefonema, muito menos retornava os meus, na verdade, nem sei porque eu ligava pra ele, não tinha nada o que falar... Desculpar-me? Acho que a gente só deve pedir desculpas quando se arrepende, e não era o meu caso.

- Desiste Amanda, sua amiguinha não vai muito com a minha cara – Disse enquanto abria a porta do carro.

- Porque Cris? Está acontecendo alguma coisa que eu não sei? – Fitou-nos intrigada.

- Não está acontecendo nada Amanda, a sua irmã é que deve ter algum problema com a palavra não – Disse sarcástica.

- Problema nenhum – Sorri... Um sorrido daqueles bem debochados – Um não a mais, ou a menos... Não faz a menor diferença, viu?

Logo que entrei no carro, as duas entraram também, olhei pelo retrovisor, Natasha estava furiosa, sorri novamente, agora aquele risinho que diz: “eu consegui”. Gosto de vê-la irritada, isso me dá prazer! Estranho, né? Sentir prazer por ver alguém irritado... Ela fica tão linda irritada... Ela franze um pouco a testa, fecha um pouco os olhos... Nossa! Demais mesmo.

Engraçado, o que não se faz por uma mulher? Além de não gostar muito de sorvete, ainda tive que tolerar os moleques que estavam na sorveteria falarem gracinhas para Natasha, tive a impressão de ter regredido uns dez anos, e o pior é que eu nem tenho o direito de sentir ciúmes da namorada do meu primo, se parar para pensar bem nisso tudo, estou sendo neste momento, tão canalha quanto a proposta de Guga, e talvez por isso esteja dando graças a Deus por ele estar evitando-me tanto, seria muito difícil estar ao lado de Natasha se ainda fossemos os mesmos, tá certo que isso não me absolve da culpa de estar sendo desonesta com ele, mas... Sabe quando você fica completamente perdida por uma mulher? É assim que eu estou. Isso vocês já perceberam, tenho certeza... Mal toquei no sorvete... Ela também não aproveitou muito do dela, apenas Amanda parecia se divertir. Minha irmã falava sem parar, e nós nos limitamos apenas a responder o básico, ora dizíamos sim, ora dizíamos não...

Deixei Amanda na porta de casa, depois fui levar Natasha como havíamos combinado, ficamos em silêncio até pararmos em frente a sua casa.

- Obrigada pela carona – Disse abrindo a porta do carro para descer.

- Porque está agindo desta forma? – Segurei seu braço, impedindo que ela saísse do carro.

- De que forma Cris? – Tornou a fechar a porta.

- Está me evitando, não olha para mim... Disse que ligaria, não ligou... Eu fiquei dias esperando um telefonema seu, sabia? – Disse magoada.

- Se eu ligasse pra você, sobre o que iríamos conversar? – Disse aborrecida – Sobre o que aconteceu com a gente? Não quero falar nisso, já passou, esquece!

- Eu não quero esquecer – Segurei suas mãos geladas e trêmulas – Porque você está tremendo?

- Você... Me deixa... Nervosa com essas perguntas todas... É melhor... Eu descer... – Puxou a mão, logo pousou-a na maçaneta da porta, no entanto, continuou olhando-me.

Fitei seus lábios rosados... Minha boca ansiava por aqueles beijos...

- Diz pra mim que não gostou – Sussurrei... Puxei-a pelo pescoço... – Diz que aquele orgasmo foi fingimento – Cheguei meus lábios mais perto, senti sua respiração no meu rosto... Era algo extremamente incontrolável... Ficamos nos olhando, sentindo nossas respirações acariciar nossa face... Seus lábios estavam tão próximos...

- Não faz isso Cris – Disse com tom de voz inseguro.

- Fazer o que? – Sussurrei – Isso? – Encostei lentamente meus lábios nos dela, logo sua língua estava dentro da minha boca numa química tão perfeita que não conseguíamos parar de nos beijarmos, aquele beijo foi ficando mais ardente, prolongado com caricias... Nossos dedos deslizavam pelos nossos rostos, sentindo a nossa pele, deslizavam pelo pescoço, alcançavam a nuca... Minhas mãos escorregaram por cima da sua blusa... Toquei seus seios com a ponta dos dedos, descobri sua barriga, acariciei... Nossos lábios estavam famintos, tomando um ao outro com paixão, sufocando gemidos de desejo... Minha mão alcançou sua saia... Apalpei e apertei as coxas grossas e bem torneadas de Natasha, como aquelas pernas eram lindas... Macias, cheirosas... No minuto seguinte meus dedos afastaram sua calcinha e invadiram-na sem que ela esperasse... Ela soltou um gemido no meu ouvido... Afastou as pernas facilitando um entra e sai cada vez mais rápido dos meus dedos, não demorou para o banco do carona ser inundado com o gozo da menina... Seus olhos negros agora fitavam os meus, admirei-os por alguns segundos... Beijava sua nuca quando bateram no vidro do carro, sorte que os vidros eram bem negros, e ficava praticamente impossível identificar quem estava dentro do mesmo, ou principalmente, o que estávamos fazendo... A menos que... Pensei rápido, derrubei no tapete um pouco de perfume para automóveis que eu sempre carrego no porta luvas do mesmo... Logo o cheiro de lavanda sobrepôs o cheiro de sexo que ficara no ambiente. Baixei os vidros...

- Conheci o seu carro de longe – Disse desconfiado.

- Oi Guga – Não consegui olhá-lo nos olhos – Fui buscar a Amanda na faculdade, e...

- Fomos tomar sorvete, e depois a Cris me deu uma carona – Disse também desconcertada.

- Só isso? – Fitou-nos com os olhos vermelhos de raiva – Porque os vidros estão fechados?

- Ei cara! Não... Não aconteceu nada... foi só uma carona... – Disse com nó na garganta. Perceberam que sempre que fazemos algo “errado” tentamos justificar o máximo possível? Isso é quase uma confissão, não acham? - Já viu o calor que está fazendo? O ar tá ligado – Apontei o botão no painel do carro.

- Tchau Cris – Abriu a porta, desceu... Ela estava nervosa – Obrigada pela carona – Disse quase num sussurro.

- Tchau Natasha – Fitei-a já com saudade – Tchau Guga, boa noite – Ainda não consegui olha-lo nos olhos, tive vergonha da maneira como estava agindo pelas costas dele... Será que isso quer dizer que eu não tenho caráter? Estou realmente preocupada, não tenho agido de acordo com os meus princípios ultimamente...



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Capítulo 12: Não dá pra manter em segredo

(por Karina Dias , adicionado em 10 de Abril de 2007)








Depois que sai da casa de Natasha, percebi que estava atrasada para a faculdade... Nem passei em casa, fui pra faculdade? Também não... Fui direto na casa dos meus pais, sabia que Luiz não tinha aulas hoje, e eu precisava muito conversar com alguém, do contrário, iria explodir. Aquele segredo estava sendo insustentável para mim, minha cabeça não obedecia mais à razão, e cheguei a pensar inúmeras vezes naquela noite que iria enlouquecer... Eu e Luiz fomos a um bar perto de casa mesmo, fiquei mais à vontade para falar depois de umas três cervejas.

- O que está te incomodando desse jeito Cris? – Fitou-me preocupado.

- A minha vida tá de pernas para o ar Luiz – Tomei todo o liquido que estava dentro do copo num gole só.

- Calma aí! – Disse – Bebe devagar, Cris!

- Não sei mais o que faço... Estou completamente apaixonada pela Natasha – Disse sem rodeios. Logo acendi um cigarro, eu estava nervosa.

- Espera aí! - Fitou-me por uns segundos, acho que a ficha custou a cair – Natasha... A amiga da Amanda... Namorada do Guga? – Concluiu perplexo.

- Essa mesma.

- Você pirou? – Fitou-me desacreditado.

- Cara... Parece loucura, mas... Desde que eu vi aquela garota pela primeira vez, não consigo fechar os olhos e não vê-la. Putz! Eu consigo vê-la até nas pessoas que passam por mim na rua... Ela está em cada música que eu ouço, em cada sorriso meu... E também, nessa agonia que você vê nos meus olhos – Nossa! Que horror! Eu estava dramática, viram?

- Caraca Cris! Como você deixou isso acontecer?

- Ah! Agora a culpa é minha? – Fitei-o indignada - Até parece que eu posso virar pro meu coração e falar: essa pode, essa não pode...

- Desculpa, é que... Não sei o que dizer, pra ser sincero, não consigo entender o que você está sentindo – Disse – Eu nunca senti isso por ninguém.

- Sorte sua... Mas... O pior você ainda não sabe – Olhei-o, um pouco envergonhada – Eu... Transei com ela – Disse de imediato.

- O que? - O pobre chegou a engasgar com a bebida.

- A culpa foi do Guga, sempre seguindo os seus instintos, pediu pra garota topar fazer comigo... Pra ele ver, sabe? – Continuei encabulada, como nunca estive antes, era o meu irmão que estava diante de mim, no entanto, parecia um estranho tendo em vista todo aquele constrangimento que estava sendo contar a ele sobre Natasha.

- Mas, isso não é novidade pra você – Pediu outra cerveja – Ele sempre pede pra você fazer com as namoradas dele, o Guga só sossegou um pouco depois que você foi morar com a Aline .

- Com a Natasha foi diferente, não era só desejo...

- E ela? O que diz disso tudo?

- Bom... Está me enlouquecendo, diz que só fez por causa dele... Mas... – Respirei fundo - Eu vi nos olhos dela que não foi nada forçado, hoje principalmente...

- Hoje o que? – Agora foi ele quem tomou de uma vez só todo o líquido do copo.

- Cara, é uma loucura! – Acendi outro cigarro, viram? Estou parecendo uma chaminé – Fui buscar Amanda na faculdade, desculpa pra ver a Natasha, né?- Fitei o copo na mesa, nossa! Eu estava com vergonha do meu próprio irmão - Bom, levei as duas pra tomar sorvete, e depois que deixei a Amanda nos nossos pais, levei a menina na casa dela... Começamos a nos beijar, e quando me dei conta, estava... Estava comendo ela ali mesmo.

- Sério Cris? – Colocou cerveja no copo dele, logo no meu também – Bebe mais – Disse solidário.

- Tem algo ainda pior... O Guga chegou segundos depois – Disse hesitante – Quase nos surpreendeu...

- Não queria estar no seu lugar, mana – Disse balançando a cabeça negativamente.

- Nem eu – Concordei desanimada.





Já passava da meia noite quando terminamos nossa conversa, eu estava literalmente bêbada, Luiz quem dirigiu o carro, e é bom dizer que ele não dirigia desde um acidente que sofreu a uns seis meses atrás, Luiz perdeu a direção do automóvel quando estava passando pela Lagoa, bateu em um poste e a amiga dele que estava no lado do carona feriu-se seriamente, a menina passou uma semana no hospital, hoje já está bem, mas, ainda se recupera das seqüelas do acidente. Acidente esse que foi provocado por uma distração do meu irmão, ele estava tentando sintonizar uma rádio... Tirou os olhos da pista por alguns segundos... E... Pronto! Depois disso, Luiz tomou pavor de trânsito, se sente muito culpado. Bom... Ele levou-me direto para casa dos nossos pais, eu estava sem condições de ir para casa, apesar de ter insistido bastante para que Luiz me levasse para meu apartamento.

Logo que chegamos, percebi que a movimentação em casa não era a mesma, Amanda devia estar vendo filme com alguns amigos, ela costumava fazer isso com frequência, e era exatamente como deduzi, estavam na sala: Amanda com um namoradinho que conhecera alguns dias na Internet, Guga e Natasha. Coincidência não existe na minha concepção, algo muito maior aproximava-me daquela menina, e eu não tinha nenhuma pista do que seria, ou quem sabe tinha, alguns podem dizer que é destino, eu digo que é atração, eu atraio Natasha para perto de mim, porque meu pensamento está direcionado vinte quatro horas em função dela, acredito que quando queremos muito algo, ou alguém como é o caso, isso é possível. Tudo o que eu menos queria naquele instante, era que ela me visse naquele estado, no entanto, mal conseguia caminhar sem a ajuda de Luiz.

- Senta aqui Cris – Disse apontando o sofá.

- Me Leva pro quarto Luiz, por favor – Falei baixinho, estava envergonhada.

- A farra foi boa, hein? - Sorriu sarcástico.

- Guga, não começa, tá? – Defendeu-me Luiz – Vou fazer um café bem forte pra você tomar, depois você vai pra água fria, não adianta reclamar – Passou a mão no meu rosto.

- Luiz, eu não quero café, eu quero sair daqui! – Disse aborrecida.

- Vem Cris, eu te levo – Ofereceu-se Amanda - O que deu em você? Ainda bem que nossos pais estão dormindo, senão você ia levar um sermão daqueles...

Levantei-me, minha cabeça rodava, tinha a impressão de estar em uma roda gigante, alguém já ficou assim? Fecha os olhos e parece estar pisando em ovos, enquanto o mundo dá voltas ao seu redor... Não consegui dar um passo, mesmo com a ajuda de Amanda, foi quando senti alguém tocar o meu ombro, a principio pensei ter sido um anjo, será que eu já estava morrendo e ele veio me buscar? Não... Depois de desejar a mulher do próximo, eu perdi todas as chances de ir para o céu! – Pensei. No minuto seguinte constatei que o Anjo que me referi era Natasha.

- Vou te ajudar também – Disse simpática.

O meu quarto ainda estava exatamente como havia deixado, minha mãe ainda tinha esperança de que um dia eu pudesse voltar a morar com eles naquela casa, tive até saudade. Sentei-me na cama, fazia tempo que não entrava naquele quarto...Parecia o quarto de um menino, paredes pintadas de verde, quadros de automóveis misturados com fotos de quando eu e meus irmãos éramos menores?! Isso era coisa da minha mãe, eu não havia colocado aqueles quadros alí, a menos que eu estivesse tão bêbada a ponto de não me lembrar...

- Naty... Fica com ela rapidinho, vou ver se o café está pronto, tá?

Natasha fez um gesto para Amanda concordando com o seu pedido. Minha irmã saiu correndo pelas escadas...

- Você está bem? – Disse.

- Não! Estou morrendo de vergonha – O quarto todo parecia rodar agora.

- Fica não – Sorriu – Já tomei um porre como o seu – Disse descontraída.

- Minha cabeça tá rodando, droga! – Eu não sabia se estava parada ou girando junto com o quarto.

- Vem cá – Disse tentando levantar-me – Pro chuveiro, agora! – disse enérgica.

- Água fria não, não mesmo! – Resisti em levantar.

- Até parece que você tem escolha – Puxou-me até o banheiro, abriu o chuveiro – Fica aí, vou pegar uma toalha.

- Espera – Disse e segurei forte o seu braço... Não lembro-me de ter dito outra coisa... Quando dei por mim, já estávamos com roupa e tudo debaixo daquela água fria, e nem assim, meu desejo por ela diminuía, friccionei-a na parede e beijei-a com muito desejo... Nossa! Aquele contato com o corpo dela... gozei ao sentir sua perna no meio das minhas... - Você me deixa maluca – Sussurrei no seu ouvido, enquanto tentava controlar a minha respiração.

- Você é louca mesmo, alguém pode entrar, sabia? – Disse nervosa – Olha só o que você fez? Tô toda molhada!

- Vem cá... Naty! – Puxei-a - Posso te chamar assim? Minha irmã chama – Disse não conseguindo controlar a vontade de rir - Porque toda pessoa bêbada gosta de rir tanto? – Pensei.

- Vem cá você Cris, vamos! – Puxou-me pela camisa – Tem que tirar essa roupa molhada.

- Você também está molhada, tem que tirar a sua roupa, e depois que tirar, pode deitar na cama comigo, mas, não vamos dormir, não! – Continuei sem conseguir controlar minha vontade de rir... E a cabeça rodando... Não sabia se estava pisando no chão ou em alguma almofada... Tive até medo de ser Patrícia embaixo dos meus pés, minha mãe me mataria se eu pisasse naquela gata.

- Você está muito engraçadinha hoje – Sentou-me na cama.

- Cris, o ca...fé – Parou na porta... Fitou-nos assustada – O que aconteceu com vocês?

- Sua irmã caiu no banheiro, eu fui segurar e... Molhei-me também – Disse insegura.

- Mentira Amanda – Disse rindo – Eu joguei ela na água...

- Bebe isso Cris – Disse obrigando-me a tomar o café – Vê se fica quietinha – Sussurrou no meu ouvido.

- Tá quente... Arg! Amargo – Cuspi tudo no chão.

Luiz entrou com Guga no quarto...

- Ela bebeu Amanda? – Disse preocupado.

- Quase nada.

Guga fitou Natasha no mesmo instante.

- Está toda molhada por que? – Fitou-me também - Estão, né?

- Elas caíram no banheiro. Vou te emprestar uma roupa Naty – Disse Amanda – Já volto – Saiu.

- Natasha, vamos embora depois – Disse furioso – A Cris conseguiu estragar a nossa noite – Continuou emburrado.

- Tudo bem, troco de roupa rapidinho - Disse calma.

- Não Naty, fica aqui comigo – Segurei sua mão impedindo que ela saísse do quarto - Não vai embora... Senta aqui Naty...

- Cris, termina o café – Luiz sentou-se ao meu lado na cama – Pega leve, tá dando o maior mole – Disse quase num sussurro.

- Luiz, se precisar de alguma coisa, liga tá? – Ela soltou minha mão – tem meu telefone?

- Eu tenho – Intrometi-me – Tenho o da sua casa, seu celular, tenha até o seu e-mail...

- Natasha, ela tá legal, droga! – Disse Guga ainda mais furioso – Não foi o primeiro, nem vai ser o último porre da vida dela. Vamos! – Puxou-a pelo braço, e os dois saíram. Eu? Fiquei, e com a cabeça rodando.



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Capítulo 13: nossos medos

(por Karina Dias , adicionado em 11 de Abril de 2007)






De manhã, acordei sem saber onde estava, depois dos primeiros minutos com os olhos abertos, ou pelo menos tentando abri-los, familiarizei-me com o ambiente – Estou na casa dos meus pais – Pensei. Rex estava deitado no meu pé, e Patrícia passeava em cima de uma prateleira cheia de miniaturas de Ferraris que ficava ao lado direito da cama, eu tinha aquela coleção de Ferraris desde pequena, haviam pelo menos uns cinqüenta carrinhos, e agora que eu estava indefesa, Patrícia fazia o favor de derrubar tudo... Como ela subiu ali? – Pensei.

- Rex! Tira a Patrícia dali – Mexi o pé pra ver se ele se movia, o máximo que o cachorro fez, foi: levantou as orelhas, olhou pra minha cara, e depois, esbanjando indiferença, acomodou novamente a cabecinha nos meus pés e fechou os olhos, ainda cobriu o focinho com as patas... – Seu inútil – Disse, logo, levantei-me, o cão latiu aborrecido por não ter meu pé de travesseiro, é mole? – Abusado! Tinha que ter latido pra ela descer – Disse indignada. Peguei Patrícia nas mãos, depois coloquei-a no chão, ela miou baixinho e começou a se enroscar nas minhas pernas – Quer carinho, né menina? - Abaixei-me para pegar novamente aquela bolinha de pêlos negra, ela era da cor dos cabelos da Natasha – Pensei. Nossa! A cabeça já doía antes de lembrar de Natasha, agora então... Além da dor de cabeça, minha garganta estava seca, e eu tinha um gosto amargo na boca... Lembrei-me que estava com sede. Luiz parecia ter adivinhado meus pensamentos, entrou no quarto com um copo cheio de água.

- Falando com os animais? – Disse oferecendo-me a água.

- São bons ouvintes – Sorri sem graça. Coloquei Patrícia na cama, ao lado de Rex, o mesmo levantou a orelha e resmungou um pouco, logo voltou a dormir com as patinhas cobrindo o focinho.

- Está melhor?

- Tirando a sensação de ter sido atropelada por um trator, estou melhor sim – Tomei toda água que estava no copo – Ainda estou com sede – Disse.

- Pelo visto, não vai trabalhar hoje.

- Cara, tô muito mal mesmo – Disse enquanto esfregava os olhos para enxergar melhor - Cadê a chave do carro?

- Tava na sofá da sala – Balançou as chaves mostrando-me, depois colocou sobre a cômoda – Vou cobrir você hoje, mas, não se acostuma, tá legal? – Sorriu.

- Luiz – Chamei-o – Eu disse... Ou fiz muita besteira ontem? – Cocei a cabeça... Ele olhou-me sarcástico.

- Não... Só disse na cara do Guga que tem todos os telefones da Natasha, e-mail... Ah! Pediu para ela ficar com você também – Disse irônico.

- Nossa! Ele deve estar querendo me esganar.

- Desencana dessa garota, Cris – Deu-me um beijo – Ela é namorada do cara, e depois que o Guga conheceu essa menina, verdade seja dita, ele não se meteu em nenhuma confusão até agora, quem sabe esse desmiolado não toma jeito, e você, devia partir pra outra, além de tudo, ela é uma criança, sabia? Tem só dezenove anos.

- Uma menina de dezenove anos não é mais tão criança – Justifiquei.

- Você tem uma irmã de dezoito – Fitou-me com aquele olhar paternal que ele gostava de exibir – Tem certeza que ela não é mais tão criança?

- Bom, pensando desta forma, Amanda era super infantil – Pensei – Mas... Ela faz igual gente grande – Disse fazendo-o rir.

- Quero o seu bem – Balançou o meu ombro – Quero o seu bem – Repetiu.

- Eu sei, vou tomar um rumo na minha vida hoje – Procurei o cigarro pela cama, logo acendi um – Não vou ficar correndo atrás dela Luiz, você tem toda razão, ela está fazendo bem para o Guga, se ele não tomar juízo agora, não tomará nunca - Respirei fundo – Tenho que esquece-la, não é? É o que vou fazer, tenho que tirar a Natasha da minha cabeça, ela nunca vai querer nada comigo mesmo, e é bobagem insistir nessa história tão sem futuro – Fitei o chão, fiquei pensativa, digerindo as palavras que acabara de pronunciar.

- Assim que se fala – Disse tentando animar-me – Tira o dia para colocar a cabeça em ordem – Disse antes de fechar a porta – E não deixa o Rex tomar conta da sua cama, da última vez, ele não quis sair da minha – Sorriu.

- Vou expulsá-lo já, já...





Resolvi seguir o conselho de Luiz, eu iria repaginar a minha vida, e para começar, resolvi vencer um dos meus maiores medos. Sabia que se conseguisse vencer o medo de altura que me atormentava tanto, conseguiria esquecer Natasha. É! Tenho medo de altura, vocês não sabiam? Bem... Na verdade, isso não era uma certeza, e sim uma esperança... Precisamos de esperança para continuarmos vivendo... Eu tinha que me agarrar em alguma coisa, a Faculdade não era o suficiente. Eram dez e quarenta da manhã quando cheguei na pedra da Gávea, à vista era linda, mas, à altura assustadora, olhando a cidade lá de cima, dava a impressão de que cabia na palma das nossas mãos. Quando o instrutor falou: - vamos? Comecei a suar frio, pular de asa delta naquela altura, jamais tinha passado pela minha cabeça antes, mas, precisava sentir-me forte, e vencer o meu medo me faria forte, assim seria em minha concepção.

- Depois que pular passa – Disse Jorge, o instrutor.

Confesso que nem quando fui buscar o Guga naquelas circunstâncias dentro da favela, senti tanto pavor. Olhei em volta, logo uma reflexão dentro de mim, a resposta em seguida.

- Um... Dois...Três... – Corremos naquela plataforma de madeira, e logo o céu parecia nos acolher, a impressão que dava, era a de que as montanhas iriam nos engolir, e o mar abaixo de nós, iria nos tragar... A sensação fora inexplicável, a adrenalina daquele momento se projetava nos meus olhos encantados... O medo fora embora, e levara com ele todas aquelas frustrações dos últimos dias. Quando aterrissamos na praia do Pepino, senti-me viva novamente, olhei para o alto, e quase não pude acreditar que tinha saltado de verdade. Foi incrível, gente! Todo mundo um dia devia fazer algo que tivesse medo... Não resolve todos os problemas, bem sei disso agora em terra firme, mas... Dá uma sensação momentânea de... Paz! Sei lá! Estou viva, e quero muito viver... Deus não fez isso tudo para termos vontade de morrer... Olhei em volta... É! Deus não fez isso tudo para termos vontade de morrer!

Estava sentada num quiosque de frente à praia, tomando água de coco, quando o telefone tocou.

- Alô – Disse hesitante, não apareceu o nome de ninguém, apenas um número que nunca tinha visto antes.

- Cris? – Disse a voz do outro lado da linha.

- Sim, quem está falando? – Não conheci aquela voz.

- É a Mary – Disse entre sorrisos.

Logo lembrei-me, Mariana, uma amiga que não via a quase dois anos. Ela fora morar em São Paulo após terminar à faculdade de Psicologia, seu pai também era Psicólogo, e morava por lá , e Mary fora estagiar em sua clínica. Meu Deus! Eu nem podia acreditar, era a melhor amiga que tive até hoje.

- Que saudade – Disse lembrando-me de como havíamos nos divertido.

- Você está onde Cris?

- Na Gávea, porque?

- Estou no aeroporto Santos Dumont, acabei de chegar no Rio – Estava animada, pude sentir pelo tom da sua voz – Pensei que podia vir me buscar.

- Claro que vou – Disse de imediato.

... Mal podia acreditar no que estava vendo, Mariana estava totalmente mudada, lembro-me dela bronzeada de Sol, com os cabelos parafinados e sua prancha de Surf amarrada em cima de uma caminhonete vermelha que sempre enguiçava no caminho da praia, deciamos todos para empurrar, e ela ficava rindo da nossa cara e gritando: - Força gente! Força! – Sorri ao lembrar. Nessa mesma época, Mary fugiu da casa dos pais pra morar com uma Alemã que veio visitar o Rio no carnaval, nossa! A louca foi pra Alemanha, e os velhos quase enfartaram, descobriram que a filha era lésbica no mesmo dia em que ela fugiu de casa para morar com outra mulher, durou um mês aquele caso de amor, depois Mary voltou pra casa dizendo que não conseguiu aprender a falar Alemão. Hoje, com vinte oito anos, deixara os cabelos voltarem a sua cor natural que eram castanhos escuros, ainda os usava abaixo dos ombros, sua pele pálida denunciava que não costumava ir ao litoral, mas, algo que não mudara uma só virgula, fora a sua sensualidade e seu corpo, que continuava maravilhoso. Nos abraçamos demoradamente.

- Como estão as coisas por aqui, Cris? – Disse abrindo os braços, fechando os olhos e buscando respirar o ar da cidade.

- Vão indo – Dei-lhe beijos no rosto – A garoa de São Paulo te fez bem.

- Não sabe como sinto saudades daqui – Sorriu, o mesmo sorrisinho cafajeste de sempre – Praia, boates... Mulheres...

- Não mete essa! Todo mundo sabe que Sampa tem Boates em cada esquina.

- Sampa é ótimo, Cris! Mas, o nosso pessoal não estava lá – Puxou-me novamente para um novo abraço – Que saudade! – Disse alto, despertado uma certa curiosidade de quem passava por nós – Que saudade! – Repetiu ainda mais alto, ela adorava chamar a atenção. Sorrimos – Casada ainda, Cris? Da última vez que nos vimos você estava pra casar, e da ultima vez que nos falamos por telefone, você já tinha casado.

- Longa estória, Mary! Só vou adiantar que não estou mais casada... No caminho te conto como está a minha vida – Sorri, sabe quando seu corpo se enche de alegria quando vê alguém? Pois é! Assim que eu estava sentindo-me - E você? Casada, solteira?

- Solteiríssima... – Puxou-me – Vamos... Quero ir à praia.

- Claro! Praia agora! – Disse animada enquanto caminhávamos sorridentes até o carro. Tenho certeza que vocês vão adorar essa mulher! Podem escrever isso.



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Capítulo 14: De volta ao passado

(por Karina Dias , adicionado em 12 de Abril de 2007)




Passamos o dia inteiro visitando a Cidade. À noite, eu e Mary fomos para o meu apartamento, deixaríamos suas malas lá, ela ficaria hospedada em minha casa até que fixasse residência no Rio novamente, combinamos desta forma, porque ela insistia em ficar num hotel. Até parece que eu deixaria minha grande amiga num hotel... Mary disse que colocaria sua vida em ordem, em aproximadamente três dias, por mim, poderia demorar três anos... Tava adorando a idéia de ter alguém dividindo aquele apartamento comigo novamente, tá certo que não dividiríamos a mesma cama. Claro! Estamos falando da minha amiga, esqueceram? Bom, posso adiantar pra vocês que ela tinha o poder de deixar alegre qualquer pessoa que estivesse ao seu lado.

Mary fora tomar banho para terminarmos à noite como antigamente, em uma Boate bem agitada, eu até estava animada com a idéia de curtir uma noitada, fazia tempos que eu não me permitia esse tipo de diversão... É gente! Eu podia dizer que naquele momento, eu estava sentindo-me tranqüila, será que é mesmo verdade que quando Deus fecha uma porta ele abre outra? Vou encarar a chegada da minha amiga desta forma. Logo que sentei-me no sofá, a campainha tocou, e lá fui eu abrir a porta. Esse pessoal deve ter esquecido o que é interfone – Pensei enquanto puxava a maçaneta...

- Oi - Disse tímida.

- Oi – Disse surpresa com a visita. Bastou olhá-la, para tudo a minha volta se transformar novamente. Percebi naquele instante que ainda não tinha superado o meu maior medo. De que valeu ter saltado de tão alto?

- Posso entrar? – Disse receosa.

- Claro Natasha – Dei espaço para que ela entrasse... Senti seu perfume quando ela passou por mim, seu braço direito tocou levemente na minha mão... Meu corpo logo reagiu... Depois disso... Bom... Parece até coisa combinada, estilo novela mexicana, sabe? Logo que a menina entrou, Mary apareceu na sala de toalha.

- O chuveiro não quer... Esquentar, Cris – No mesmo instante notou a presença de Natasha – Desculpa, não sabia que tinha visita – Disse encabulada, ajeitado a toalha no corpo.

- Não sabia que... – Fitou-me desconcertada – Sua namorada? – Disse. Acho que ela não quis fazer aquela pergunta... Colocou a mão na boca como se tivesse dito sem querer.

- Sim – Disse de imediato.

- Sou?! – Mary olhou-nos surpresa. Arregalou os olhos...

- Vim em péssima hora, desculpa Cris, já... Estou... Indo embora – Caminhou em passos largos até a porta.

- Ainda não disse porque veio – Tomei a sua frente... Coloquei a mão na porta, impedindo que ela girasse a maçaneta... Fitei seus olhos – Quer me dizer alguma coisa? – Disse completamente perdida no seu olhar... Ah! Aqueles olhos...

- Nada demais... Estava passando aqui em frente... E... Resolvi saber se você melhorou – Disse ainda desconcertada – Que bobagem, claro que está melhor. Já vou – Empurrou-me sutilmente... Desobstrui sua passagem... Continuei imóvel. Senti-me uma perfeita idiota ao mentir pra ela, nem sei porque menti! Alguém pode me dizer porque eu menti? Aceito sugestões. Fechei a porta quando ela saiu, em seguida, desabei no sofá.

- Droga! – Resmunguei irritada - Depois que mudaram de síndico, o porteiro não usa mais interfone. Ainda bem que eu não estava aqui no dia da eleição desse síndico incompetente – Conclui aborrecida, mortificada por não estar preparada para recebê-la, se ao menos soubesse que era ela... Lamentei. Até esqueci-me que Mary estava parada olhando-me.

- Então não reclama, amor! – Disse ela irônica. Levantei meus olhos e fitei-a –Se você estivesse aqui, quem sabe não elegeria um síndico melhor? – Concluiu.

- Até parece que o meu voto solitário faria diferença.

- Faz sim, oras! – Aproximou-se – É por pensamentos assim, D. Cristina que pomos no poder Políticos que não fazem nada pelo nosso País... Podia ter votado, né? Aí sim teria razão para reclamar da administração do prédio.

- Não sabia que gostava de política.

- Eu odeio Política, mas... Amo o meu País.

- Tá bom, dá próxima vez que formos eleger um novo síndico eu voto... Quem sabe me candidato também – Sorri sem graça..

- Não apela, ta? Mas... Me diz, porque mentiu pra menina, Cris?

- Essa é a Natasha que te falei, amiga da Amanda, namorada do Guga...

- E totalmente hetero? – Disse bem humorada – Quer um conselho de especialista? – Fiz um gesto assentindo e ela continuou a falar - Falo como profissional, Cris... E acho que se envolver em uma relação como essa, será totalmente destrutivo pra você – Sentou-se ao meu lado – Não é preconceito, mas... Ela parece uma criança, e se quer saber, pode até ter gostado de transar contigo, mas, deixou claro que prefere o sexo oposto, e para completar, você não tem o direito de estragar a vida do seu primo, principalmente sabendo que essa história não pode ser levada adiante... Você mesma disse que ela não quer – Sorriu debochada – Se você fosse homem, diria que está pensando com a cabeça de baixo.

- E se você fosse me dar um conselho de amiga? – Fitei-a descrente.

- Ah, Sim! Ai eu diria para você mandar o seu primo para o quinto dos infernos, correr atrás dela, e mesmo que não conseguisse casar com ela, trepasse bastante, porque verdade seja dita, meu Deus! A menina é muito gatinha mesmo – Sorri com seu comentário - No entanto... – Fez um pouquinho de suspense até retomar as falas - Acho melhor você seguir o conselho profissional – Disse desfazendo o sorriso e franzindo a testa.

- É exatamente o que estou tentando fazer, por isso você ganhou o título de minha namorada.

- Então, como sua namorada, eu digo que você tem que levantar desse sofá, tomar um banho bem gostoso, colocar uma roupa bem legal, porque nós vamos dançar muito na Boate hoje – Puxou-me pelo braço – Vamos, levante! Manda esse baixo astral pra lá...



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Capítulo 15: Confusão de sentimentos

(por Karina Dias , adicionado em 13 de Abril de 2007)




... Copacabana, duas e quarenta e oito da manhã, meus ouvidos ameaçavam explodir com aquela mistura de música eletrônica com Funk, o DJ não se decide, oras! – Pensei – Não estou mais acostumada com esse tipo de diversão – Disse baixinho, mas, também, quem me ouviria com aquele barulho todo? Olhei as pessoas a minha volta, dançando... Rindo... Namorando... Felizes... Logo, percebi que eu daria tudo pra estar na minha casa, ou melhor, deitada na minha cama. O meu estado de espírito estava influenciando-me tanto que seria impossível não notar que eu estava sendo uma péssima companhia para Mary. Eu, literalmente estava sentindo-me um peixe fora d´água. Primeiro comecei a colocar defeito na bebida, disse que a cerveja estava quente, mentira! Mais gelada do que tava, impossível. Depois... Fiquei irritada com a quantidade de gente que lotava a pista de dança, o pessoal suado encostando na gente... Nossa! Aquilo tava me deixando... Em pânico! Desisti de criticar o lugar...

- Vou lá fora um pouco – Disse – Preciso de um cigarro.

Mary Fez um gesto concordando...

Quando pus os pés para fora daquele lugar senti como se meu ânimo voltasse em cinquenta por cento, já era alguma coisa, né? Naquele outro ambiente, a música era bem mais suave, e sem contar que eu podia ver através das enormes janelas de vidro toda a praia de Copacabana, era notável como aquela hora da manhã, o calçadão ainda estava movimentado, realmente, essa cidade não dorme mesmo, lembrei-me do Guga neste momento, essas palavras são dele... Debrucei-me na sacada... As janelas estavam abertas, e o vento trazia suavemente aquele cheirinho gostoso de maresia para perfumar o ambiente...

- Pensei que iria apenas acender um cigarro – Disse Mary. Parou ao meu lado.

- Fiquei aqui, pensando na vida, até esqueci que queria fumar – Coloquei a mão no bolso... Não puxei a carteira de cigarros, na verdade, o cigarro não estava fazendo-me falta.

- Cris, é melhor irmos embora – Olhou através da enorme janela que estava a nossa frente – Como você consegue ficar triste olhando pra tudo isso? – Respirou fundo, depois foi soltando o ar devagar – Sente o cheiro disso... Cheiro de vida.

- Eu não estou triste, D. Psicóloga – Inclinei um pouco o corpo para ficar de frente pra ela.

- Ah! Não? – Segurou minhas mãos – Dá pra ver nos seus olhos que você gostaria de estar em qualquer lugar do mundo, desde que uma certa pessoa estivesse contigo, menos aqui.

- Você pode me receitar um remédio pra tristeza? – Sorri, um sorriso tímido... Eu estava falando a verdade, queria um remédio que curasse o que eu estava sentindo, se ela era médica, de repente podia conhecer algum, né?

- Tá me pedindo um antidepressivo? - Sorriu – Jamais! Sabe o que cura tristeza? Alegria, amor! Alegria – Repetiu animada.

Fiquei parada, olhando-a falar... Não sei explicar o que aconteceu comigo naquele momento, mas, senti uma vontade incontrolável de beijar Mary... Podem dizer que era carência, mas... Sei que Pintou o famoso “clima”, sabe? Primeiro passei minhas mãos levemente sobre o seu rosto, livrando-me de uns fios de cabelos que o vento da praia desalinhava fazendo-os caírem pela sua boca, depois nossos olhos fixaram um no outro, logo nossos lábios se encostaram suavemente... Ela não disse uma só palavra, apenas beijou-me também. Fomos embora na mesma hora... Quando chegamos em casa, mal podíamos controlar o desejo que estava dentro de nós, em segundos nos despimos e estávamos deitadas na cama, ela em cima de mim, comandando o ritmo acelerado de desejo que nos envolvia... Nossas mãos aflitas passeavam pelos nossos corpos... A respiração ofegante... Sussurros no ouvido, frases desconexas... De repente... Mary parou de tocar o meu corpo, levantou-se sorrateiramente e sentou-se a beira da cama...

- O que foi? – Disse totalmente ignorante ao que estava acontecendo. Ela fitou-me séria...

- Cris, meu número da sorte é sete, e eu me recuso a ser chamada de Natasha pela sétima vez – Disse sarcástica, porém magoada, eu acho.

- Desculpa – Olhei-a sem palavras, e deveras envergonhada por tal atitude – Isso... Isso... Nunca aconteceu antes... – Disse. Passei as mãos nos cabelos, tentando compreender-me, acho que eu não precisava ir tão longe para compreender que estava pensando em Natasha enquanto tacava o corpo de Mary, não é?

- Você não está preparada para se envolver com ninguém - Fitou-me ainda séria – Enquanto não tirar essa menina da cabeça, não vai ser feliz, e também não vai fazer ninguém feliz – Levantou-se de sobressalto.

- Me ajuda a esquecê-la – Segurei suas mãos. Estávamos de pé neste momento, olhos nos olhos... Gosto muito desse contato, é bom olharmos nos olhos das pessoas para sentirmos e passarmos confiança... Tá certo que eu não passaria confiança pra ninguém tendo em vista os últimos acontecimentos, mas... Tá valendo.

- Você não é mais criança, e já devia saber que não se deve pedir isso a ninguém – Apanhou um lençol – Usar uma pessoa para esquecer outra, só causa sofrimento. Vou dormir na sala – Tenho que confessar, ela tava engraçada fingindo-se de indignada. Como eu sei? Foram anos de convivência, ela levantou os olhos e franziu a sobrancelha direita quando disse “vou dormir na sala”.

- Tenho quarto de hospedes, esqueceu? – Disse quase esboçando um sorriso. Ah! Eu não agüentava aquela cara de menina traída que ela fazia, não dava pra associar Mary com uma pessoa romântica – Desconsidera esse pedido tão absurdo, e me desculpa por te envolver nessa minha história complicada.

Mary abraçou-me.

- Fiquei furiosa contigo mesmo – Disse com tom de voz mais ameno – Tinha que trocar meu nome? – Sorriu debochada– Podia ter pensado nela, mas... Droga! Podia ter ficado quietinha, né? Estragou uma ótima transa - viram? O romantismo se foi.

Nós rimos, logo ela pulou na cama e disse que iria ficar ali mesmo, mandou eu apagar a luz e deitar do lado dela. Deitei-me e fiquei olhando pro teto, Mary abraçou-me e logo dormiu, eu não, fiquei olhando os desenhos que se formavam no teto devido a luz que vinha das janelas dos outros prédios que ficavam de fronte ao meu. Naquele instante senti medo, será que nunca mais vou conseguir transar com outra mulher sem pensar em Natasha?



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Capítulo 16: Doces...

(por Karina Dias , adicionado em 14 de Abril de 2007)




... Sábado pela manhã, aproveitei para visitar alguns apartamentos com Mary, ela queria comprar ou alugar alguma coisa o mais rápido possível. Mary era uma mulher muito dinâmica, adorava receber os amigos em casa para festinhas nos fins de semana, odiava silêncio, e por isso estava sempre com o som ligado no último volume... E eu, bem... Eu não estava com clima para receber amigos, e quando estava em casa, precisava estudar... Concordam comigo que ouvir música no último volume, não é nada inspirador? Pelo menos não pra mim, tira completamente a minha concentração... Ela também detestava a minha mania de organização e... Bom... Rodamos a cidade inteira, e minha amiguinha não gostou de nada, pra ser sincera, eu achei ótimo ela não ter gostado de nenhum apartamento, pelo menos a menina ficaria hospedada em minha casa por mais alguns dias, sua presença me fazia muito bem, tá certo que era inevitável pensar, ou sentir saudade de Natasha, mas, minha mente e meu corpo já estavam se acostumando com essa distância, iriam fazer dez dias desde a última vez que eu vira a menina, na verdade eu estava tentando evitá-la mesmo, podemos dizer que eu estava usando um tipo de prevenção para não ficar me martirizando, sim! Encontrar com ela era um martírio pra mim. Por isso, passei a freqüentar menos a casa dos meus pais, não mais buscava Amanda na faculdade, e fazia tempo que não aparecia na casa de Guga, muito menos falava com ele por telefone, nem esporadicamente, o clima não favorecia mesmo. Acreditam que mesmo com tantos cuidados, quase tive uma recaída há dois dias atrás? Sério! Isso porque minha mãe havia me pedido para buscar umas compotas de doces que tia Vera, mãe de Guga, trouxera das Minas Gerais, minha mãe é louca pelos doces que vem de Minas, ela enlouqueceria se eu não fosse buscá-los, tão pensando que é só o pão de queijo que faz sucesso? Que nada, tem que ver o doce de leite com ameixas... Quando estacionei de fronte a casa de tia Vera, buzinei duas vezes, ela não demorou pra vir atender-me, estava no quintal entretida com seus afazeres no jardim da casa, ela mesma quem fazia questão de cuidar das Rosas vermelhas e brancas que enfeitavam a entrada de casa, dizia que era uma terapia... Soube por ela que Guga estava em casa com a namorada, minha tia insistiu para que eu entrasse, ia passar um café, tinha bolo de cenoura... É difícil não conseguir me comprar com bolo de cenoura, mas, não estava preparada para ver Natasha de novo, tá certo que meu coração quase saiu pela boca ao saber que ela estava lá, nesse momento, até cogitei a possibilidade de vê-la, mas, acabei dizendo a tia Vera que eu tinha um compromisso e estava muito atrasada. Ah! Ela tinha trago pão de queijo também.



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Capítulo 17: encontros...

(por Karina Dias , adicionado em 16 de Abril de 2007)




... Duas horas da tarde, eu e Mary paramos para almoçarmos em um restaurante que eu frequentava quase todos os dias quando estava morando com Aline, o restaurante ficava de frente pra praia de Ipanema, era arejado e aconchegante, fazia tempo que não entrava ali, mas hoje, nem percebi que um dia havia evitado estar naquele lugar. Olha como nós seres humanos somos inconstantes, há alguns meses atrás eu não queria se quer frequentar os lugares onde estive com Aline, hoje, ouvir o nome de Aline, ou freqüentar os lugares onde estive com ela, não fazem a mínima diferença, no entanto, não posso nem ouvir o nome de Natasha, me incomoda até passar perto da casa de Guga, claro! Foi lá que eu a conheci, esqueceram? Pensei que tinham esquecido... Bom, o que me incomoda mais nisso tudo, é que com Aline, eu vivi longos dois anos, mas, Natasha, eu mal conhecia, não sabia nada da vida dela, e nunca tive, e nem terei uma história para viver com ela, a única coisa que esta tem me causado nos últimos tempos é frustração, no entanto, a culpa é toda minha, quem mandou me envolver por uma garota tão diferente de mim? Se eu tivesse recusado aquela proposta de Guga, quem sabe eu não a teria esquecido? Tá! Admito que não foi só o sexo que me prendeu a ela, afinal de contas, antes do meu primo tarado fazer a proposta, eu já não tirava a menina da cabeça. Se vocês querem saber, eu poderia ficar aqui horas e horas tentando achar explicação para justificar esse sentimento que tomou uma forma totalmente desconhecida dentro de mim, mas, sei perfeitamente porque me apaixonei por Natasha, e é mais simples do que se pode imaginar: “quando olho nos olhos dela, vejo o que nunca encontrei nos olhos de ninguém”. E então? Deu pra entender? Se é confuso pra vocês, imaginem pra mim.

A tarde estava quente como sempre no Rio de Janeiro, pedimos um chopp bem gelado para brindarmos ao novo tempo que se iniciaria, palavras de Mary, mas, é difícil comemorar um novo tempo estando tão condenada a um passado que teima em se fazer presente, falo isso literalmente, porque bastou Mary erguer o copo para ver Natasha e Amanda entrarem no restaurante, seus cabelos molhados, e a pouca roupa, denunciava que estavam vindo da praia, logo que nos avistaram, Amanda acenou com uma das mãos e veio a nosso encontro, conseqüentemente, Natasha viera também... Tanto lugar nesse Rio de Janeiro, e elas tinham que entrar logo naquele restaurante? Que falta de sorte!

- Oi Cris, tá perdida por Aqui? – Disse Amanda sorridente.

Levantei-me para cumprimentá-las, gelei só de beijar o rosto de Natasha, sem contar a agonia de sentir aquele cheiro gostoso de mar que vinha dos cabelos dela, um cheiro de sal, misturado com areia. Já sentiram esse cheiro? É muito bom.

- Só de passagem mesmo – Disse tentando manter a discrição ao olhar para a amiga de minha irmã. Tarefa difícil, diga-se de passagem.

Mary também se levantou para cumprimentá-las.

- Oi Amanda, lembra de mim? – Disse simpática.

- Mais ou menos... Você já foi lá em casa algumas vezes, não é? – Disse tentando se recordar da fisionomia da menina – Amiga da Cris, certo?

- Quando eu te conheci, alguns anos atrás... Sim – Sorriu debochada, fitou-me de rabo de olho... – Hoje sou sua cunhada – Completou sarcástica, ainda teve a coragem de piscar o olho pra mim. Senti minha face corar. Ela tinha mesmo que dizer isso?

- Você costumava pegar onda no Recreio, né? – Disse recordando-se – Corajosa, eu não me arrisco nem no mar de Copacabana que é super calmo.

- Boa memória... No recreio e na reserva - Sorriu, fitou Natasha por alguns instantes – Porque vocês não se sentam com a gente? – Disse cordial.

Olhei-a com reprovação.

- Não queremos incomodar – Disse Amanda – Desculpe, o seu nome é...

- Pode me chamar de Mary...

- Ah sim! Mary esta é minha amiga Natasha – Depois da apresentação, as duas agiram como se nunca tivessem se visto – Ela sim sabe nadar – Disse animada – Nada desde os cinco anos de idade – Concluiu orgulhosa.

- Que isso Amanda, ela sendo surfista, deve nadar muito melhor do que eu – Disse tímida.

- Engano o seu, a prancha de Surf me ajudava bastante, nado o suficiente para não me afogar - Disse extrovertida – Então... Agora que todas nos conhecemos, sentem-se com a gente e vamos almoçar juntas, tenho certeza que não vão incomodar. Não é, Cris?

- Claro – Disse quase num sussurro – Ela me paga – Pensei.

Amanda olhou para Natasha, a mesma deu de ombros, e logo se sentaram. Para o meu desespero, né? De que adiantou evitar tanto um encontro com a menina? Será que esse tal destino existe mesmo? Se existe, tem como propósito me contrariar, só pode.

- Perdi a fome – Pensei.

Mary e Amanda falavam sem parar, pareciam amigas de infância, enquanto eu e Natasha, mal conseguíamos nos olhar, pra ser sincera, ela quem não me olhava, porque eu, em minha constante impulsividade, analisava cada gesto dela... Qualquer sinal de sorriso, ou de aborrecimento quando notava que eu não tirava os olhos da sua boca, incrível! Eu ficava completamente excitada só de olhar para a boca da menina, e era torturante, porque ela estava exatamente de frente para mim... Foram uma hora e meia de tortura... Podem imaginar? Então fechem os olhos e ouçam também o som gostoso que vinha do mar nos brindando com uma linda trilha sonora, a brisa fresca e inebriante que desalinhava os nossos cabelos... Parecia um sopro de Deus... E “ela” o tempo todo diante dos meus olhos, fascinados de paixão, enlouquecidos de dúvidas... E rejeitado pelo olhar reprovador que era lançado a mim... Um olhar, ora vago, ora indiferente... Ainda não consegui decifrá-lo, só sei que esse romantismo está acabando comigo.

... Deixamos Amanda e Natasha na casa dos meus pais, minutos depois estávamos exaustas no meu apartamento.

- Porque pediu pra elas sentarem com a gente? – Disse aborrecida. Acendi um cigarro.

- Esperou esse tempo todo para me fazer essa pergunta? – Disse sarcástica – Apaga isso, não combina com você.

- Tô me esforçando, droga! – Eu estava brava, nem dei importância ao seu último comentário - Evito vê-la, ouvi-la... E você, na primeira oportunidade, pede pra ela se sentar conosco? – Estava quase aos gritos.

- Cris, acorda! Você tem que esquecer sim, mas, pra saber se esqueceu, precisa estar na presença dela – Arrancou o cigarro da minha mão e espremeu-o num cinzeiro qualquer. Não me importei.

- Você estava me testando? – Disse incrédula.

- Estava sim – Concluiu naturalmente.

- E então Doutora, como me sai? – Disse irônica.

- Bom... Analisando o seu comportamento apático diante da situação... Considerando que você não tocou na comida, não tirou os olhos dela se quer por um minuto, não interagiu na conversa... Ah! Aproveitando a deixa, tomo a liberdade de dizer que eu tive de esforçar-me sobrenaturalmente para entreter sua irmã, isso porque eu não achei prudente deixá-la perceber que você não tirava os olhos da amiga dela... Você está obcecada, Cris! Se fosse minha paciente, não teria alta, e mais, indicaria pelo menos, uns dez anos de análise.

- Nossa! Eu já morri?

- Não, dez anos de análise passam rapidinho – Ligou a TV – Não pode simplesmente evitá-la, tem que enfrentar o problema, se não conseguir esquecê-la, com sorte conseguirá se acostumar com a situação – Sentou-se no sofá.

- É o que diz para os seus pacientes? – Sentei-me ao seu lado.

- Não, com eles sou bem mais rígida – Disse séria, logo um sorriso.

Deitei minha cabeça no seu colo, e dormi com os seus carinhos nos meus cabelos...



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Capítulo 18: Jornalista... Reportagem... Sentimentos...

(por Karina Dias , adicionado em 19 de Abril de 2007)




Acabamos dormindo na sala mesmo... TV ligada... Acordamos com o Sol da manhã batendo na janela. Era Domingo e eu lembrei-me que teria que almoçar na casa dos meus pais, antes, iria reunir-me com o grupo da faculdade para discutirmos sobre o nosso trabalho, já estávamos atrasados com a matéria, isso porque, não sabíamos ainda por onde começar, na verdade, eu nem queria começar... Acho que a covardia de Vitor havia passado pra mim.

Tomei um banho, já passava das oito da manhã, Mary voltou a dormir, agora, descansaria na cama, antes, disse que me encontraria mais tarde na casa dos meus pais.



... A reunião durou pouco mais de duas horas, Vitor nos apresentou a um menino cujo a mãe se chamava Teresa e trabalhava como empregada em sua casa, ela residia com sua família em Vigário Geral, e o garoto que se chama Luciano, seria o passaporte que nós precisávamos para começar nossa matéria, ele prometeu nos apresentar a algumas pessoas que como ele tinham uma história de vida bem marcante sobre o foco que buscávamos, o mundo das drogas. Luciano começou a relatar tudo o que havia vivenciado nesse mundo tão cruel e aproveitador, disse que fumou seu primeiro cigarro de maconha aos nove anos de idade na escola, havia sido presente de um amigo de quatorze anos, que traficava pelos corredores do colégio, que presente, hein? Bom... Aos onze anos o garoto já havia experimentado cocaína e craque, passava as noites caído em becos da favela, e servia de “aviãozinho” para os chefes da boca de fumo; aos doze, fazia pequenos furtos no centro da cidade, e quando não conseguia dinheiro suficiente para comprar cocaína, cheirava cola com outros moleques ao redor da Candelária. Fugiu de casa, passou dois meses longe, quando retornou, agredia sua própria mãe sempre que ela não tinha dinheiro para lhe dar, e furtou os poucos eletrodomésticos que tinha em casa para vender e comprar mais drogas, só não vendeu a geladeira porque não teve como carregá-la sozinho. Aos treze anos, sua vida estava um verdadeiro inferno, já havia fugido da Feben duas vezes, apanhado de policiais e também de bandidos... Estava completamente dominado pelo álcool e pelas drogas, abandonou a família, e foi morar nas ruas do Rio como mendigo... Numa certa madrugada, viu seu amigo de rua morrer de overdose, seu amigo, como ele, era um menino ainda, tinha onze anos... Naquele instante, sua vida passou como um filme na sua frente, olhou a seu redor, e não havia ninguém que pudesse socorrê-los, estava com roupas sujas e rasgadas, pés descalços e cheio de feridas, e logo sentiu um cheiro de morte circulando por entre suas narinas... Adormeceu no colo do amigo morto, e quando amanheceu, chegou à conclusão de que precisava de sua família. Teresa teve receio de receber o filho novamente em sua casa, sentia medo de suas agressões, no entanto, seu coração de mãe falara mais alto. Teresa já havia relatado todo o ocorrido com seu filho para os patrões, os pais de Vitor, que comovidos com a real vontade que Luciano expressou de recuperar-se, custearam seu tratamento em uma clínica de reabilitação. O garoto nos relatou com lágrimas nos olhos, que em suas crises de abstinência tinha a impressão de que iria morrer, às vezes até pensava que havia morrido, e isso, sem dúvida, o fizera querer fugir inúmeras vezes da clinica para se drogar, no entanto, nunca o fez, se iria morrer, morreria tentando se reabilitar, esse pensamento deu-lhe forças, e hoje, dois anos depois de todo aquele pesadelo, Luciano ainda sente os danos que as drogas causaram em seu cérebro, a mais evidente, é a lentidão para aprender, mas, consegue superar as dificuldades com a vontade que sente de viver, está terminando a Quinta série, e participa de uma companhia de teatro fundada por uma ONG em Vigário Geral no intuito de afastar os jovens das drogas.

Gravamos os relatos de Luciano e também anotamos os pontos principais daquele depoimento, já que temos diante de nós um problema, concordam comigo que temos que refletir também sobre as soluções? A ONG em questão era uma delas. Durante todo o seu relato, um nó se estendera em minha garganta, pensei em Guga, e logo tive medo que ele traçasse um caminho semelhante, para a maioria, esse caminho é sem volta, ainda bem que Luciano enxergou isso a tempo...



... Cheguei cedo na casa dos meus pais, Mary ainda não havia chegado. Como estava sozinha na sala, resolvi passar a limpo o rascunho do relato que fizemos de Luciano, e eu ouvi a gravação várias vezes para transcrever para o papel toda a sua história, e embora já soubesse tudo o que estava gravado naquela fita, as palavras do menino teimavam em chocar-me. Estava tão consumida em meus pensamentos... Nem notei que alguém havia aberto a porta.

- Oi – Disse quebrando o silêncio.

- Oi – Juntei umas folhas que estavam espalhadas, quando estou escrevendo alguma coisa, ou até mesmo estudando, deixo tudo desarrumado, na verdade, o que para os outros é bagunça, pra mim é organização... Papeis espalhados numa ordem que eu entendo... São meus papéis, então... Já entenderam, né?

- Sua mãe disse que Amanda estava aqui – Disse a menina tímida.

- Cheguei quase agora, ainda não vi aquela chatinha - Sorri, um sorriso amarelo.

- Bom, ela já deve estar descendo – Olhou em volta – Posso esperar aqui?

- Claro – Apontei o sofá – É melhor se sentar, se ela estiver se arrumando, vai demorar.

Natasha sentou-se... Senti um arrepio da ponta dos pés, até meu último fio de cabelo, logo minhas mãos começaram a suar, e eu já não consegui concentrar-me no que estava fazendo. Estranho sentir essas coisas, dá uma impressão de impotência.

- Tá estudando? – Disse ela quebrando o silêncio.

- Mais ou menos – Comecei a juntar as folhas... Amassei algumas... O barulho do papel mexido intercalava com as poucas palavras que nos limitávamos a dizer.

- Como assim? – Sorriu, um sorriso acolhedor – Está fingindo que estuda?

- Tenho que fazer uma matéria sobre drogas – Respirei fundo, mostrei-lhe a fita balancei-a nas mãos – Aqui tem um depoimento de um garoto de quinze anos que usava drogas. Isso tá mexendo muito com o meu emocional.

- Posso ouvir? – Disse num impulso.

- Gostaria mesmo de ouvir? – Fitei-a quase com gratidão, ela havia se interessado por uma causa minha, nossa! Isso é... Emocionante. Ei! Não é ironia, imagine a mulher que você ama se importando com algo que você está fazendo... Isso não é demais?

- Sim, claro – Sorriu novamente. Já disse que aquele sorriso ilumina a minha vida?

Sentei-me ao seu lado, fitei seus olhos por alguns segundos... Apertei o play... Ouvimos aquele depoimento em silêncio... Stop no gravador.

- O nome dele é Luciano, tinha que ter visto como ele estava emocionado – Entreguei-me totalmente a paixão que aquela matéria estava causando dentro de mim.

- Emociona qualquer um ouvir isso – Disse vulnerável – Como as pessoas entram nessa? Todo mundo sabe que não vale a pena.

- Não sabia que se importava – Olhei-a com admiração.

- Você não sabe nada de mim – Disse ofendida.

- Daria tudo pra saber – Fitei seus olhos com ternura – Às vezes eu fecho os olhos, e imagino você me dizendo tanta coisa, e sua voz é tão... Gostosa – Continuei impulsiva.

Natasha sorriu, um sorriso no mínimo extravagante.

- Defina voz gostosa, Cris – Disse divertida.

- Hum... – Sorri também, me sentindo uma idiota, é claro! Eu precisava mesmo ter dito aquilo? “Não tem o que dizer, fica quieto” lembram dessa frase? Eu costumava usá-la sempre, não sei o que está acontecendo comigo agora – Já ligou para o tele-sexo? – Eu disse mesmo isso? É gente! Para a minha completa decepção... Eu disse.

- Claro que não – Fitou-me séria – Tá dizendo que tenho voz dessas garotas de tele-sexo?

- Eu não disse isso - Aproximei-me um pouco mais da menina, na verdade, perto dela, eu tenho o defeito de ficar assim... Besta! – Um amigo meu, sempre ligava para essas centrais, e sempre dizia que a voz das meninas eram gostosas... Bom... – Continuei envergonhada - Um dia, eu pedi a ele, que me definisse voz gostosa, assim como você fez agora comigo.

- E qual foi à resposta dele? – Disse baixando a guarda.

- Disse que voz gostosa, é aquela que a gente não cansa de ouvir, e também que nos faz sonhar por algum motivo, e nos dá a impressão de ouvi-la a todo momento – Respirei fundo – Sua voz é assim, me faz sonhar por algum motivo e se quer saber, nunca liguei para o tele-sexo – Respirei aliviada, que comparação eu fiz, hein? Senti vergonha de cada palavra que eu disse a ela.

A menina soltou uma gargalhada, claro! Tinha uma idiota na sua frente, né? Ela baixou a guarda completamente naquele instante... Não resisti a sua face alegre... Passei as mãos levemente no seu rosto... Fiz o contorno dos seus lábios com os dedos... Quando dei por mim... Já tinha tomado a sua boca com paixão

- Tá maluca? – Disse aborrecida, afastando os seus lábios dos meus por uns instantes...Continuei indiferente a sua repulsa, abracei-a com o mesmo desejo que me consome todas as noites desde que há vi pela primeira vez, beijei-a com total irracionalidade, sua língua macia se misturava com a minha fazendo ferver todo o meu corpo, deitei-a no sofá, logo meu corpo cobriu o dela... - Pára Cris! – Empurrou-me, não conseguiu mover se quer um centímetro o meu corpo do dela – Alguém pode chegar – Disse com a voz sufocada pelos meus beijos.

- Dá pra ouvir se chegar alguém – Continuei beijando seu pescoço.

- Não acha que você fica animadinha muito rápido? – Disse, fitou-me com aqueles lindos olhos negros... chupou meus lábios com violência.... Depois, empurrou-me mais forte... Levantou-se de sobressalto.

- O poder de Natasha – Disse quase num sussurro, recompondo-me do estado de tesão doentio que eu me encontrava.

- O que? – Disse ajeitando a roupa no corpo.

- Esquece – Disse balançando a cabeça negativamente.

- Cadê sua namorada?

- Cadê o Guga?

- Perguntei primeiro – Disse cruzando os braços, irritada.

- Deve estar com outra – Disse ainda indiferente.

- O que? – Fitou-me confusa.

- Tô brincando – Disse com sorriso amarelo no canto dos lábios – Já deve estar chegando por aí – Levantei-me, respirei fundo, faltava-me o ar... E... Eu ainda estava com aquela sensação de desejo sufocado no meio das pernas, sabe? – E o Guga? – Disse.

- O Guga não foi na minha casa ontem. Liguei mais cedo pra casa dele, D. Vera disse que ele dormiu fora, e ainda não havia chegado – Concluiu desanimada.

- Ah, sim! – Pensei por uns instantes – Ele deve aparecer para o almoço.

- Acha que ele vem? – Disse insegura.

- Eu viria se você estivesse me esperando – Disse novamente num impulso, odeio quando falo as coisas sem pensar, é tão chato! Você pensa... Diz e depois fica com cara de idiota tentando justificar as “merdas” que fala – Quero dizer... Tenho certeza que ele virá, e terá uma boa explicação para não ter ido na sua casa ontem, e também... Por ter dormido fora... - Passei a mão no cabelos, joguei-os para trás...

- Não precisa defendê-lo...

Bateram na porta, logo Mary entrou... Cumprimentou Natasha que não conseguiu esconder o desconforto pela sua chegada. Claro! Eu havia acabado de tentar estuprá-la – Pensei, e diga-se de passagem, que pensamento infeliz, hein? Logo Mary deu-me um beijo no rosto.

- Demorei... Amor – Disse sarcástica.

- Não... Amor – Retribuí seu sarcasmo.



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Capítulo 19: o outro lado

(por Karina Dias , adicionado em 21 de Abril de 2007)




Guga chegou depois do almoço. Ele estava com uma aparência péssima, barba por fazer, roupas amassadas... Cheirava a álcool... Percebi que meu primo discutiu com Natasha na varanda. Depois da discussão, a menina continuou lá, enquanto Guga veio para sala onde nós estávamos. Hesitei em ir até ela, mas, não resisti, era muito mais forte do que eu... Levantei-me da almofada em que estava sentada e dei a desculpa de que iria até a cozinha, realmente passei pela cozinha, dei a volta pela porta dos fundos e sai novamente na varanda. Ufa! Que trabalheira, mas... É que... Vê-la triste simplesmente me frustrava. Natasha estava de pé olhando para a rua. Aproximei-me devagar, estava tão entretida, não queria assustá-la.

- E... Então? – Disse sentindo-me intrometida – Está tudo bem?

- Não – Disse inexpressiva.

- Quer... Conversar?

- Não – Continuou inexpressiva.

- Então tá... – Retrocedi alguns passos - Vou... Te deixar sozinha – Disse com nó na garganta.

- Cris! – Chamou-me antes que eu fechasse a porta.

- Oi – Caminhei novamente até onde ela estava. Natasha começou a chorar... Não resisti ao ver seus olhos lacrimejando, tomei-a em meus braços na mesma hora. Não perguntei nada, apenas deixei-a chorar... Foi inevitável não sentir raiva de Guga por tê-la feito sofrer, qualquer que fosse a razão... Suspirei sentindo o calor do seu corpo esquentar o meu... Fechei os olhos e acariciei os cabelos dela. Engraçado, ela estava ali, nos meus braços, chorando pelo meu primo, e meu coração não parava quieto... Se eu pudesse fazê-lo parar, teria feito... Qualquer pessoa teria feito, é horrível amar sozinha, concordam comigo? Que bom! Assim não me sinto tão só.

Depois que ela enxugou às lágrimas, ofereci-lhe um copo de água, ela aceitou, logo retornamos à sala. Todos estavam conversando animadamente quando chegamos, Guga, Mary, Amanda e Luiz. Nos sentamos ao lado deles para interagirmos na conversa, embora não tenhamos tido tanto sucesso, os três estavam mais interessados nas historias de Mary, do que em nossa presença, na verdade, tive a impressão de que se nós saíssemos dali, ninguém perceberia, tive vontade de chama-la para irmos a outro lugar, mas tive medo, ou certeza de que ela não aceitaria. Diante dessa cruel dúvida, me contentei em ficar olhando-a...

- Cris! Vem cá! – Chamou-me Mary.

Levantei-me e sentei-me ao seu lado.

- Sua namorada é muito show de bola, Cris – Disse Guga sorrindo animado.

- Eu sei – Mostrei-lhe um sorriso falso – Ela tem um arsenal de piadas – Disse irônica.

Mary sorriu e aproximou-se para falar no meu ouvido.

- Tinha que ter ficado esse tempo todo lá fora com ela? – Disse num sussurro, depois sorriu, típico de quem quer disfarçar alguma coisa.

- Ela não está bem – Disse também sussurrando no seu ouvido.

- Isso não é problema seu – Continuou falando baixo, falava e sorria... Como ela conseguia ser tão... Tão... Teatral?

- Eu sei, é que me importo com ela, oras!

- Não devia, ela não se importa nem um pouco com você – Sorriu novamente.

- Você é muito cínica, sabia? – Disse ainda no seu ouvido.

- Obrigada, amor – Disse por entre os dentes - Bom... Gente! – Continuou ela, logo levantou-se da almofada em que estava sentada – A conversa está ótima, mais precisamos ir – Completou.

- Agora? – Fitei-a surpresa.

- Sim, meu... Amor – Seu tom sarcástico era indescritível – Temos muito o que fazer em casa, esqueceu?

Não lhe respondi, despedi-me de todos furiosa por estar sendo obrigada a sair dali e deixar Natasha, por falar nela, dei-lhe um beijo no rosto e aproveitei a distração dos demais.

- Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar – Disse no seu ouvido.

- Não vou te procurar, Cris – Respirou fundo, senti sua respiração perto do meu rosto – Mas... Obrigada – Concluiu olhando-me nos olhos... Quando ela olhava-me daquele jeito, eu perdia o chão.

- De qualquer forma, vou estar sempre te esperando – Beijei-lhe o outro lado do rosto – Tchau – Disse. Alguém viu o meu orgulho passando por aí? Devo ter comprado-o numa liquidação, podem apostar.



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Capítulo 20: muito barulho

(por Karina Dias , adicionado em 23 de Abril de 2007)




A semana seguiu tranquila, embora estivesse preocupada com Natasha, sabia que não podia ajudá-la sem que ela quisesse. Era Sexta-feira, Mary havia saído, mas, deixou um bilhete sobre a mesa, que dizia: “Cris, estarei com umas amigas naquela Boate de Copa, caso queira me encontrar... Bom, sei que não virá mesmo, mas, de qualquer forma, estou no celular. Beijos, Mary.”

Ela realmente estava certa, eu não iria sair esta noite, já passava das onze e meia, se bem que isso não quer dizer nada, as Boates parecem esquentar mesmo a partir da meia noite, mas... Ah! Dormir faz bem, sabiam? Aproveitei o silêncio em casa para terminar de ler um livro que eu comecei há algumas semanas, e ainda não o terminara exatamente pela falta de momentos a sós como aquele, Mary falava pelos cotovelos e eu não conseguia me concentrar em nada com alguém falando sem parar nos meus ouvidos. Banho quente numa cidade como o Rio não combina, mas, ajuda a relaxar, de qualquer forma, sou mesmo uma carioca atípica.

Adormeci antes mesmo de virar a terceira página do livro... Acordei com o telefone tocando. Abri os olhos sonolenta... Preguiçosa levantei-me do sofá para atendê-lo...

- Alô! – Disse quase num bocejo.

- Cris... Desculpa te ligar essa hora, mas... Pode vir até aqui? – Natasha estava aflita do outro lado da linha.

- Aconteceu alguma coisa? – Acho que a sonolência se despediu rapidinho de mim.

- Sim – Uns segundos de silêncio - O Guga não está nada bem, pode vir? – Insistiu.

Desliguei o telefone... Coloquei uma calça jeans... Uma camiseta qualquer que peguei no armário... Tênis nos pés... E sai... Na verdade, retornei até o meu apartamento, havia esquecido as chaves do carro... Quando voltei, o elevador demorava para chegar ao meu andar... Sai correndo pelas escadas mesmo...



... Cheguei na casa de Natasha em menos de vinte minutos, eu estava extremamente preocupada com a falta de detalhes a respeito do que estava acontecendo. A menina não me deu uma pista se quer do que eu iria encontrar na sua casa... Será que teve medo que eu não fosse? Não! Ela devia saber que eu nunca lhe negaria ajuda.

Natasha já estava a minha espera no portão, destrancou-o as pressas quando viu meu carro estacionando de frente para a sua casa.

- O que está acontecendo? – Disse antes mesmo de descer do carro.

- Entra Cris! Eu te mostro – Continuou com poucas palavras, fiquei apreensiva, qualquer pessoa ficaria, detesto suspense e ela, bom... Pelo visto parecia gostar bastante, tendo em vista que não me adiantava nada... Tranquei o carro e entrei...

- Cadê seus pais?

- Estão viajando, só voltam semana que vem – Disse enquanto empurrava a porta que dava acesso a sala... Mal entramos e já dava pra ouvir os gritos de Guga, ele estava totalmente fora de si.

- Tive que trancá-lo no meu quarto – Disse, logo mostrou-me as mãos trêmulas – Ele chegou bêbado, sei lá...

Guga batia na porta e gritava...

- Isso não é só bebida – Bati na porta do quarto onde ele estava – Calma cara! Se você ficar calmo, a gente abre a porta – Disse. Passei a mão nos cabelos, tentando pensar em alguma coisa pra fazer. Chamar minha tia Vera? Meu pai? Um médico? A polícia? O exército? Não! Tínhamos que manter a calma, não acham? Não sei se fiz certo, mas, eu pensei desta forma... Alarmar as pessoas àquela hora da madrugada não seria legal, e Guga ficaria com mais raiva ainda de mim, caso expusesse seu “problema” para sua mãe. Se eu tô errada me desculpem, mas... Tava ruim pra pensar com aquela gritaria toda no ouvido. Imaginem um louco espancando uma porta de madeira e gritando... Poxa! Cada batida na porta era um estrondo no coração.

- Abre essa droga, agora! – Continuou ele furioso.

- Ele tá dando medo... Cris – Segurou minhas mãos.

- Ele tá drogado – Disse – Vocês brigaram? Ele fez alguma coisa contigo?

- Ele está esquisito comigo faz tempo, aí a gente brigou hoje de manhã... Terminamos... Agora de noite, ele chegou nesse estado – Respirou fundo – Ele não fez nada comigo, acho que... Porque consegui trancá-lo aí dentro – Disse com tristeza nos olhos.

- Que merda! – Disse indignada. Guga podia ser tudo, mas nunca fora de agredir ninguém, pelo contrário, ele fugia de brigas.

Fomos para a sala... Ele não nos ouvia, acho que nem dava para nos ouvir. Guga batia tanto na porta... O som sufocava nossas palavras... Natasha trouxe água.

- Acha mesmo que ele está drogado? – Disse preocupada.

- Infelizmente, está sim – Apontei-lhe a porta do quarto – Uma pessoa em seu estado normal, não faz isso.

Ficamos em silêncio por quase uma hora, até que os gritos e os socos na porta cessaram... Natasha destrancou a porta do quarto... Guga estava deitado no chão. Nossa! Olhando-o naquele momento, senti até vontade de chorar, estava bem diferente do cara que eu estava acostumada a ver, parecia outra pessoa. Colocamos Guga na cama... Voltamos para sala.

- Obrigada por ter vindo – Disse – Eu não sabia a quem recorrer.

- Me sinto muito culpada por isso estar acontecendo – Disse desconsolada... Fitei o chão... Lembrei-me do incidente que eu presenciei na Rocinha, será que não foi o bastante para ele cair em si novamente? Meu Deus! O que uma pessoa precisa passar para ter força de vontade e reagir? Sinceramente não sei, acho que só quem passou ou passa por isso poderá responder essa pergunta, porque eu... Não sou ninguém para tentar especular sobre algo que não sinto na pele.

- Por que se sente culpada? – Fez um gesto para nos sentarmos... Tirou-me dos meus pensamentos.

- Fui negligente com ele, nós já havíamos tido um incidente bem sério, alguns meses atrás... Eu simplesmente me calei, e a atitude correta, era ter falado com a minha tia. Quem sabe, isso não teria sido evitado – Sentei-me.

- A culpa não é sua, ele já é bem grandinho, devia saber se cuidar melhor – Sentou-se ao meu lado.

- Eu podia ter ajudado... O deixei muito sozinho, depois que...

- Depois que nos conhecemos – Baixou os olhos... Estava envergonhada.

- É... – Completei hesitante - Muita sacanagem ficar de papo com o cara, gostando da namorada dele, não acha?

- Não gosto de falar sobre isso – Disse desconfortável.

- E nem é hora – Levantei-me – Bom... Acho que ele vai dormir direto. Então... Vou pra casa, e se precisar de alguma coisa, me liga, está bem?

- Já são três horas da manhã, não seria melhor você ficar? – Levantou-se também... Senti o cheiro do seu perfume vindo direto nas minhas narinas - Claro, se sua namorada não for brigar contigo por isso – Concluiu.

- Namorada? – Disse um pouco desnorteada.

- A Mary – Disse – Ela não está te esperando?

- Sim... Não... Quer dizer, ela não está me esperando – Desviei meu olhar do dela – Ela saiu... Foi... Foi... Sei lá! Acho que está com alguma amiga por aí - Conclui.

- Como assim? – Disse e aproximou-se mais um pouco de mim, senti meu coração se contorcer por dentro... Agora o cheiro do seu perfume ficara ainda mais em evidência.

- A gente... Brigou, e ela saiu – Disse num impulso. Bom, foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça, né? Estão pensando que sustentar uma mentira é fácil?

- Terminaram? – Quis saber, fitou-me com os olhos curiosos.

- Não... Quer dizer, não sei – Me perdi completamente no seu olhar.

Nossa! Senti-me deveras impotente em ter que mentir ainda mais para ela, na verdade, eu estava vivendo uma grande mentira, e aprisionei-me nessa farsa a fim de tentar esquecê-la, e o pior de tudo, é que nada adiantou. Estar diante dela, fazia meu coração descompassar na mesma proporção que meus pés ficavam sem chão, e nada impedia as minhas mãos de suarem frio, nem diante das circunstâncias em que nos encontrávamos, em nenhum instante consegui olhá-la sem os olhos da paixão. Engraçado, ela era tão diferente de mim, porque não nos apaixonamos pelas pessoas que estão mais acessíveis pra gente? Porque tem que ser tudo tão difícil? Acho que eu não sou a única a passar por isso...

- Espero que não tenham brigado por eu tê-la chamado aqui – Disse buscando-me novamente dos meus pensamentos.

- Não... Não se preocupe... Quando... Você ligou, ela já não estava mais em casa – Disse insegura, porém, essa desculpa não foi tão falsa, Mary já havia saído quando Natasha ligou, então... Não me cobrem nada! Só quero me sentir melhor, oras! Não deu pra perceber?



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Capítulo 21: incertezas

(por Karina Dias , adicionado em 24 de Abril de 2007)




... Acabei não indo embora, e nós... Não conseguimos dormir, já amanhecia e ainda estávamos conversando na sala, e mesmo diante de toda aquela turbulência de acontecimentos, era maravilhoso estar ao lado dela, ver o seu sorriso, ouvir a sua voz... Cada gesto, cada expressão... Tudo era minuciosamente absorvido pelos meus olhos atentos e maravilhados por estarem diante dela, eu poderia ficar horas e horas admirando aquela face sem nada dizer... Ei! Sem piadinhas a respeito do meu “estado de entrega profunda”... Nossa! Que viagem!

- Tá me ouvindo? – Disse.

- Sim, estou – Ela sempre interrompia meus pensamentos, viram?

- Cris! – Chamou-me, logo me olhou com aqueles olhos negros que tanto me provocavam – Posso... Te fazer uma pergunta? – Disse hesitante.

- Quantas quiser – Respondi de imediato, ela sorriu, um sorrisinho tímido no canto dos lábios.

- O que você viu em mim? – Agora fitou-me séria, e sem o suposto sorrisinho no canto dos lábios.

Confesso que aquela pergunta surpreendeu-me.

- Você é maravilhosa – Disse convicta.

- Não, não... Sou chata, ciumenta, cheia de manias... Aposto que se você convivesse comigo, não iria me agüentar - Concluiu quase brava.

Deu vontade de rir, na verdade eu acabei rindo. Putz! Foi bem engraçada a maneira que ela falou, parecia uma criancinha me olhando e fazendo carinha de emburrada... Que vontade eu senti de beijá-la... Não o fiz, vontade dá e passa - Pensei. Meu pai costuma dizer isso, eu também dizia isso... Pena que as minhas vontades com relação a ela estão demorando tanto pra passar.

- Não acho você chata, ciúme é qualidade quando não é doença, manias todos nós temos, e... Conviver com você, é tudo o que eu mais gostaria de fazer na minha vida – Disse fitando-a também.

- Você diz isso por que não me conhece muito bem – Continuou com aquela carinha emburrada. Vocês precisavam ver que carinha linda era aquela. Nossa! Passaria a vida inteirinha olhando aquela expressão de enfezada.

- Naty – Aproximei-me... Abandonei qualquer precaução que pudesse impedir-me de abrir meu coração para ela naquele instante - Adoraria te conhecer melhor, e quem sabe assim, eu te provaria que gosto de você de verdade.

- Cris... – Baixou os olhos - Qual foi a maior loucura que fez por amor?

- Essa – Levantei seu rosto... Beijei-lhe subitamente, e não houve repulsa de sua parte – É loucura beijar uma mulher que não quer nada comigo. Acho que a maior loucura que já fiz por amor, é amar alguém que não me ama – Disse, logo suspirei enquanto seus olhos não dispersavam dos meus.

- Você não tem como me amar, a gente mal se conhece – Aqueles olhos negros estavam tão penetrantes... Brilhavam diferente naquela noite, e a menina estava tão doce, desarmada...

- É verdade, e é verdade também, que eu mal me conhecia antes de te conhecer, eu pensei que já tinha sentido tudo nessa vida, mas, quando você apareceu, me provou que posso amar muito mais do que já amei – Sorri – Eu até gosto de sentir as minhas mãos suarem frio quando vejo você, ou sentir meu coração quase sair pela boca só por ouvir a sua voz - Fiz uma ligeira pausa - O mundo inteiro fica pequenininho quando estou perto de você... – Mais uma pausa, suspirei – É... Realmente, eu não poderia te amar, mal te conheço, não é mesmo? - Disse irônica, e já com lágrimas nos olhos - Isso tudo o que eu sinto, não deve ser nada demais, um dia passa.

Queria ter ouvido o que ela tinha a dizer, mas, tem coisas que são melhores quando não são ditas... Ouvimos o barulho da porta do quarto da menina, Guga havia acordado, encará-lo depois de ter dito tanta coisa pra Natasha nesse momento, seria difícil, como se não bastasse isso, ainda tínhamos que conversar sobre o que ele andara fazendo ontem a noite.

- Você está bem, cara? – Perguntei-lhe.

- Não preciso de babá – Disse ríspido.

- Tá agindo como criança, acho que precisa sim – Conclui sarcástica.

- Tá querendo o que comigo, Cris? Até parece que você nunca bebeu mais do que devia.

- Era só bebida mesmo? – Encarei-o.

- Tá insinuando o que? – Passou a mão pelo cabelo, sinal de nervosismo – Não tenho que te dar satisfação de nada, a vida é minha, e eu faço dela o que quiser, e você não tem nada a ver com isso - Ficou em silêncio por alguns segundo, logo recomeçou seu discurso – Você tá preocupada comigo mesmo? Acha mesmo que sou tão idiota que ainda não percebi que você só está aqui por causa da Natasha?

- Eu tô aqui porque você não estava bem, do contrário, eu nem teria vindo aqui, estaria em casa dormindo – Respirei fundo - E se eu não me preocupasse com você, não teria passado a madrugada inteira acordada com medo de você fazer uma besteira qualquer.

- Nossa! Deve ter sido um sacrifício enorme ter ficado acordada olhando pra Natasha, isso se vocês não fizeram outras coisas... – Completou debochado.

- Gustavo, agora você está me ofendendo – Disse a menina aborrecida.

- Você não precisava ter chamado ela! – Gritou.

- Você estava descontrolado – Disse perplexa – O que eu podia fazer? Vocês sempre foram tão amigos.

- Disse bem, fomos – Concluiu amargurado.

Respirei fundo novamente, não podia tirar toda a sua razão, por mais que eu o amasse como a um irmão, não conseguia ficar longe de Natasha como deveria, em nenhum momento o respeitei, e não tinha o direito de cobrar respeito dele nesse instante.

- Acho que você está sendo muito radical – Disse.

- Radical? Olha dentro da minha cara, e diz que não gosta dela! – Alterou-se ainda mais.

- Cara, não dá pra conversar contigo hoje – Apanhei a chave do carro que estava sob a poltrona – Eu vim pra te ajudar, tenho certeza que você voltou a se drogar, e isso só vai estragar a sua vida, mas, não se pode ajudar alguém, sem que esse alguém queira ser ajudado.

- Você não respondeu a minha pergunta! – Continuou bravo.

- Que pergunta? Você não perguntou nada pra mim, você afirmou – Disse impaciente.

- Queria estar errado, para poder confiar em você novamente – Seu olhar decepcionado queimou-me por dentro.

- Eu quero o seu bem, mesmo que você não acredite nisso... Não estrague a sua vida enchendo a cara todos os dias como você tem feito, e ficar se drogando, pra fazer o que você fez ontem...

- Sem sermão, tá legal? A sua moral tá baixinha comigo.

- Beleza então! Faz o que você achar melhor – Pensei por um instante – Só mais uma coisa, toma um banho, você tá horrível – Disse.

Não despedi-me dele, dei as costas e sai. Natasha acompanhou-me até o carro. Abri a porta.

- Obrigada por ter vindo – Disse.

- Você já disse isso – Eu estava impaciente.

A menina sorriu, o sorriso mais lindo que eu já vi em toda minha vida. Pronto! Ela me desarmou novamente... Não dava pra continuar aborrecida diante daquele sorriso.

- Cris, pelo clima que ficou lá dentro... Bom... Vai ficar mais complicado de nos vermos, né? – Continuou constrangida - Nós brigamos ontem, e ele... Disse que não quer que eu te veja mais, quer que eu evite ir na casa dos seus pais... E... Deletou do meu celular os seus telefones... Sorte que eu já tinha gravado o número da sua casa, pra uma emergência, sabe? – Disse receosa.

Olhei-a por alguns instantes, agora quase sem palavras.

- Eu nunca serei uma ameaça pra ele – Disse indignada - Na verdade, ninguém será... O mundo inteiro pode amar você, mas se você não amar o mundo inteiro, de que vai adiantar? – Encostei a porta do carro – Você é linda, Naty! As pessoas vão sempre se interessar por você, seja no shopping, na rua, na faculdade... E se você se interessar por uma dessas pessoas, aí sim o seu possessivo namorado corre um grande risco, e de que adiantará tantas proibições se isso acontecer? – Balancei a cabeça negativamente – Ele é um idiota mesmo – Disse.

- Se você estivesse no meu lugar, e a sua namorada... Te pedisse isso... Pra salvar o relacionamento, sabe?

- No meu caso, não iria adiantar me afastar de você... – Pensei por uns instantes, balancei a cabeça negativamente - Não dá pra tirar da cabeça o que tá no coração, Naty! – Dei-lhe um beijo no rosto – Tchau – Disse.

- Tchau – Sussurrou no meu ouvido. Entrei no carro e sai... Não olhei pelo retrovisor, havia muitas lágrimas embaçando os meus olhos.



....Cheguei em casa atordoada, Mary logo acordou com o barulho da porta.

- Onde você estava, Cris? – Disse preocupada – Que cara é essa?

Eu estava literalmente perdida, o mundo parecia estar sob minhas costas, por todo caminho até minha casa, havia pensado varias vezes em uma solução para tantos problemas em minha vida, e vi, que enquanto eu não esquecesse Natasha, eu não conseguiria olhar para frente, e ver a luz... Nossa! Que pensamento... Brega! “ver a luz”? Podem desconsiderar isso, por favor? Bom... O que sinto pela Natasha é muito mais forte do que qualquer sentimento que experimentei até hoje... Conclui que precisava de ajuda urgente.

Mary não precisou ouvir uma só palavra para saber o que eu queria dela, logo beijou-me com paixão, e naturalmente o desejo foi tomando conta de nós duas... Friccionei-a na parede da sala, despi-a rapidamente, ela continuou de pé, ajoelhei-me diante do seu corpo nú, afastei suas pernas, Mary colocou sua perna direita sob meu ombro, e eu fiquei bem embaixo dela, chupei-a até que ela gozasse na minha boca. Já no quarto... Enquanto seu corpo suado roçava no meu, minhas mãos deslizavam pelas suas costas, acariciando-a por completo... Seus lábios e seu hálito quente encostavam no meu pescoço, arrepiando-me inteirinha, arrepiava ainda mais quando ela sussurrava baixinho no meu ouvido, mordia minha orelha e aumentava o movimento do seu corpo sobre o meu... Ela desceu pelo meu corpo, depois senti sua língua tocar o meu sexo com muita vontade... Não resisti e gemi alto, logo ela penetrou-me... Seus dedos dentro de mim, mexia tão gostoso que eu gozei várias vezes na sua mão. Ficamos horas trepando sem parar. Era só desejo... Loucura... Passa tempo... Essa última palavra que me assusta... Mary era o tipo de mulher “perfeita” no entanto... Deixa pra lá... Acho que tenho problemas com mulheres perfeitas...

Acendi um cigarro, logo joguei-o fora.

- Acho que vou parar de fumar – Disse.

- Faz muito bem, vai se sentir melhor – Mary abraçou-me – Você pensou nela?

- Quero esquecê-la de uma vez por todas – Disse magoada.

- Passou a noite com ela? – Disse insistente.

- Não como eu gostaria, já que quer saber a verdade – Peguei o controle remoto ao lado da cama... Liguei o som, na rádio tocava uma música que me fazia lembrar de Natasha, doía tanto que eu desliguei-o imediatamente - O Guga chegou de madrugada na casa dela, estava drogado e ela ligou pra mim, a menina não sabia o que fazer.

- Não sabia que seu primo usava drogas – Disse surpresa.

- Descobri a pouco tempo também, uma vez fui buscar o otário dentro da favela.

- Nossa! Então a coisa é séria mesmo – Pensou por uns instantes – Todos os casos que tratei, de pessoas drogadas, geralmente tinham tendência a serem depressivas, e a maioria delas, sempre jovens que começava a usar drogas, por curiosidade, ou para serem melhores do que eram... Aquela mania de ser o “tal” da escola, sabe? Perder a timidez também era uma desculpa bastante usada – Encostou seu corpo ainda mais no meu, jogou sua perna encima da minha.

- Poxa! O cara tem tudo, uma família que gosta dele, é boa pessoa, tem uma aparência super descolada, não falta mulher pra ele... Situação financeira legal... Não consigo entender o que levou o Guga para esse caminho – Disse indignada.

- Primeira opção, curiosidade! – Disse – Todos se acham super-heróis inabaláveis, já ouvi muita historinha, como: Quando eu quiser parar eu paro... É só maconha... Meus amigos usam e nunca fez mal a eles... Uso para perder a timidez... E varias outras desculpas, as pessoas quando enxergam, já estão no fundo do poço.

- Pensei que naquele dia na favela, ele estivesse no fundo do poço.

- O que aconteceu lá?

- Não gosto de falar sobre isso – Despistei lembrando-me que havia prometido para Guga jamais comentar os detalhes daquele dia de terror. Esse seria o nosso segredo para sempre, lembram?

- Mas... O que te motivou a querer esquecer a Natasha a qualquer custo?

- Hoje de manhã, ela me disse que o Guga pediu a ela que não me vice mais...

- E?

- Eu senti que ela queria se afastar de mim, ainda mais... Deixar de ir na minha mãe, para não correr o risco de nos encontrarmos, riscar o meu telefone da agenda... Entende?

- E isso magoou você.

- Se ele tem esse poder sobre ela, magoa sim. Putz! Não consigo mesmo entendê-la, quando estamos juntas, sempre acontece alguma coisa, mesmo que seja só um beijo... Como ela pode ter tanta certeza que não gosta de mim? – Continuei confusa – Eu quero mesmo esquecê-la, preciso tocar a minha vida, independente da dela.

- Acha mesmo que está pronta para esquecer essa menina?

- Eu quero esquecê-la, isso não basta?

- Já disse isso pro seu coração, Cris?

- Poxa! A gente teve uma manhã ótima, ainda duvida das minhas intenções?

- Você tem razão, a nossa manhã foi maravilhosa, mas, não é por isso que eu vou me envolver nessa maluquice de te fazer esquecer alguém – Sorriu sarcástica – Tá louca, Cris? Meu vasto conhecimento nessa área sentimental, me ensinou que sempre sai perdendo quem tenta ajudar, mas, nós podemos ficar nessa mais um pouco.

- Tá me dispensando Doutora?

- Mais ou menos – Sorriu – Depois de hoje a noite, eu vejo como ficará a nossa história, me convença, Cris! – Disse extrovertida – Quero ver se tem argumentos – Beijou-me...



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Capítulo 22: um novo recomeço

(por Karina Dias , adicionado em 26 de Abril de 2007)






Sábado à noite eu e Mary fomos dar uma volta na praia, estava calor, e a cidade estava repleta de turistas, é bom ver tantas pessoas diferentes ocupando o mesmo local. Copacabana tem uma energia diferente, por isso muitos turistas costumam dizer, que vir ao Rio e não conhecer Copa, é o mesmo que nunca ter estado aqui... Bom, a quem interessar o meu estado de espírito naquele momento: O barulho do mar silenciava as batidas do meu coração, e durante todo o tempo que estive com Mary, senti-me em paz, como se uma força maior me permitisse naquele instante, horas sem a maçante agonia das lembranças de Natasha, até pensei nela, lembrei dos seus lábios, da sua pele, dos seus olhos que tanto me seduzem... Do seu sorriso, no entanto, lembrei-me dela com uma saudade quase que contida, e eu sabia que amar uma mulher como ela seria como atirar-me na escuridão, afinal de contas, não se pode pedir a alguém mais do que se pode ter, concordam comigo? E também, tê-la ao meu lado seria como ganhar um presente de Deus, mas, acho que Deus não me daria um presente tão caro, e digo mais, se por algum motivo ele a colocou no meu destino, pronto! Estou eu falando no “tal destino” novamente... Bom... Certamente não foi para fazer-me feliz como eu gostaria, do contrário, não teria essa distância toda entre nós, nossas diferenças não seriam tão gritantes... No mínimo ela sentiria algum afeto por mim, e também, seu coração não estaria tão comprometido como está. Ufa! Querem mais algum empecilho? Eu tenho mais um, Guga precisava dela ao seu lado, e eu estava sendo deveras egoísta tentando roubar... Ai que palavra horrível! Também acham, não é? Então... Vamos substituí-la por: “tirar a namorada dele”... Sei, sei! Não mudou muito o sentido, mas, as minhas intenções foram as melhores possíveis, igual aquelas que o inferno está cheio.Caraca! Que humor é esse?

Paramos em um quiosque para bebermos alguma coisa, Mary pediu uma cerveja, e apesar de não estar com tanta vontade de beber naquela noite, resolvi acompanhá-la.

- Tá tão pensativa hoje – Disse, logo segurou minhas mãos.

- Há muito tempo não me sentia tão bem, Mary – Sorri pra ela... Retribui o carinho acariciando o seu rosto.

- Você está bem, porque a outra não está por perto – Disse debochada. Ela gosta de me provocar mesmo, viram? Tinha que tocar nesse assunto?

- Por que você torna tudo mais difícil? – Disse quase que indignada.

- Um sentimento não se dissipa da noite para o dia – Tomou um gole da cerveja – Não se engane, acha que eu quero me enganar? Desista dessa idéia de tentar me enganar, desembucha! Como está se sentindo?

- Eu estou em paz – Disse, logo fiquei pensativa... O bom de estar apenas “ficando” com Mary, é que eu não precisava mentir, ela era uma mulher muito bem resolvida, e não alimentava ilusões a meu respeito - Até pensei nela, mas, não como alguém que eu quero ter na minha vida, a vejo hoje, digo, nesse instante pelo menos... Como alguém que eu quero esquecer, e o que é mais engraçado, é que eu quero esquecer, alguém que eu nunca tive – Sorri, aquele famoso sorriso amarelo no canto da boca...

- Sabe, Cris... Acho mesmo que você quer esquecer essa menina, mas, acho também que você está se enganando um pouco... – Ajeitou-se na cadeira, tomou mais um pouco da cerveja... - Se a Natasha aparecesse aqui agora, bastaria um sorriso dela pra você mudar de idéia, e começar a idealizar tudo de novo, e sabe porque? Porque todo ser humano é movido por esperança, e isso incluí qualquer mínimo detalhe... Bom, por isso ela pode ter optado por se afastar... Quer ver? – Sorriu pelo canto da boca, eu sabia que vinha bomba, aquele sorrisinho sarcástico era indescritível - Se a Natasha... Se ela chegasse aqui agora, e... Simplesmente disser que sente saudade de você?

Eu sorri, mas, continuei calada imaginando essa possibilidade. É muito bom sonhar as vezes, não é?

- Pronto! Nem precisa responder, Cris! Já se entregou – Sorriu animada - Mesmo que a menina fale isso sem nenhuma intenção de te dar alguma esperança, seu coração vai absorver de outra forma...

- Acha que eu nunca vou esquecê-la, não é mesmo? – Fitei-a séria.

- Eu não disse isso, estou tentando te dizer que você tem que relaxar mais, deixar as coisas acontecerem, porque, se todos os dias você impuser que tem de esquecê-la, e colocar esse desejo a frente de tudo na sua vida... Concorda comigo que estará apenas se enganado e procurando uma forma covarde de pensar nela?

- Droga! Se eu não tivesse conhecido a Natasha, nada disso estaria acontecendo comigo – Balancei a cabeça indignada.

- Se você não tivesse conhecido a Natasha, você não saberia a grandeza de um amor incondicional – Sorriu, um sorriso acolhedor – Amar quem nos ama é fácil, amar quem não nos ama é uma tarefa árdua e requer compreensão, e paciência. Um dia saberá conviver com isso, mesmo que demore uns... cem anos – Sorriu... Agora debochada. Ela não tem jeito mesmo.

- Obrigada pelo incentivo, Doutora.

- De nada – Disse irônica.



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Capítulo 23: cada vez mais longe

(por Karina Dias , adicionado em 27 de Abril de 2007)




... Domingo de manhã, Luiz foi até a minha casa para conversarmos. Tomamos o café da manhã juntos, como a muito tempo não fazíamos. Engraçado como as coisas mudam na vida da gente, antes de ir para o trabalho, fazia parte da minha rotina ir até a casa dos meus pais para tomarmos o café da manhã juntos, mas, hoje em dia, tudo na minha vida se tornou tão difícil, ou desinteressante, sei lá, entende?! Esqueci de como era bom ter a presença de Luiz perto de mim.

- Esse tempo está engraçado, ontem fez um Sol tão lindo – Olhei pela janela – Hoje tá chovendo e fazendo frio – Suspirei, afinal de contas, dias assim é muito bom para namorar, mas... E a Mary, né? Li os pensamentos de vocês. Ela é mais minha amiga do que qualquer outra coisa.

- Bom pra assistir um filme bem romântico – Disse Mary.

- Opa! Ela também lê pensamentos – Pensei e sorri – Concordo – Disse.

- Vocês estão namorando mesmo? – Fitou-nos confuso.

- Estamos ficando – Continuou ela perspicaz – O seguro morreu de velho Luiz, sua irmã não pode namorar com ninguém agora, ainda está muito doente – Disse sarcástica.

- Desde quando gostar de alguém é doença? – Sentei-me ao seu lado no sofá.

- Desde que não te faça bem – Virou-se de frente pra mim... Sorriu – Eu é que não me arrisco a embarcar na sua.

- Beleza! Se tá me usando, né? Espertinha! - Sorri também – Fica comigo quando dá vontade, sai com outras de vez em quando...

- E o bom disso, é que você também pode sair com quem quiser, quando der vontade – Ajeitou-se novamente no sofá, agora ela podia também fitar Luiz que estava de fronte para nós.

- Acho que estou sozinho até hoje, porque sou meio careta pra essas coisas – Disse Luiz – Não conseguiria dividir minha namorada com outros caras.

- Mas Luiz, aqui ninguém divide ninguém... – Continuou persuasiva e extrovertida como sempre – Nós só estamos ficando, sua irmã está apaixonada por outra, e eu, bom... Eu não estou apaixonada por ninguém.

- Ainda assim, é complicado para mim. Vocês moram na mesma casa, não vai rolar ciúme quando saírem com outras pessoas? – Disse incrédulo.

- Não! – Fitou-me novamente – Concorda?

- Concordo. Somos adultas, e não temos mais aquele sentimento de posse da adolescência, além de que, Mary é muito racional, ela decide tudo – Sorrimos – Se ela diz que não tem nada demais ficarmos com outras mulheres, pode apostar que não tem mesmo – Concluí animada.

- A menos que nos amassemos – Completou ela – Ai a coisa muda completamente.

- Às vezes, te acho tão fria – Encarei-a - Chego a duvidar que você seja capaz de amar alguém, como eu amo a...

- Fala Cris! – Continuou ela – Amar alguém como você ama a Natasha? Tomara que eu seja bem insensível mesmo, desde que cheguei ao Rio, só te vejo sofrendo por causa dessa garota.

- Sei não, mas... Essa discussão de vocês, tá parecendo briguinha de namorados – Disse Luiz.

- Que nada cunhado – Sorriu extrovertida, aquele era um dos seus melhores sorrisos – Sua irmã age muito com o coração, e esquece, que no mundo em que vivemos, sofre menos quem age com a razão... Eu por exemplo, sou totalmente movida pela minha razão, aproveito o que tenho que aproveitar, sem lamentações, é claro. Acho muito triste ficar remoendo pelos cantos o que deixamos de fazer, ou o que fizemos e não deveríamos ter feito, depois, a vida passa e a gente não fez nada.

- Isso é psicologia? - Perguntei-lhe.

- Não, se eu fosse viver de acordo com a minha profissão, não faria metade das coisas que eu faço. Isso é relaxar, e viver – Fitou-me com aquela cara de quem sabe das coisas.

- Preciso de um pouco da sua filosofia de vida Mary – Disse Luiz – Minha vida tá um tédio só – Suspirou - Tô sem namorada, minha rotina se resume a trabalhar e estudar, mas nada.

- Cara, cadê os amigos? – Disse ela.

- Os carinhas da faculdade estão todos namorando, e os do trabalho, são velhos e casados – Balançou a cabeça negativamente – Tô abandonado – Disse dramático.

- Meu Deus! Onde estão as mulheres hetero desse Rio de Janeiro? – Disse abismada.

- Ele tá reclamando atoa – Disse enquanto jogava uma almofada no colo de Luiz – Tem uma menina na faculdade que dá molinho pra ele, mas, o cara não dá a mínima pra ela.

- A garota não serve nem para ficante Luiz? – Colocou a mão na cabeça, logo sorriu. Deve ter sorrido do seu comentário, não acham? Que insensibilidade, oras!

- Não é isso Mary, ela é legal, mas é minha amiga, entende? Sei lá! com amiga não rola – Disse desanimado.

- Nossa! Se eu pensasse como você, não tinha dormido com a sua irmã – Sorriu olhando pra cara envergonhada dele.

- Agora eu concordo com essa psicólogazinha desmiolada – Sorri também – Relaxa Luiz! Porque não dá uma chance pra menina? Ela pode ser o amor da sua vida e você não sabe – Concluí.

- Tá brincando, Cris! Um grande amor, a gente bate o olho e já sabe que é – Pensou por uns segundos – Vai dizer que quando olhou pra Natasha não sentiu isso?

Fiquei quieta por alguns segundos, acho que estava revivendo o instante que olhei pra ela.

- É verdade – Disse melancólica, engraçado, essa palavra “melancólica” me fez lembrar uma menina que conheci no segundo grau, ela dividia seu estado de espírito por momentos, uma vez ouvi-a dizer que estava no seu “momento melancolia”, será que é esse o meu momento? Esquece! – Quando eu olhei pra Natasha pela primeira vez, senti meu coração esmagado no peito, como se nenhuma outra mulher fosse tão perfeita quanto ela – Disse, logo tentei voltar para o meu mundo real, pensar em Natasha era como aprisionar-me em um mundo de sonhos.

- É disso que eu estou falando – Disse entusiasmado – Não quero morrer sem sentir isso.

- Tomara que quando você sentir isso por alguém, tenha mais sorte do que eu, e seja reciproco – Disse com tom de voz magoado porém sincero. – E aquela menina do segundo Grau? Será que conseguiu ser feliz com a professora? Que besteira pensar nisso agora, não é? Claro que sim, quem tem coragem vive um grande amor – Pensei.

- Bom crianças – Disse Mary – O papo tá legal, mas, eu vou na rua aproveitar o dia.

- Tá chovendo, Mary! – Disse e apontei a janela.

- Fala sério, Cris! Desde quando chuva me prende? – Levantou-se.

- Vai pra onde? – Disse curiosa.

- Vou ao shopping ver vitrines, depois vou ao cinema ver um filme bem legal.

- E nem vai me convidar?

- Tá chovendo, Cris!

- Fala sério, Mary! Desde quando chuva me prende? – Disse sarcástica.

Nós rimos.

- Vem com a gente cunhado? Quem sabe não dá de cara com a mulher da sua vida, afinal de contas... Quando a gente menos espera... É que acontece – Disse enquanto caminhava até a janela para examinar melhor o tempo. Ela é boa nisso. Se estivesse ameaçando a fazer Sol, ela sairia, e... Se o tempo estivesse muito cinza, sabe quando você vê que vai cair um dilúvio?Bom... Ela sairia também.

- O convite é tentador, mas... Tenho que passar na casa do Guga. Fiquei sabendo que ele se envolveu numa briga e tá todo quebrado em casa – Disse tímido.

- Sério? Por que não me contou antes? – Fitei-o indignada.

- Na verdade, achei que... Que você não ia gostar de saber... Bom, a Natasha tá lá com ele desde ontem, e como você quer esquecê-la, pensei que não iria querer visitá-lo... Entende? – Disse hesitante.

- Não, não entendo! – Disse aborrecida – Poxa, Luiz! Eu gosto do cara, claro que quero vê-lo, saber como está – Respirei fundo - E... Se ela vai estar lá, não me importa mais.

- Desculpa Cris! Você mesma disse que para esquecê-la, teria que evitá-la – Disse Luiz.

- Eu disse, mas, acho que esse não é o caminho.

- Agora sim tá falando como adulto – Disse Mary debochada, aplaudindo-me para provocar-me – Até vou contigo, não perco essa cena por nada desse mundo – Disse sorridente.

- Vai Mary! Pisa mais! – Concluí aborrecida – Acha que não consigo vê-la e ficar na minha, não é? Pois vou provar que consigo.

- Me surpreenda então, Cris! Mostre que estou errada e que você não vai ficar toda derretidinha quando vê-la.



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Capítulo 24: tortura

(por Karina Dias , adicionado em 30 de Abril de 2007)




Havia um tom desafiador na voz de Mary, e eu, nunca fui boa em desafios, no entanto, nunca fugi de nenhum, questão de honra, entendem? E também, Natasha não podia dominar-me daquela forma, como se minha felicidade dependesse de um sorriso dela, uma palavra de carinho... Um olhar, um gesto... Isso tinha que mudar, e iria mudar, eu acho. Insegura? Vocês nem imaginam quanto.

Chegamos na casa de Guga quase uma hora depois da conversa que tivemos. Minha tia ficou feliz ao nos ver, já Guga... Nem tanto. Continuava indiferente e arredio comigo, mas... Isso vocês já tinham imaginado. Aposto! Natasha não estava no quarto com ele, isso aliviou minha ansiedade, pude respirar mais a vontade. Nossa que drama! Era só uma menina, oras! Seria mesmo, mas era a menina que eu amo, e isso é muito injusto, não acham? Nós deveríamos ter um dispositivo dentro do coração que nos permitisse deixar de gostar das pessoas que não gostam da gente, seria tão bom! E esse mesmo dispositivo poderia também nos fazer gostar daquelas que se encaixam no nosso perfil, não seria fantástico? Bom... Acho que vocês deviam parar de dar ouvidos as besteiras que eu digo... Aproximei-me de Guga que estava deitado na cama...

- Ei! Aprontou o que desta vez? – Disse tentando projetar na minha face um sorriso simpático.

- Briguei com uns caras aí – Disse amargurado – Não gosto de me envolver em brigas... Mas...Quando entro em uma, não quero sair, meu azar desta vez foi que me pegaram na covardia, eram três.

- Machucaram legal, hein? – Disse olhando o rosto dele todo ralado.

- Vai ter volta, eles podem esperar – Disse com os olhos vermelhos de raiva.

- Deixa isso quieto! Vai arrumar mais encrenca, a troco de que? – Concluí.

- Ninguém mexe com a minha namorada e sai ileso – Disse quase furioso.

Fitei-o séria.

- Então, fica bom logo, e corre atrás do seu prejú... Se é que vale a pena.

Mary percebeu que não nos olhávamos com cordialidade.

- Primo! Cê Tá sexy com essa tipóia no braço, hein? – Disse extrovertida.

Minha tia entrou no quarto.

- Crianças! – Disse – Vê se vocês conseguem colocar um pouco de juízo na cabeça desse desmiolado, outro dia chegou carregado em casa, de tão bêbado, ontem meteu-se nessa briga e está nesse estado, amanhã, só Deus mesmo para protegê-lo.

- Não exagera, mãe! – Repreendeu-a aborrecido.

Puxei minha tia num canto, Mary ficou prestando atenção na nossa conversa.

- Tia! Tô com dor de cabeça, a senhora tem remédio?

- Tenho sim, Cris! Está doente? – Balancei a cabeça dizendo que não, e mesmo assim ela colocou a mão na minha testa para ver se eu estava febril, tia Vera era sempre cuidadosa com todo mundo – Não está com febre...A Natasha tá na cozinha, ela pega pra você – Concluiu.

Mary chamou-me.

- Vê se segura a sua onda, tá? – Disse no meu ouvido.

- Fofoqueira! – Disse sorrindo - Tá tranqüilo – Concluí demonstrando confiança.

Tranqüilo que nada, o coração quase saiu pela boca só de olhar pra ela. Natasha estava cortando tomates na beira da pia.

- Oi - Disse aproximando-me.

- Oi, Cris – Continuou de cabeça baixa cortando os tomates que provavelmente eram para a salada.

- Minha tia disse que você sabe onde tem remédio pra dor de cabeça – Aspirei o cheiro bom que vinha dos seus cabelos.

Continuou muda, lavou as mãos na pia, secou-as, logo apanhou uma caixa encima do armário... Retirou um comprimido e deu-me... Depois ela simplesmente voltou até a pia e continuou cortando os tomates... Achei-a estranha, sabe, quando a pessoa só responde o que você pergunta? Isso acontece quando nossos pensamentos estão longe... Ela não olhava pra mim, isso não é irritante?

- Você tá legal? – Toquei seu ombro, ela virou-se... Não olhou-me nos olhos.

- Tô! – Disse fria - Só não estou afim de falar com ninguém hoje – Concluiu... Aborrecida? Meu julgamento foi aborrecida.

- Que bicho te mordeu, hein menina? – Disse magoada.

- Mas que coisa! Será que nunca quis ficar sozinha, sem falar com ninguém? – Fitou-me por alguns instantes – Sou sincera, Cris... Quando não quero falar com alguém eu digo, tá?

- Tá certo! Muitas vezes também gosto de ficar sozinha, mas, nunca disse isso a ninguém desse jeito... Existem mil formas de se falar alguma coisa pra alguém, sem precisar faltar com a verdade – Disse ainda magoada – Mas, isso você só vai aprender com o tempo.

- Desculpa então, da próxima vez eu fico calada – Disse com deboche.

- Precisa não, Tchau - Disse - A gente não se entende mesmo, acho que nem falamos a mesma língua - Pensei.

Dei-lhe as costas... Ela nem respondeu ao meu “tchau”. Além de estúpida é mal educada. Mais uma vez, bem feito pra mim! Engoli o comprimido a seco, logo voltei ao quarto de Guga pisando forte. Engraçado, quando amamos alguém de verdade, ficamos tão vulneráveis que qualquer coisa dita, pode nós levar ao céu, mas também, ao inferno com a mesma velocidade, nem sei se havia tom de grosseria nas suas palavras, mas, esperamos tanto da pessoa amada, que perdemos o senso para destinguir qualquer coisa. Eu queria ter conversado com ela, saber o que a tinha deixado tão calada, e aflita... Sim! Ela não encarou-me em nenhum instante, talvez por saber que se me olhasse, eu veria nos seus olhos alguma resposta para a sua falta de assunto... O que será que o Guga aprontou com ela? Bom... De qualquer forma, acho que dei mais importância ao assunto do que ele merecia. Odeio meu sentimentalismo.

- Tomou o remédio, Cris? – Perguntou-me minha tia.

- Sim – Disse – Minha dor de cabeça parece que aumentou – Pensei.

- Bom, o almoço está quase pronto, e gostaria muito que vocês ficassem – Disse minha tia cordial

- Eu não vou poder ficar – Disse enquanto pensava em uma desculpa.

- Que é isso, Cris? – Olhou-me desaprovando a minha recusa – Vocês nunca vêm aqui em casa, e quando aparecem estão sempre com pressa. Fica só para o almoço, depois deixo você ir, prometo – Sorriu, seu sorriso lembrava o do meu pai - Vai ser bom para o seu primo ter a companhia das pessoas que ele tanto gosta.

- Gostava – Pensei.

- Eu vou ficar – Antecipou-se Luiz.

Olhei para Guga, o mesmo parecia não se importar com a minha permanência em sua casa, ele deu de ombros e desviou o olhar para a TV que estava ligada.

- Podemos ir ao shopping mais tarde – Disse Mary acabando com a desculpa que eu iria dar naquele instante.

- Então tá – Disse desconfortável.

- Ótimo! – Completou minha tia satisfeita.



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Capítulo 25: o caminho

(por Karina Dias , adicionado em 2 de Maio de 2007)




Antes de sair do quarto... Fiz um gesto para que Guga permanecesse mais um pouco, queria tentar uma reaproximação, não sei se seria a hora certa, mas... O que vale é a intenção, não é?

- Tô com fome, fala logo – Disse ríspido.

- O que aconteceu com a gente? – Fitei-o com tristeza nos olhos, eu amava o meu primo, isso era inegável.

- O que aconteceu contigo, né Cris? - Encostou a porta – Você nunca tinha se interessado antes por nenhuma namorada minha. Maior judaria a sua – Disse com rancor.

- Você tá falando besteira – Desviei o olhar.

- Que besteira?! Admite logo que gosta da Natasha, pronto! Vai estar sendo sincera contigo também.

- Você brigou porque? Estava drogado? – Desconversei.

- Não tava, não! Só tinha bebido um pouco – Olhou-me já na defensiva – Nós estávamos na Lapa, naqueles bares, sabe?

- Sei. Nós íamos lá quase toda semana – Sorri ao resgatar aquela lembrança.

- Ontem, tinha uns carinhas cheios de marra – Pensou um pouco – Minha namorada é a maior gata, e eles começaram a falar gracinhas pra ela, fiquei nervoso, e parti pra cima deles com tudo, levei a pior porque eram três, e um deles era sobrinho do segurança do bar, por isso, os seguranças demoraram pra acabar com a briga.

- Se eu fosse você, eu teria ido embora com ela, tantos lugares legais...

- É, mas, ninguém pensa igual, a namorada também não é sua, e eu, não sou você... – Disse bravo.

- Eu sei disso, porque se você fosse eu, não estaria todo quebrado – Disse irônica.

- Nem namoraria a Natasha – Completou debochado.





...Depois do almoço... Luiz iria ao shopping com Mary, eu os deixaria na porta como havia combinado. Depois de tudo o que acontecera hoje, resolvi que precisava ir pra casa ficar um pouco sozinha, eu gostava de ficar sozinha, sempre aproveitava esses momentos para refletir sobre minha vida, tentar achar inutilmente uma resposta convincente pra tudo dar tão errado pra mim, como estava dando. Bom... Despedi-me de Guga que já estava no quarto, logo fui para a sala onde minha tia estava vendo TV.

- O almoço estava ótimo tia – Disse, logo dei-lhe um beijo no rosto... Ela levantou-se.

- Que bom, venha nos visitar mais vezes, Cris – Deu-me um abraço – Você e o Gustavo eram tão grudados, o que aconteceu?

- Faculdade, trabalho...Sabe como é... – Disse desconcertada.

- Esse menino também devia estar fazendo faculdade, ou trabalhando – Olhou-me pensativa – Se estivesse ocupando melhor o tempo dele, talvez não se meteria nessas brigas por aí, conversa com ele minha querida – Segurou minhas mãos gentilmente – Ele ouve você – Completou com aquele olhar maternal que ganhava qualquer pessoa.

- Claro... Vou... Vou conversar com ele sim – Disse encabulada – Então... Até logo, Tia.

- Ah Cris! – Disse impedindo-me de sair - Vocês vão ao shopping, certo?

- Sim.

- Natasha! – Chamou a menina que estava vindo do quarto de Guga – Eu não disse minha querida que eles iam passar perto da sua casa? – Sorriu quando ela se aproximou, eu fiquei desconcertada pra variar - Deixa ela em casa, Cris – Disse fitando-me agora.

Natasha olhou-me constrangida... Desviou o olhar...

- Não precisa D. Vera – Disse ela – O shopping fica antes da minha casa.

- Eu não vou ao shopping – Busquei seu olhar instintivamente. Sabe quando você nem sente o que tá fazendo ou dizendo? - A Mary quem vai com o Luiz, vou só deixá-los em frente, e depois irei pra casa, posso te levar se quiser – Completei a frase num impulso.

- Não quero te incomodar – Suspirou.

- Até parece que você me incomoda – Disse ainda encarando-a – Tá chovendo, eu te levo sem problema.

- A Cris leva você minha filha! – Disse minha tia com ingenuidade – Não será trabalho algum.

- Então... – Fitou minha tia, logo fitou-me também.

- Tô te esperando lá no carro, tá? – Disse antes de ouvir o que ela iria dizer.

- Está bem – Sussurrou.

Mary que também estava na sala balançou a cabeça negativamente e sorriu pelo canto dos lábios... Dei uma olhada rápida nela, e caminhei para o carro... Idiota, eu? Sou mesmo! Não com muito orgulho, é claro, mas... Com muito amor por aquela menininha que me tira o sono. O amor faz isso com a gente, nos deixa passionais...

Nem Mary que costumava a falar pelos cotovelos se propôs a dar um pio dentro do carro, fomos o caminho todo com aquele silêncio constrangedor corroendo nossos ouvidos... Parei no estacionamento, Luiz desceu, Mary deu-me um beijo no rosto...

- Juízo – Sussurrou no meu ouvido.

- Ela tem – Disse também no ouvido dela.

Mary sorriu, logo desceu. Natasha passou para o banco do carona, ao meu lado. Claro! Acham que eu ficaria de chofer pra ela? Tá, eu até ficaria, mas, concordam comigo que ela sentada ao meu lado era bem mais confortável? A visão era melhor.

O silêncio ensurdecedor continuou até pararmos de fronte a casa de Natasha. A menina abriu a porta do carro.



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Capítulo 26: Déjà vu

(por Karina Dias , adicionado em 3 de Maio de 2007)




Fiquei olhando pra ela com aquela cara de: “não desce, não desce!”

- Desculpa pelo que eu te disse, tá? – Quebrou o silêncio.

- Tudo bem, você não estava afim de falar comigo – Dei de ombros.

- Eu estava chateada, e... Na verdade, eu não queria falar com ninguém – Ela estava sem jeito, não sabia onde pôr as mãos, ora descansava nas pernas, ora pousava na fechadura da porta – Quer entrar um pouco? – Disse surpreendendo-me.

- Não, obrigada – Disse insegura.

- Não vai aceitar mesmo as minhas desculpas?

- Já aceitei, só não quero entrar na sua casa – Fitei seus olhos, meu coração ficou pequenininho - Eu tenho medo de você – Disse sem pensar.

- Medo? – Fitou-me surpresa.

- Pavor – Sussurrei – Mas... Esquece isso.

- Cris... – Fitou-me desanimada - Eu sei o que você sente por mim, mas...

- Mas? – Sorri interrompendo-a – Tem sempre um “mas” entre a gente, Naty! – Disse com tristeza - Eu sei que você gosta daquele babaca, sei que sou uma tola por querer ficar perto de você... E...

Natasha desviou o olhar... A chuva começou a cair mais forte, e a menina tornou a fechar a porta do carro que estava semi-aberta. Ela riu, um sorriso no mínimo curioso, será que eu contei alguma piada? – Pensei.

- Engraçado – Olhou-me com simplicidade, não conhecia aquele olhar – Parece que isso já aconteceu.

- Você comigo dentro do carro? – Balancei a cabeça negativamente - Aconteceu mesmo, naquele dia depois da sorveteria... Você fechou a porta do carro, como fez agora, e em seguida, eu te beijei.

- Tô falando da chuva – Levantou a sobrancelha reprovando o meu comentário – Entra um pouco, espera a chuva passar, depois você vai embora – Disse com a voz irresistivelmente doce.

- Acho melhor... Não! – Fitei-a de rabo de olho.

- É perigoso dirigir nesse temporal – Puxou minha mão - Pára de frescura! Entra um pouco.

- Perigoso é ficar perto de você – Pensei - Está bem – Disse.

Natasha sorriu novamente... Olhei-a me perguntando o porque daquele sorriso, ela estava tão enigmática naquele momento.

- Eu já sabia o que você iria dizer. Estranho isso, não acha? – Disse ela divertida.

- Ah... é? Então... O que eu vou dizer agora? – Sorri.

- Nada - Disse – Não vai dizer nada.

Tranquei o carro, e entrei na casa da menina. Natasha trouxe uma toalha, a chuva havia sido muito ingrata, mesmo sendo curto o trajeto do carro até dentro de casa. Nos molhou da cabeça aos pés,

- Café? – Disse ela.

- Não, vai tirar essa roupa molhada, menina! – Disse, logo apanhei a toalha que ela havia trago pra mim, e comecei a secar meus cabelos.

- Vem cá, Cris! – Disse – Tira essa roupa molhada também.

- No seu quarto? – Fitei-a assustada... Com medo mesmo, eu não disse que tinha medo dela?

- É... Sua boba – Sorriu, ela estava sorrindo demais naquela tarde... Isso é muito estranho - vou te emprestar uma roupa pra você não ficar resfriada.

- Tudo bem – Respirei fundo – Engraçado – Disse fazendo mistério - Agora fui eu quem tive a sensação de que isso já aconteceu.

A menina riu, logo fitou-me séria, e pensativa.

- Quando você estava bêbada, me molhou toda no chuveiro do seu quarto – encarou-me.

Meu corpo inteiro tremeu ao lembrar da sensação que eu senti quando eu encostei nela naquela noite.

- Esqueceu de dizer que eu gozei, só de encostar em você – Encarei-a de volta.

- Pára de dizer essas coisa, Cris... Vem logo tirar essa roupa molhada – Puxou-me pela mão, puxei-a de volta... Fitei sua boca com cobiça... Ela molhou os lábios com a pontinha da língua...

- Nossa! – Disse aproximando-me dela – Eu já sabia exatamente o que você iria dizer.

- Ah, é? – Suspirou... Encarou os meus olhos... - O que eu vou dizer agora então? – Aproximou-se também de mim. Só faltava sair faísca dos nossos corpos.

- Nada – Sussurrei – Não vai dizer nada.

Empurrei-a sutilmente de encontro à parede do corredor...Natasha me puxou pela camisa molhada... Meu corpo colou no dela... Minhas mãos em seu rosto acariciando aquela face de menina levada, seus olhos aflitos me passando vários sinais de desejo... Beijei-a em seguida, com toda paixão que havia em meu coração... Um beijo longo e faminto... Sua língua quente entrou na minha boca me enlouquecendo de tesão. Novamente não consegui me conter diante dela... Natasha me provocava, retribuía ao beijo com intensidade, gemia... Mordia a minha boca... Passava a mão no meu corpo... Quando me dei conta estávamos no quarto, ambas desesperadas para tirar aquela roupa molhada... Tentei abrir o zíper da sua calça jeans... Não consegui, fiquei irritada...

- Merda! – Disse.

Ela sorriu, empurrou-me de encontro à cama... Senti minhas costas tocar aquele colchão macio...

- Deixa que eu tiro – Sussurrou... Vocês tinham que ver o que ela começou a fazer, não tinha música, mas, acho que ela achava que tinha, sei lá! Começou a se despir bem devagarinho... Dançando na minha frente, e fazendo aquela carinha de safada que só ela tinha. Nossa! Foi subindo um calor pelo meu corpo, tá! Eu sei que já estava quente, mas... Ela tirou a blusa, jogou na minha direção, sorriu maliciosamente... Continuou esbanjando sensualidade, entrei na brincadeira... Cheguei mais perto e acariciei de leve a pele que ela despia com demora... Logo ela ficou completamente nua, e começou a tirar a minha roupa com a mesma calma que tirou as dela... Foi alucinante! O desespero em busca de ar... Meus olhos viravam de desejo, ela sorria e beijava a minha boca, o meu pescoço... Segurava meus cabelos pela nuca e trazia para onde ela queria que eu a beijasse... Apertei-a mais em meus braços, seu corpo também estava pegando fogo, nossa pele encostada uma na outra, provocava arrepios inimagináveis... Sentei-me bem no meio da cama, e puxei-a para sentar-se no meu colo, senti suas pernas cruzarem a minha cintura... Seu sexo molhava o meu, ela rebolava... Me abraçava forte, nossos seios se tocavam, minhas mãos passeavam pelas suas costas... Meus lábios frios de desejo tocavam o seu queixo... Sugavam os seus lábios... Eram tantos gemidos de prazer, gozamos juntas... Depois daquele orgasmo forte e demorado, continuamos abraçadas, sentindo nossos corpos tremerem, nossa respiração descompassada nos fazendo engasgar com a saliva que era trocada naquele beijo cheio de sede... Os beijos e caricias continuaram, e aquela sensação deliciosa de desejo retornava ainda mais voraz em nossos corpos... Como se não tivéssemos acabado de gozar... Natasha deitou-se na cama... Puxou-me para cima dela...

- Chupa... Me lambe toda – Disse entre os dentes e abriu as pernas me mostrando como ela estava excitada. Segurei suas nádegas com força, puxei-as para que se inclinassem um pouco, e devorei o seu sexo. Logo que minha língua começou a deslizar pelo seu clitóris intumescido Natasha gozou na minha boca... Continuei chupando-a até que a menina se contorceu novamente nos lençóis, enfiei meus dedos e penetrei-a também, ela iria gozar novamente, agora na minha boca e nos meus dedos, mas, puxou-me até que meu corpo cobrisse o dela. Sua face ficara transformada naquele instante, ela mexia tão gostoso embaixo de mim, que não resisti e gozamos no mesmo momento, ainda me recuperando daquela sensação, senti a boca quente de Natasha descendo pelo meu pescoço, suas mãos deslizavam pelo meu corpo, seus dedos macios tocavam a minha pele, suas unhas cravavam na minha carne... Quando a menina começou a me chupar, sua língua me enlouqueceu de prazer.

Eu não sabia o que pensar a partir daquele instante, ela olhou-me como se não existisse mais nada além daquele quarto e de nós duas, continuou a beijar-me com desejo nos olhos, e já era noite quando paramos para conversar.



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Capítulo 27: já me acostumei com isso

(por Karina Dias , adicionado em 5 de Maio de 2007)




Confesso que eu ainda me encontrava em estado de... Êxtase completo... Enfim chegou a hora daquela pergunta, qual? Olha aí em baixo...

- E agora? – Disse receosa, tinha tanto medo de fazer aquele tipo de pergunta... Eu me sentia tão mal por pressioná-la, sabe? Mas, como eu podia deixar aquela dúvida me corroendo depois de tanto prazer compartilhado?

- Estamos no quarto dos meus pais – Disse olhando para o teto.

- Sério? – Dei uma olhada ao meu redor, só então me dei conta de que a cama era de casal, e haviam fotos dos pais da menina sob os móveis do local.

- Sempre quis transar no quarto dos meus pais – Sorriu, um sorriso safado.

- Seus pais ainda estão viajando?

- Estão – Disse – Nossa! Que maluquice a gente tá fazendo? – Balançou a cabeça, logo cobriu-se com um lençol.

- Como assim maluquice? Transar no quarto dos seus pais? – Sorri, beijei-a nos lábios, ela se esquivou do meu beijo.

- Já acabou, Cris – Disse séria.

- Como assim? – Pensei por uns segundos - Você adora me usar! – Disse aborrecida entendendo o motivo daquele "já acabou".

- Você acha legal, comer a namorada do seu primo? Não é uma maluquice?

- Naty... Eu amo você – Disse num impulso.

Ela ficou quieta... Séria...

- Cris, não confunda as coisas – Disse friamente – É gostoso... O que a gente faz, mas... Namorar uma mulher, é algo que não quero pra minha vida, e também, isso não entra na minha cabeça.

- Não consigo mesmo entender essas mulheres...- Pensei - Como assim não entra na sua cabeça? Você fica louca quando eu encosto em você... Depois que rola, você faz essa cara de arrependida e diz que não entra na sua cabeça namorar uma mulher? – Levantei-me de sobressalto, deveras magoada.

- Tuas roupas ainda estão molhadas – Disse – Aonde você vai?

Vesti-me às pressas...

- Vou pra qualquer lugar, bem distante de você – Disse furiosa – Você devia agir menos por impulso, as pessoas podem se machucar, sabia?

Natasha levantou-se...

- Vem! Senta aqui, vamos conversar – Ela estava calma, eu não... Alguém já se sentiu um brinquedinho? Pois é exatamente assim que estou me sentindo.

- Quer me dizer mais o que? Tô me sentindo usada, droga! – Abri a porta – Quando quiser diversão, paga uma garota de programa, tenho uma ótima pra te indicar – Disse sarcástica. Sabe quando você quer magoar alguém? Eu precisava magoá-la de algum jeito.

- Alguém já disse que você é cabeça dura? – Fechou a porta que eu havia aberto.

- Não! – Disse, na verdade não me lembro, mas... Ela não precisa saber, né?

- Pois então serei a primeira a dizer isso pra você! – Fitou-me aborrecida – Eu tenho namorado, esqueceu? E é o seu primo, lembra?

Dei mais uma olhada nos olhos dela... Balancei a cabeça negativamente... Bati a porta ao sair. O que eu podia falar pra ela? Depois também, o sangue foi subindo pra cabeça... Era melhor sair logo de perto dela...



...Cheguei em casa, batendo a porta e jogando as chaves do carro no sofá...Mary estava na sala com Luiz assistindo TV.

- Isso são horas mocinha? – Disse Mary.

- Diz na minha cara! Eu sou uma idiota, não sou?! – Gritei.

- Calma aí, Cris! – Disse Luiz – Que bicho te mordeu?

- Hum... Acho que esse bichinho tem nome e sobrenome. O que a Sta. Natasha Manhães fez com você desta vez? – Disse Mary sarcástica, como sempre, né? Ela nunca alivia.

- A gente trepou muito! – Disse brava, enquanto pegava de volta as chaves do carro para não acordar amanhã e ficar doida procurando, coloquei-as ao lado do telefone... – Depois ela pediu pra eu não confundir as coisas, e o pior de tudo... – Bati forte com a mão na parede da sala – Ai que raiva! – Desabafei irritada.

- Tem pior? – Quis saber Luiz.

- O pior foi dizer que a amo.

- Vai tomar um banho quente, Cris! – Disse Mary, levantando-se e me empurrando em direção ao banheiro – Vou pegar uma roupa pra você, e depois a gente conversa melhor.



...Foi exatamente o que eu fiz, tomei um banho bem quente, e demorado também, tanto que quando terminei, Luiz já estava dormindo e Mary estava no quarto a minha espera.

- Está melhor, Cris? – Bateu de leve com a mão na cama...- Vem cá - Disse. Deitei-me ao seu lado.

- Não! Estou péssima – Abracei-a – Eu sou uma idiota, não acha?

- Acho! Mas, como você gosta dela, isso é compreensível – Abraçou-me também – Aluguei um apartamento, vou fazer minha mudança amanhã – Disse de imediato.

- E você me diz isso com essa calma? – Levantei um pouco o corpo, fiquei apoiava no meu cotovelo... – O que vou fazer sem você aqui? – Fitei-a quase que... Apavorada!

- Vai continuar correndo atrás dessa garota, oras! – Esticou os braços convidando-me para um novo abraço – Até parece que você sabe fazer outra coisa nessa vida – Concluiu sarcástica.

- Ela parece um vício, eu não tenho mais controle – Disse com lágrimas nos olhos...

Tornei a abraçá-la. Mary fez carinhos nos meus cabelos até eu dormir, não disse nada a respeito do meu comentário, e eu também não queria mais tocar no assunto.



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Capítulo 28: Inauguração

(por Karina Dias , adicionado em 7 de Maio de 2007)






Aquela Segunda-feira foi péssima pra mim, Mary havia alugado mesmo um apartamento, e nós, digo, eu e Luiz fomos ajudá-la com a mudança. O apartamento era bem legal, arejado... Eu achei muito grande, afinal de contas, ela iria morar só, e sempre penso que casas, ou apartamentos grandes demais, não combinam com pessoas sozinhas, sei lá! Parece que a solidão bate na porta. Tem sempre aqueles dias que ninguém nos visita, ou não temos lugar algum para irmos, sem contar os dias que acordamos de mau humor e não queremos ir para canto algum,nem ver ninguém... As programações na televisão são péssimas, as músicas na rádio são horríveis... Meu Deus! Eu penso em cada possibilidade, não acham? No entanto, Mary pensava diferente de mim, ou de nós, se é que vocês concordam comigo, né? Ela dizia que lugares pequenos causa-lhe claustrofobia, exagerada ela! Disse também que quando entra por uma porta, a solidão sai logo por outra, por isso, nada podia deixá-la entediada, e como sempre arruma motivos para festejar tudo o que acontece na sua vida, teríamos finais de semana bem agitados naquele lugar. Para começar, Sábado mesmo, nos reuniríamos para uma pequena festa de inauguração do seu lar, palavras dela. Até parece que eu teria alguma coisa para comemorar! Ela me deixou sozinha, pra morar também sozinha naquele apartamento cheio de espaço... Tô sendo egoísta, né? Eu sei, eu sei! Mas, sentirei falta daquela mulher espaçosa me enchendo a paciência.







... Hoje, Terça-feira, Luciano, o filho da empregada do Vitor, nos levou até sua comunidade em Vigário Geral. Conhecemos a ONG que o menino ocupava seu tempo, fazendo atividades tais como teatro e o curso de marcenaria. Luciano nos apresentou a Júlio, um moleque de apenas dez anos, que perdera seu pai a alguns meses atrás, vítima de uma “batida” da policia na favela, o menino relatou que o pai, voltava do trabalho quando tudo aconteceu, ainda era de tarde, beirando às cinco e meia, a comunidade estava em silêncio, quando de repente começou um tiroteio infernal, Júlio e a tia jogaram-se no chão do pequeno cômodo que moravam para proteger-se das balas perdidas que sempre alvejavam as paredes. Deitar-se no chão, sempre fora a melhor forma de se proteger de todo aquele inferno que se estendia ao psicológico. Dentro de quarenta minutos o barulho parou, ainda ficaram deitados por mais alguns minutos no chão, até levantarem-se de sobressalto com o barulho de algumas pessoas batendo na sua porta, foram então informados que Fábio, o pai de Júlio, havia sido baleado, o homem fora levado para o hospital, mas, não resistiu, e faleceu antes de chegar ao mesmo. Alguns disseram que Fábio ainda tentou esconder-se atrás de um veículo que estava estacionado, no entanto, não se sabe ao certo se o trabalhador fora confundido com traficante do local, ou se fora mais uma vítima de balas perdidas nas favelas do Rio de Janeiro, e uma pergunta não se cala, de onde saíra à bala que matara o pai do menino? Dos policiais, ou dos traficantes? Bom, a questão é a seguinte, Júlio só tem dez anos de idade, perdera a mãe quando tinha três anos, vítima de um câncer no estômago, e agora, ainda criança, perdera o pai brutalmente, e para completar, mora com uma tia alcoólatra que bate nele sempre que chega em casa bêbada, e isso significa: todos os dias, no entanto, ele consegue reunir forças para estar participando dos projetos oferecidos pela ONG, e mesmo diante de tamanha dificuldade que se propagou em seu caminho, em nenhum momento aquele moleque pensou em entregar-se ao mundo das drogas, ou mesmo, trabalhar para o crime organizado como geralmente acontece, na falsa ilusão de conseguir “dinheiro fácil”. Júlio trabalha duro como engraxate no aeroporto, e todo o dinheiro que ganha, administra da seguinte forma: 70% utiliza para ajudar nas despesas de casa, e 30% guarda para realizar um sonho, comprar um videogame. Conhecer aquele menino, fora gratificante, porque tudo nos leva a crer que independente das dificuldades que passamos na vida, não devemos arruiná-la ainda mais mergulhando no mundo das drogas, desistindo de ter esperança, e muito menos, devemos desistir dos nossos sonhos, afinal de contas, se vamos pesar os motivos para justificarmos os meios que chegamos até as drogas, os dele eram gritantes, e mesmo assim, manteve a sua personalidade e principalmente, a sua fé na vida.

A semana seguiu e embora não tenha acostumado-me com a ausência de Mary, a conversa que tivemos com Júlio fora essencial para nos animar, não apenas por estarmos vendo sair do papel a reportagem que buscávamos, mas principalmente pela injeção de coragem que um menino de apenas dez anos proporcionou para todos nós... Ficamos sinceramente preocupados com aquele menino, e pensando em como tantas outras crianças estão na mesma situação, a mercê dessa falta de oportunidades que parece uma febre... Sabe, é bem difícil não se envolver com a matéria, ou com as pessoas que nos fornecem a matéria...



... Sábado, liguei para Mary pela manhã, para saber que horas teria que chegar em sua casa, como eu disse anteriormente, ela faria uma comemoração em seu apartamento.



... As nove e meia, peguei Luiz na casa dos meus pais, ele se tornara um grande amigo de Mary nos últimos meses, conseqüentemente, havia sido convidado para a pequena reunião que ela preparara, Amanda também estaria lá, iria com seu namorado, e para completar, fiquei sabendo por Luiz que minha amável psicóloga havia acrescentado a sua lista de convidados, Guga e Natasha... Porque ela não me contou? Simples, minha amiguinha é cheia de surpresas, algumas desagradáveis como essa, mas... Esquece!

Logo que chegamos, deu para notar que aquela simples reunião dera lugar a uma festa bem movimentada, muita música, muita bebida e... Natasha. Realmente havia tudo o que eu queria naquela festa. Concordam?



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Capítulo 29: A festa

(por Karina Dias , adicionado em 9 de Maio de 2007)




Respirei fundo, tentei absorver também com naturalidade um beijo que Guga deu nos lábios de Natasha assim que me viu entrando na sala com Luiz... Mary logo veio nos receber...

- Oi meu amor! – Disse me dando um abraço apertado – Porque demoraram tanto para chegar?

- O trânsito estava péssimo – Beijei ligeiramente os lábios dela, no entanto não consegui ficar indiferente a presença do meu vício, que vício? Natasha! Continuei olhando-a.

- Que desculpa mais esfarrapada, amor – Sorriu, logo puxou meu rosto com as duas mãos, para que eu olhasse pra ela.

- Porque ela está aqui? – Disse já mau humorada.

- Cris, relaxa! – Disse ela sorridente, eu odiava aquele sorriso despreocupado que ela exibia quando eu estava agoniada – Eu tinha que convidar o seu primo, acha que ela não viria?

- Vou pegar uma cerveja – Balancei a cabeça quando vi Guga dar outro beijo nos lábios de Natasha – Hoje não quero nem saber, vou beber todas.

- Bebe, você sabe que minha casa, é sua casa – Sorriu sugestiva – Não precisa ir embora. A cerveja está super gelada.

- Cris! – Chamou-me Luiz – Pega leve, vê se segura a tua onda... Lembra da última vez?

- Tô cansada de pegar leve – Fiz um gesto pedindo que ele saísse da minha frente. Vi quando ele fitou Mary com um olhar preocupado. Minha amiga deu de ombros, despreocupada com o que eu pudesse fazer, ela adorava mesmo ver o circo pegar fogo.



... A festa já se arrastava pela madrugada, e ninguém demonstrava vontade de ir embora, a cerveja estava bem gelada como Mary garantiu, talvez, por esse motivo, eu nem percebera o quanto já tinha bebido, se fechava os olhos, parecia estar numa roda gigante, tudo estava girando ao meu redor... Procurei um lugar mais calmo pra me sentar...

- Você está bem? – Disse sentando no sofá da varanda ao meu lado.

- Não – Tentei não olhar para ela.

- O Guga também bebeu bastante, tá dormindo no quarto da sua namorada – Respirou fundo.

- Porque tá me dizendo isso? – Ousei um olhar desconfiado para ela.

- Tô tentando puxar assunto, sabia? Facilita, vai? – Exibiu um sorriso amarelo no canto dos lábios... - Na verdade, estava procurando o momento certo para falar com você sobre o que aconteceu... Bom...Você saiu da minha casa naquele dia tão transtornada... Que...

- Claro Natasha! – Interrompi-a - Você me enlouquece e depois pede pra eu te esquecer, que tudo não passou de um engano. Como acha que eu me senti?

- Não quero que a nossa amizade acabe – Disse de imediato.

- Amizade? – Fitei-a sarcástica – Não quero ser sua amiga! Não costumo desejar minhas amigas.

- Acho que você está caindo em contradição. Pelo que sei, Mary é sua amiga – Disse quase aborrecida com o meu comentário.

- Mary? – Fitei-a meio que perdida, afinal de contas, Mary... Era o que pra mim? - Pensei.

- Você acabou de dizer que não costuma desejar suas amigas.

- A Mary... A Mary... É diferente – Não podia acreditar! Aquela garotinha estava usando minhas próprias palavras contra mim. Confesso que isso era engraçado, logo eu que sempre me sai tão bem das situações, perto de Natasha ficava literalmente sem respaldo.

Ela sorriu percebendo que eu não tinha o que dizer.

- Podemos ser só amigas?

- Você está linda! – Disse ainda mais encorajada pelos efeitos do álcool.

- Pára, Cris! – Baixou os olhos, acho que ela tinha algum problema com elogios, mas, era linda mesmo! Queria que eu dissesse o quê?

- É linda mesmo! – Sussurrei - Não gosta de ouvir isso? Ou não gosta de ouvir isso de mim?

- Você exagera demais – Fitou meus olhos. Pronto! Ela não precisava de mais nada... Só aquele olhar bastava para roubar a minha alma... Passei de leve meus dedos no seu rosto... Natasha fechou os olhos enquanto eu fazia o caminho dos seus lábios...

- Eu Juro! – Disse com coração apertado... Mais uma vez mostrando a ela toda a minha fraqueza - Queria tirar você da minha cabeça...Do meu coração... E nunca mais sofrer por te amar tanto – Sentei-me mais perto da menina, olhei para o lado, haviam duas amigas de Mary se beijando, Natasha também percebeu que elas namoravam.

- Acho que todos nós bebemos demais – Disse enquanto tentava absolver aquela cena com naturalidade... Ela ficou constrangida.

Minha luta interna começou a ficar mais árdua... Olhar pra ela e não querer beijá-la era inegavelmente impossível, aqueles lábios exerciam sobre mim, um domínio maior que meu próprio orgulho, e não lembrava-me de ter aberto mão anteriormente do meu orgulho por outra mulher, e pensar que por ela, meu orgulho simplesmente não tinha a mínima valia. Quase supliquei por um beijo, Natasha olhou-me com aquele olhar que eu conheço como ninguém, um olhar hipnotizante, que tira-me até a noção de quem sou eu.

- Eu nunca quis tanto uma mulher – Disse encarando-a com o coração já pulsando mais forte, logo segurei suas mãos... As mesmas estavam tremulas... Frias...

- Quis? Não quer mais? – Acariciou minhas mãos que estavam sobre as dela.

Não sabia qual era o jogo dessa menina, mas, tenho que confessar que Natasha tinha as melhores cartas nas mãos, sabia exatamente como me dominar, e fazia isso como ninguém. Ela olhou novamente para as meninas... Percebeu que ambas estavam mais consumidas no que estavam fazendo do que em nossa conversa, quando ela virou-se novamente, segurei seus braços e puxei-a para mim, senti seu corpo colado no meu, no mesmo instante que beijei aqueles lábios cheios de feitiço. Natasha retribuiu o beijo, mas, tentou se esquivar quando minhas mãos desceram até suas coxas, logo sua resistência acabou, bastou beijar e morder de leve o seu pescoço...Meu rosto se perdia nos cabelos dela, enquanto eu acariciava suas costas com a ponta dos dedos... Ela adorava isso, conseguia ver nos seus olhos. Coloquei minhas mãos cheias de tesão por baixo da sua blusa e toquei nos seus seios rígidos e quentes, minha boca estava aguando por vontade de chupá-los, e a essa altura, minha calcinha já estava toda molhada, e a cabeça não controlava mais os atos... Não dava para controlar mesmo... Cadê as minhas mãos? minhas mãos já estavam de baixo da saia da menina, meus dedos entravam no seu sexo excitado e ela gemia no meu ouvido, não demorou e ela gozou na minha mão, gozei também só de tocar naquela mulher maravilhosa... Bom, depois que voltamos para a realidade... As meninas que estavam trocando beijos perto de nós... Nos olhavam agora... Atônitas, posso garantir, afinal de contas, para todos os efeitos, sou namorada da Mary, e elas... Bom... Elas são amigas dela.Conseguem entender a gravidade da coisa? As meninas levantaram-se sem pronunciar uma só palavra, uma delas, puxou a porta de vidro que nos separava da sala, e em seguida, fechou-a estrondosamente, completamente indignada com o que vira, logo o som repentino que veio daquele cômodo fora sufocado novamente, fazendo o silêncio prevalecer entre nós. Ficamos alí, inertes, por cerca de cinco minutos, nos olhávamos ainda tentando encontrar palavras para dizermos uma à outra. De repente, Natasha levantou-se, não conseguia esconder o nervosismo.

- Elas vão contar para Mary – Disse com uma mão na testa e outra na cintura.

- Relaxa – Tentei acalmá-la... Deveria dizer que eu e Mary éramos uma farsa?

- Tá louca? Sua namorada não vai gostar nada disso – Começou a andar de um lado pro outro na varanda – Desrespeitamos a casa dela, Cris!

- Devia estar preocupada com o Guga, não com a Mary.

- O Guga que se dane! – Disse nervosa – Quer dizer... Acha que ela irá contar pra ele?

- Senta aqui – Puxei-a pelas mãos... Nos sentamos no sofá... – Não se preocupe com a Mary – Passei a mão de leve no rosto aflito de Natasha – Será que você não sente nada por mim? Sempre que estamos juntas, alguma coisa acontece... Não é possível que eu seja tão burra para não saber destinguir quando uma mulher sente prazer – Fitei seus olhos, eu queria discutir o relacionamento, viram? Claro! Bem ou mal, nós tínhamos um relacionamento, carnal, mais tínhamos.

- Cris... Eu... Eu não sei o que dá em mim, quando você está perto, eu fico um pouco perdida – Disse hesitante – Desde que nos vimos pela primeira vez, você me olha tão diferente.

- Naty, eu te amei desde o primeiro instante que te vi.

Tornei a beijá-la... Ela esquivou-se do beijo.

- Me dá um tempo, Cris – Disse insegura – Não dá para aceitar o que eu sinto, quer dizer... O que eu acho que sinto... É complicado demais.

- Não acredito que estou ouvindo isso! – Sorri completamente tomada por uma felicidade que não me lembrava ter sentido antes – Nem nos meus sonhos mais intensos tive a pretensão de ouvir isso de você, e olha que eu sonho com você todos os dias, hein?

- Cris, é lindo o que você sente por mim... Tudo o que me diz...Mas...Esquece o que eu acabei de dizer... Nem sei porque disse... – Dispersou-se até sacada da varanda – Isso não está certo! Eu namoro o seu primo, e você tem a Mary, ela é uma pessoa muito legal.

- A Mary não irá se importar, pode ter certeza... – Disse enquanto ia a seu encontro, fiquei atrás dela... Aspirei o cheiro bom que vinha dos seus cabelos - O Guga, a gente conversa com ele, vai ser difícil no começo eu sei, mas...

- Não viaja, Cris! – Disse angustiada enquanto virava-se de frente pra mim – Tem também os meus pais, eles me matariam se soubessem de uma coisa dessas... Nunca poderia te assumir, entende?

- Pára de pensar nos outros, pensa em você – Abracei-a – Fica comigo, Naty! Me dá uma chance de provar que todos esses seus medos são naturais, mas, são também totalmente superáveis.

- As coisas não são tão simples quanto você está dizendo. Tenho que pensar... Preciso pensar...

Antes que eu pudesse dizer qualquer palavra para rebater sua resistência, a porta se abriu. Não tivemos tempo para nos recompormos. Era Amanda, minha irmã nos olhou condenando o que vira. Estávamos a um passo de um beijo.

- O que esta acontecendo aqui? – Disse visivelmente aborrecida.

- Amanda...

- Não tente me enrolar com suas desculpas, Cris! – Disse brava – A Natasha é minha amiga, e namorada do Guga.

- Eu sei, mas... Eu amo a sua amiga, como nunca amei ninguém na minha vida – disse sem receio. E não me venham achando que eu estava encorajada pela bebida, não! Eu estava encorajada por tudo o que li nos olhos da menina.

- Cris! – Natasha olhou-me surpresa, e deveras aborrecida com minha “confissão” – Enlouqueceu de vez?

- Acho que sim! Se o meu amor por você é loucura, pode me chamar de louca, ou do que você quiser... Eu não ligo mesmo.

- Não estou entendendo nada – Disse Amanda nos olhando perplexa – Vocês estão tendo... Tendo um caso?

- Não Amanda! – Disse ríspida, logo respirou fundo... Estava com a voz tremula – Eu sou a namorada do primo de vocês, e a sua irmã devia parar de me dizer essas coisas. E... E você também não devia levar tão a sério o que ela está dizendo, sua irmã está bêbada – Concluiu severa.

Fitei-a decepcionada, acho que eu sempre a olhava daquela forma depois das nossas conversas, nós nunca chegávamos mesmo a um consenso. Continuei calada, na verdade, o que eu teria para dizer, depois de ouvir tudo aquilo dos lábios da mulher que amo? Foi um alívio quando elas deixaram aquele lugar, tá certo que eu fiquei com um imenso nó na garganta, mas... Melhor a ausência dela, do que ter que aturar suas palavras mordazes... Pra vocês entenderem melhor: “ vai... se você precisa ir... Não quero mais brigar esta noite... Nossas acusações infantis... E palavras mordazes que machucam tanto... Não vão levar a nada como sempre... “ ( Quando você voltar / Legião Urbana / A tempestade), como uma luva!

Fiquei debruçada nas grades da varanda intermináveis minutos. Olhando os veículos turvos e minúsculos, estes pareciam tão inofensivos sendo vistos do sétimo andar, atordoada como estava, passou pela minha cabeça que se eu me jogasse daquela altura, nem iria ferir-me, e acho que não iria mesmo, mas ferida do que eu estava desde que conheci Natasha, eu não poderia ficar. Senti um toque suave no meu ombro direito, logo, todos aqueles pensamentos mordazes se desfizeram. Ei! Acho que gostei muito dessa palavra: “mordazes”.

- Tá me traindo? – Sussurrou Mary bem humorada no meu ouvido.

- Desculpa pelo que aconteceu.

- A Natasha e a sua irmã foram embora, Guga tá dormindo na minha cama, e o Luiz tá desmaiado no sofá da sala.

- Suas amigas provavelmente me entregaram pra você, não é? – Disse desanimada.

- Sabe que sim – Passou a mão pelo meu ombro – Não me importo com isso, Cris. Queria que vocês duas se entendessem de vez, mas... Pelo visto, andaram brigando novamente.

- A Amanda nos viu abraçadas, ficou indignada, e depois... Você já sabe, a Natasha me deu mais um fora daqueles... Saiu, e eu não pude dizer mais nada.

- Duvido que você tivesse algo para dizer – Puxou-me – Vamos – Disse quase num suspiro – Todos que tinham de ir embora já foram, o outro quarto já está arrumadinho para nós dormirmos, toma um banho bem gelado pra passar esse seu porre, e também ajudará a esfriar essa sua cabeça, depois deita e dorme, amanhã é outro dia.

- Ela está confusa – Disse.

- Está confusa, mas, não perde a oportunidade de te magoar – Concluiu com semblante pesado.



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Capítulo 30: Mudanças

(por Karina Dias , adicionado em 11 de Maio de 2007)




Já passava das onze da manhã de Domingo quando acordei. Uma dor de cabeça insuportável denunciava que o dia não seria dos melhores. Mary estava na cozinha.

- Bom dia! – Disse ela – Dormiu bem?

- Apaguei – Disse e fiquei pensando em como ela podia estar com aquele bom humor todo.

- Café? – Sorriu pra mim.

- Claro – Não sorri de volta.

Luiz e Guga acordaram em seguida. Mal pude olhar o meu primo nos olhos, sentia-me deveras culpada por ter deixado as coisas tomarem à proporção que aí estavam. Bom, em outro tempo, nós já estaríamos sorrindo um para o outro, e descontraindo o ambiente, no entanto, diante de tudo o que estávamos vivendo, um bom dia, já era satisfatório. E põe satisfatório nisso!

- Natasha, onde está? – Disse ele ansioso – Não há vi no quarto.

- Bom dia também, Guga – Disse Mary irônica – A Natasha foi pra casa com Amanda e o namorado.

- Desculpa – Disse ele – Bom dia para todos... Então... Eu já vou indo galera... Tenho que passar na casa dela... Nossa! – Estava visivelmente confuso - Eu... Eu bebi tanto ontem, não me lembro de nada...

- Toma um café Guga, acabei de fazer – Disse.

- Obrigado, Mary – Passou a mão pelo bolso da calça – Eu faço isso na rua – Disse aparentemente perturbado – Tchau gente.

Logo que ele saiu, foi inevitável o olhar de nós três se cruzarem, afinal de conta, mal entendemos o porque de tanta pressa, Guga não costumava ser assim, pelo contrário, descansado como era, sempre fora o último a sair da casa dos outros quando tinha festa, sempre esperava o outro dia, pois, na maioria das vezes comemora-se tudo novamente. Preferimos não comentar o assunto, estávamos cansados demais para qualquer especulação.

- Vamos à praia crianças? – Disse irônica.

- Não, Mary – Disse desanimada enquanto terminava o café – Vou para casa, preciso ficar um pouco sozinha, colocar os pensamentos em ordem.

- E você Luiz?

- Tenho que estudar, estou pendurado – Balançou a cabeça frustrado – Inclusive, já está na minha hora, me dá uma carona, Cris? – Disse.

- Claro! Assim aproveito para ver nossos pais – Levantei-me para dar um beijo em Mary e ir embora.

- Sozinha eu não fico, amor – Me beijou – Obrigada pelo beijo, mas, você me deixa na praia também, certo? Vou só trocar de roupa, já volto.

Sorri da sua irreverência matinal, voltei a sentar-me, ela iria se arrumar, com isso, adianto que ela demoraria o bastante para eu me cansar em pé... Mary foi para o quarto trocar-se, enquanto eu e Luiz conversávamos na cozinha. Falávamos sobre as provas da faculdade, e de como estavam sendo difíceis quando Mary voltou do quarto... Estava pálida, com o semblante pesado... Mary nos olhou, em seguida jogou algo sob mesa.

- Acho que seu primo perdeu isso – Disse séria.

O objeto referido, era um saquinho com um pó branco dentro, pesava mais ou menos 5gr. Tornamos a nos olhar... Os três ao mesmo tempo...

- O Guga tá usando droga?! – Disse Luiz quebrando o silêncio.

- É Luiz... Eu queria estar errada quanto a isso, mas... Posso apostar que não é de hoje – Levantei-me enquanto desamarrava o saquinho – Vou jogar isso no ralo – Disse.

Abri a água e deixei o pó se misturar com ela em direção ao ralo da cozinha... Bom, aí estava a prova real das minhas suspeitas... Suspeitas? Na verdade, eu tinha certeza, mas, daria tudo para estar enganada, então... Acho que vocês entenderam.

- Cris, temos que levar um papo sério com tia Vera, ela nem deve desconfiar que isso está acontecendo – Luiz estava aflito.

- Bom gente, eu sei que isso é um assunto de família, e eu nem deveria me meter, mas, acho que seria mais prudente, antes de contar uma coisa dessas para a mãe dele, conversem primeiro com o Guga, quem sabe vocês não o convencem a procurar um tratamento – Disse com seriedade.

- Mary, você é mais do que da família pra mim, é minha melhor amiga, preciso mesmo da sua opinião – Respirei fundo, acho que não era hora de tapar o Sol com a peneira - Acha que eu já não tentei conversar com ele a respeito disso? O Guga sempre nega, e não dá para ajudar alguém que não quer ser ajudado.

- Desde quanto sabe que ele é viciado?

- Pra ser sincera Luiz... Tem meses que desconfio disso, na verdade, tem meses que praticamente tenho a certeza que o Guga é um usuário – Disse mortificada. Porque não contei sobre o ocorrido na Rocinha? Era o nosso segredo pra sempre, esqueceram?

- Podia ter me contado, eu conversaria com ele – Fitou-me desapontado.

- É! Devia mesmo, mas... – Uma ligeira pausa - Ele nega, Luiz! Fervorosamente... E eu, estou tão sem crédito com esse desmiolado, que seria bem capaz dele te convencer que inventei tudo isso para prejudicá-lo.

- Poxa, Cris! – Colocou a mão no meu ombro – Acha mesmo que eu não acreditaria em você? – Disse solidário.

- Ultimamente eu acho tudo errado, mano – Concluí.

... Bom, não chegamos mesmo a um consenso... Luiz ficou de conversar com Guga, mas, acho pouco provável que ele conseguisse fazê-lo entender os riscos que corre sendo um usuário de drogas. As pessoas sempre acham que tem o controle sobre as coisas, e acabam afastando-se das outras que querem ajudá-las. Guga se afastaria de Luiz, como se afastou de mim, tá certo que não seria pelos mesmos motivos, no entanto... Se mostraria arredio com qualquer opinião que não fosse de encontro a sua.



... Deixei Mary na praia de Botafogo, logo levei Luiz até a casa dos nossos pais, não entrei para cumprimentá-los, como disse que faria, estava cansada e sem paciência para nossas conversas familiares. Cheguei em casa pouco depois de uma da tarde. Havia uma movimentação no prédio, alguém estava mudando-se para o apartamento de frente ao meu. Logo pensei que seria insuportável descansar ouvindo aqueles móveis sendo arrastados pra lá e pra cá. Estava abrindo a porta do meu apartamento quando alguém me chamou...

- Hei! – Disse ela.

- Eu? – Olhei pros lados... Não havia mais ninguém. Que idiota! Claro que era eu!

- Boa tarde. Será que você pode me ajudar com essas coisas? – Disse. A moça em questão segurava uma pilha de livros.

- Ajudo sim - Peguei alguns para ajudá-la, logo entramos no apartamento dela.

- Pode pôr tudo em cima deste sofá – Disse e sorriu agradecida.

Coloquei os livros no local indicado... Sei que vocês vão achar falta de educação o que vou dizer, afinal de contas não é legal entrar na casa dos outros e ficar reparando, mas, foi inevitável não olhar em volta de nós, tive dó daquela moça, estava uma bagunça daquelas... Tudo completamente desarrumado.

- Você está fazendo essa mudança sozinha? – Não resisti, tive que perguntar.

- Não! Haviam três amigos me ajudando, só que eles tiveram de ir embora, e essa bagunça toda ficou para eu arrumar sozinha – Respirou fundo, exibiu um semblante exausto – Desculpe a bagunça – Disse.

- Não se desculpe, mudança é assim mesmo – Sorri tímida – Bom... Acho que ainda não sei o seu nome. Meu nome é Cristina, mas pode me chamar de Cris – Estendi a mão.

Ela sorriu...

- Que mancada, Cris! Meu nome é Beatriz, pode me chamar de Bia se preferir. Obrigada por ter me ajudado. Estou perdida com tanta coisa para arrumar.

- Bom, se quiser ajuda...

- Não! De forma alguma, você está com uma carinha de cansada.

- Vamos! Deixa eu te ajudar... Política da boa vizinhança, já ouviu falar? – Sorri sem graça... Porque será que eu queria ficar ali, na companhia de uma estranha?

Beatriz sorriu novamente, há muito tempo eu não via um sorriso tão bonito, só não conseguia superar o sorriso de Natasha, pronto! Já estava pensando nela outra vez. Mas que merda!

- Bom... Se é assim, eu aceito a sua ajuda, mas, com uma condição – Fez cara de suspense, porque será que mulher gosta de fazer esse tipo de charminho? Eu que sou mulher não sei responder.

- Qual?

- Ainda não almocei, almoça comigo? Odeio almoçar sozinha – Sorriu – Diz que sim, vai? – Disse engraçada.

- Deixa eu pensar... – Fiquei em silêncio por alguns segundos – Também não almocei, convite aceito.

Beatriz era uma mulher muito bonita, simpática, gentil... Arrisco dizer que há muito tempo não via uma mulher tão interessante. Tinha a pele bronzeada de sol, nada muito exagerado, apenas dando um tom saudável na sua cor, cabelos lisos na altura dos ombros, exibiam um tom de mel parecido com os seus olhos, sem deixar de reparar no seu corpo, confesso que ela deixaria qualquer pessoa com segundas intenções.

Já passava das três quando terminamos de arrumar boa parte da bagunça. Pedimos o almoço pelo telefone, havia um restaurante italiano muito bom na esquina do prédio.

- Nossa, Cris! Nem sei como te agradecer, você caiu do céu, sabia?

- Caí do inferno, depois de tudo que tem acontecido na minha vida – Pensei – Estou muito longe do céu – Disse e sorri, aquele sorrisinho amarelo que vocês já devem ter se acostumado.

- Nossa! Você não é uma vizinha pessimista, é? - Forçou uma fisionomia séria.

- Não se preocupe, otimismo é o meu nome. É que ontem não dormi muito bem – Respirei fundo, desanimada – Só isso – Completei num sussurro.

- Tsc, tsc... E eu aqui te alugando – Disse – Bem que notei sua carinha de cansada quando chegou.

- Nada sério – Disse cínica imaginando como era ruim estar na minha pele - Só tive uns probleminhas por aí.

- Aposto que foi com o namorado.

- Não, não tenho namorado.

- Tem namorada? – Disse sem receio.

Engasguei com o refrigerante que bebia. Pergunta mais inusitada aquela. Concordam?

- O que? – Fitei-a desconcertada.

- Desculpa... Cris! Não tive a intenção de te deixar constrangida – Disse arrependida - Me desculpa mesmo se fui muito ousada, afinal de contas, mal nos conhecemos.

Balancei a cabeça, sorri... Ela ficara engraçada com aquela cara de: “cometi um erro”

- Não tenho namorada, não... Mas, e você, Bia? Tem namorado ou namorada? - Disse para removê-la daquela saia justa em que se encontrava.

- Bom... – Fitou-me aliviada, à vontade também, posso arriscar - Já tive namorados... Namoradas... Hoje, estou sozinha.

- Acredito que por opção, né? Você é muito bonita... Agradável...

- Eu reconheço uma cantada de longe, seus olhos não dizem que quer me cantar.

- E não quero mesmo, mal nos conhecemos – Sorri pelo canto da boca – Não costumo cantar ninguém a primeira vista, sou meio conservadora, entende? – Brinquei... Ela sorriu.

- Sei bem como é... Ah! Os vizinhos comentaram sobre você – Disse sem expressar nenhum receio - Falaram coisas boas, embora tenham dito que você é lésbica, como se isso fosse defeito.

- Nossa! Não sabia que meus vizinhos falavam de mim.

- Dentre tantas coisa, disseram que você é uma ótima vizinha, é reservada, educada... Prestativa, eu descobri sozinha.

- Você trabalha com o que? Tem tantos livros – Abri um que ainda estava no sofá – Faz medicina?

- Sou Médica – Disse – Pediatra – Concluiu.

- Nossa! Quantos anos tem? Não tem cara de médica – Disse num impulso, depois fiquei com vergonha do interrogatório, e mais ainda da minha cara de idiota, ela parecia tão novinha para ser médica. Tá bom! Sei que isso é bobagem, afinal de contas, médico é médico, independente da idade.

Beatriz sorriu.

- Tenho trinta e um.

- Te ofendo se disser que parece ter menos idade? – Disse receosa.

- Claro que não! – Sorriu encantadoramente – Vou aceitar como um elogio, está bem?

- Srta Pediatra... – Retribui o sorriso, claro! Concordando com o “elogio”. Às mulheres mais velhas tem um charme, né? - O que faz aqui nessa cidade? Já deu pra perceber que não é daqui.

- Como vê – Fitou a mudança – Não estou de férias, pode apostar – Sorriu divertida - Consegui um emprego aqui no Rio, e achei ótimo, a cidade é linda, não conhecia pessoalmente, mas, sempre vi em fotos e pela televisão. Tem duas semanas que cheguei, fiquei hospedada na casa de uns amigos... Bom, sou de Brasília. E você o que faz?

- Estou terminando a faculdade de jornalismo, e trabalho com o meu pai... Acho que só... Minha vida não tem tantas novidades quanto a sua.

- Quantos anos você tem, Cris?

- Vinte cinco.

Beatriz era uma mulher encantadora, inteligente e bem humorada. Conversamos a tarde toda, já era noite quando sai da casa dela, nem vi as horas passarem, fizemos vários planos, um deles seria mostrar-lhe melhor a cidade, como ela mesma disse, chegara a pouco mais de duas semanas ao Rio e ainda não havia visitado os melhores lugares daqui.

Tomei um banho e deitei-me, liguei a TV e arrependi-me, não havia nada de interessante passando, tentei ficar em silêncio e dormir um pouco, mas, não conseguia pregar os olhos, as lembranças de Natasha faziam meu corpo inteiro doer, ora de desejo, ora de rancor... Ela era a melhor e a pior coisa que já acontecera na minha vida, a melhor, porque amar como eu amo esta mulher, é maravilhoso, me faz ter vontade de viver... E pior, porque não adianta amar e não ser amado, a dor é tão grande que me faz ter vontade de morrer. Empate técnico entre a vida e a morte... Sombrio isso? Vocês ainda não viram nada, deixa só eu terminar de fazer o que estou pensando... Peguei no telefone, talvez ela quisesse me dar alguma explicação, disquei o número da casa dela... Tocou duas vezes...

- Alô! – Disse do outro lado da linha.

Era ela, sem dúvida alguma, era ela! Não consegui pronunciar uma só palavra, desliguei o telefone em seguida... Pronto! Fiquei pior... Natasha, Natasha... Moça do nome provocante, o que você faz comigo? – Pensei... Deixei o corpo cair no sofá da sala e ali fiquei por longas horas...



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Capítulo 31: Algo diferente

(por Karina Dias , adicionado em 14 de Maio de 2007)






Enfim, a rotina voltara... De manhã, saí cedo para o trabalho. Passei a tarde estudando e ouvindo novamente os depoimentos dos meninos da comunidade de Vigário Geral com meu grupo da faculdade. Fizemos uma série de anotações a respeito, e indignados com o tratamento que o menino Júlio recebia da tia, eu, Vitor e Janice procuramos auxilio do conselho tutelar. A noite, já estava arrumada para ir a faculdade quando a campainha tocou. Abri a porta. Tive uma agradável surpresa, quer dizer, talvez nem tão agradável... Digamos que a surpresa fora... No mínimo intrigante, ou quem sabe inesperada? Podem escolher se quiserem.

- Oi – Disse ela tímida.

- Oi – Retribui friamente o seu cumprimento, não sabia até quando iria durar aquela formalidade.

- Não vai me convidar para entrar?

- Não sei se devo – Disse, no entanto... Fiz um gesto pedindo-a que entrasse. Retirei algumas roupas que eu havia deixado sob o sofá da sala – Sente-se. Fique a vontade – Disse com tom de voz gélido.

A menina sentou-se, logo fiz o mesmo.

- Cris... Eu sei que você deve estar chateada comigo, mas...

- Natasha! – Disse interrompendo-a – Queria muito que você me poupasse das suas desculpas, pode ficar tranquila, eu não irei mais te perturbar, se é o que te incomoda.

- Pára de se defender, não estou te acusando de nada – Disse aborrecida.

- Hoje não, né? Mas, Sábado... – Eu estava visivelmente magoada.

- Eu vim aqui pra te pedir desculpas, mas, se prefere ficar de irônia e não quer me ouvir, tudo bem – Levantou-se irritada.

- Espera! – Segurei seu braço – Fala – Disse com semblante mais ameno.

Ela sentou-se novamente, respirou fundo... Sentei-me também. Não me sentei ao seu lado... Precisava manter-me distante. Precaução sabem?

- Eu pensei muito, Cris... Pensei na gente, no Guga... Nas mudanças que aconteceriam se caso... Se caso... Eu e você... Entende? – Disse hesitante.

- É tão difícil dizer, se nós ficássemos juntas? - Minha decepção era visível.

- Cris... Eu nunca passei por isso – Continuou hesitante.

- Vou então te perguntar pela última vez – Fitei-a séria, acho que pela primeira vez, posso confidenciar a vocês que eu estava verdadeiramente de saco cheio de toda indecisão da menina – Natasha, você quer ficar comigo? – Fitei seus olhos – É sim ou não e pronto!

- Eu não sei! – Disse quase chorando.

- Como não sabe? – Irritei-me – Qual é o seu jogo, garota? O que você quer de mim?

A campainha tocou novamente... Levantei-me... Abri a porta deveras contrariada, quem quer que fosse, estava atrapalhando a conversa mais esperada dos últimos meses.

- Oi, Cris.

- Oi, Bia – Disse inexpressiva.

- A luz estava acesa... – Sorriu - Vim saber se você quer jantar comigo, descobri um restaurante maravilhoso no centro da cidade.

- Desculpa, Bia, mas...

Beatriz percebeu que eu não estava muito à vontade naquele momento, e também avistou Natasha na sala, logo deve ter imaginado que interrompera alguma coisa, e eu, não tinha a mínima condição psicológica para fazê-la acreditar no contrario, na verdade, eu nem fiz esforço pra isso.

- Me desculpa, Cris – Disse um pouco desconcertada – Não sabia que estava com visitas, depois nós conversamos.

- Passo no seu apartamento mais tarde, estou indo agora para faculdade. Você dorme cedo?

- Não – Passou a mãos nos cabelos, pensou por uns segundos - Durmo tarde – Disse.

- Então, fica combinado assim... Vou à faculdade fazer uma prova, e volto lá pelas dez, está bem?

- Tudo bem. Faça uma boa prova. Vou te esperar – Acenou se despedindo.

- Obrigada – acenei de volta. Logo fechei a porta.

- Acho melhor eu ir andando – Disse Natasha impaciente.

- Vai fugir da conversa novamente? – Disse ainda irritada com ela – Você sempre foge das nossas conversas.

- Você não me entende, Cris! Não posso simplesmente terminar com o seu primo e ficar com você – Disse áspera.

- Por que não? Gosta dele? – Olhei bem nos olhos dela – Ama o Guga, Natasha?

- Não! Não amo! – Disse num impulso – Queria ter coragem para largar tudo, mas, não posso...Não consigo! – Disse com tristeza – Fico pensando nas conseqüências... É difícil demais.

Engoli a seco. Respirei fundo, tentei controlar meus sentimentos, sabia que não podia ceder naquele instante, teria que agir com a razão. Naquele momento lembrei-me das palavras de Mary: “sofre menos quem age com a razão”.

- Então... – Disse firme – Faz o seguinte: vai pra casa, pensa em tudo isso que acabou de me dizer, e quando tiver certeza do que você quer realmente de mim, aí sim, você me procura para termos outra conversa – Puxei o ar para dentro dos pulmões – Do contrário, deixa tudo como tá... Você lá, e eu aqui. Certo?

- Está me mandando embora da sua vida? – Fitou-me frustrada.

- Não posso mandar você embora da minha vida, Naty! Você é a minha vida – Disse controlando a vontade de chorar que me consumia naquele instante – Só não agüento mais as suas incertezas, eu tô sofrendo – Baixei a guarda.

- Não quero te fazer sofrer com as minhas dúvidas. Eu vou pra casa sim, e... Se um dia eu souber o que quero realmente da vida, vou te procurar – Baixou os olhos – Espero que não seja tarde demais.

- Eu também espero – Disse ainda controlando a vontade de chorar.

- Já vou, Cris... Tchau – Sussurrou.

Abri a porta... Natasha ficou parada na minha frente, ela olhava-me como se esperasse algum gesto meu, um beijo quem sabe? Mas, lutei bravamente contra minhas vontades, sabia que não resistiria a ela, por isso permaneci distante. Continuei com a mão na maçaneta da porta, bastaria uma palavra dela para que eu fechasse novamente aquela porta e esquecesse completamente da prova, de Bia, de todo mundo lá fora... No entanto, ela disse Tchau novamente, e saiu, levando consigo todas as minhas expectativas e esperanças.



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Capítulo 32: Horas...

(por Karina Dias , adicionado em 17 de Maio de 2007)




Boa tarde meninas maravilhosas do meu coração!!!!!!!! Primeiramente, gostaria de pedir desculpas pela demora nas postagens... Estava meio enrolada com alguns probleminhas pessoais, mas... Tudo certinho... Agradeço a paciência de todas, os e-mails, scraps... Ah!!! A Cris acabou de dizer no meu ouvido que não consegue mais imaginar a vida dela sem vcs... Rsrsrs

Calma, já estou terminando... Rsrs

só ia mandar bjus pra vcs.... Rsrs

bjus......







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Assim que Natasha saiu da minha casa, não pensei em outra coisa a não ser ir conversar com Bia. Bati no apartamento dela...

- Oi – Disse encabulada.

- Pensei que já tinha ido para a faculdade – Disse surpresa.

- Não vou conseguir fazer a prova.

- Entra, Cris – Disse preocupada – Você está pálida, não está se sentindo bem?

Eu estava cansada do amor que eu sentia por Natasha. Estava sem chão... Sem vontade de ter vontade. Uma melancolia tomava todo o meu corpo, e não havia mais saída. Eu estava alí, diante de uma estranha, e não iria contar-lhe o que estava acontecendo, sabia que não tinha o direito de envolver mais ninguém nessa minha história tão sem futuro, seria mais uma pessoa a sentir pena de mim, e eu detesto que sintam pena de mim. Senti-me novamente impotente, Deus! A vida estava passando diante dos meus olhos, e eu não conseguia viver. Natasha era como o ar que eu respirava, longe dela, nada fazia sentido pra mim. Eu queria tanto que o maldito destino, ou seja lá o que for, tivesse sido mais generoso comigo. Sempre pergunto-me o porque desta garota ter entrado na minha vida, seria tão mais fácil se eu não a tivesse conhecido, quem sabe hoje eu não estaria mais feliz, no entanto, após conhecer Natasha, a felicidade parece tão restrita, ou melhor, parece que simplesmente não existe longe dela.

- Quer conversar, Cris? – Disse tirando-me do transe que eu me encontrava.

- Não estou me sentindo bem, só isso.

- Você não parece doente – Disse fitando-me mais de perto.

- Indisposição – Disse fugindo dos olhos dela, afinal de contas, mentir com relação a saúde para médico é constrangedor

- Sua indisposição tem nome?

- Não – Disse insegura.

- Tudo bem, você finge que fala a verdade, e eu finjo que acredito... Mudamos de assunto, e pronto. Está bem?

Sorri, um sorriso amarelo no canto dos lábios.

- Melhor assim – Disse sem graça.

- Vou pedir nosso jantar. Já que está indisposta, duvido que queira sair de casa – Disse gozando de uma irônia encantadora.

- Estraguei os seus planos para esta noite, não é mesmo? – Fitei-a desapontada.

- Acha mesmo que isso vai ficar impune? – Disse extrovertida – Vai ter que me levar qualquer dia desses para jantar.

- Vou te levar em um dos lugares mais lindos da cidade.

- Copacabana?

- Não...Porque todos pensam logo em Copacabana? – Sorri, ela me fazia sentir-me melhor... Já podia até dizer que Natasha... Nossa conversa, e aquela angustia que me corroia... Haviam ficado fora daquele apartamento - Vou te levar em um lugar fantástico no centro histórico do Rio, já ouviu falar na “Confeitaria Colombo”? Fiz uma matéria a respeito de lá esse ano.

- Lamento, mas... – Pensou uns segundo - Não ouvi falar.

- Como não? Ela fica bem no coração comercial do Rio de Janeiro – Fitei-a com uma falsa indignação - A casa já é centenária, sabia? – Pensei por uns segundos – É tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio de Janeiro, e digo mais, ela é o símbolo máximo do que representou a "belle époque" na vida da cidade – Sorri do seu olhar compenetrado – Enquanto todos na faculdade escreviam sobre o Pão de Açúcar... Corcovado... Praias... Eu resgatava a magnitude da “Colombo”.

Bia aplaudiu.

- Fascinante – Disse – Continua. Fale mais sobre esse lugar que faz brilhar os seus olhos.

- Bom... Já que quer ouvir... Quando eu estiver te chateando me avisa, tá? – Sorri, ela sorriu de volta...

- Você não me chateia – Disse.

- Se é assim – Dei de ombros - Pessoas ilustres já passaram pela Colombo, posso citar... O rei Alberto da Bélgica, em 1920, e a rainha Elizabeth da Inglaterra, em 1968... Em 2007 vou citar você – Nossa! Meu humor estava sendo resgatado, viram?

- Não apela, Cris... – Disse e sorriu - Continua a estória, tá abrindo o meu apetite.

- Já que está abrindo o seu apetite, vou adiantar que o cardápio de lá, é bem variado, você pode se deliciar com nobres pratos de aves, peixes e carnes, como o famoso "Tornedot Colombo"... – Fitei-a mais de perto – O lugar é lindo, nos transporta para uma outra época... No salão principal da confeitaria, uma decoração rica em detalhes é mantido em perfeito estado desde sua criação. São quatro andares, três amplos salões decorados com oito espelhos bisotados, todos emoldurados em jacarandá. Os espelhos foram trazidos da Bélgica, em navio. As bancadas são em mármore italiano e o mobiliário é sofisticado. Além de louças do princípio do século e taças de cristal bordadas a ouro. No quarto andar, você olha pro teto, e vê uma clarabóia em mosaicos coloridos, luz natural por todo o restaurante. Consegue imaginar? E... Como se não bastasse tudo isso, os freqüentadores do hall principal, podem ouvir, "chorinhos" e melodias da época da inauguração, ao som do piano.

- Ainda está tentando me convencer?

- Estou indo bem?

- Está – Sorriu.

- Ótimo! Uma última curiosidade – Busquei na memória tudo o que eu já tinha lido sobre aquele lugar fascinante que tinha o poder de nos embriagar com seu resgate fiel da história - Olavo Bilac, foi homenageado com uma placa comemorativa na entrada da casa. Diziam que o poeta era tão pontual para os diários chás das cinco que os funcionários sempre acertavam os relógios da casa quando ele chegava. E tinha também outro poeta famoso, deixa eu lembrar... O nome dele... Sim! – Disse satisfeita - Emilio de Menezes! Esse escrevia com lápis nas mesas de mármores do local, e pagava suas despesas com sonetos de propagandas para a Colombo... Cada freqüentador uma curiosidade – Continuei falando empolgada, bom falar quando alguém realmente está prestando atenção nas suas palavras, né? Lembrei-me do dia em que Natasha ouviu a gravação do depoimento de Luciano... Fiquei quase perdida naquele pensamento por alguns segundo, depois olhei para Bia e percebi que ela ainda sorria pra mim - É uma aula de cultura e arte aquele lugar, faz parte da história do Rio, mas, também da história do Brasil... Guimarães Passos, amante das bebidas... – Aproximei-me um pouco dela - Só pra se ter uma idéia passaram por lá: Chiquinha Gonzaga, Rui Barbosa, Villa-Lobos, Lima Barreto, José do Patrocínio, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek... Entre muitos outros... Jornalistas, políticos, poetas, boêmios, jogadores de futebol, por falar nisso, Romário e Edmundo tem mesa própria lá, e agora... Nós... Tá certo que não teremos mesa própria, mas... – Sorrimos.

- Seu humor está melhorando... Vou adorar conhecer esse lugar – Sussurrou enquanto fitava meus olhos.

Bia tinha um olhar tão bonito, de uma alegria tão veemente. Seus olhos exibiam também uma serenidade difícil de encontrar. Era uma mulher madura, objetiva em suas convicções... Em nenhum momento vi ingenuidade nos seus olhos, embora tenha percebido que suas palavras sempre seguras contrastavam o tempo inteiro com o sorriso meigo que despontava de vez em quando dos seus lábios. Bia gostava de sorrir, e sabia exatamente que o seu sorriso despertava simpatia imediata nas pessoas.

... As horas passaram despercebidas, conversamos sobre tantos assuntos... Quando me dei conta... Olhei o relógio, já passava da meia noite.

- Tá com pressa, Cris? – Disse ao perceber que eu havia me assustado com a hora.

- Nem me dei conta da hora – Disse confusa.

- Nossa! – Disse ela exibindo uma fisionomia preocupada – É melhor se apressar, você mora tão longe. Não tem receio de chegar em casa tão tarde? Dizem que essa cidade é tão perigosa.

Nós rimos.

- Vamos trabalhar amanhã... Devíamos estar dormindo, não acha?

- Acho, mas... Ainda não me disse nada sobre o seu coração – Fitou-me com aqueles olhos curiosos.

- Acho que não se interessaria por ele, anda tão doente – Desviei o olhar.

- Tenho um cardiologista ótimo para te indicar – Disse sorridente.

- Não vai adiantar, estou terminal – Sorri sem graça.

- Nós médicos, nunca desistimos dos nossos pacientes – Insistiu encantadoramente bem humorada.

- Quando o próprio paciente desiste, o problema foge da alçada dos médicos.

- Nossa! – Disse ela – Essa mulher te faz tão mal assim? – Sorriu.

- Não é ela quem me faz mal, é não ter o amor dela que me faz mal – Disse, já arrependida por ter me aberto mais do que me propunha.

- Posso fazer um diagnostico superficial?

Assenti com a cabeça.

- Seu problema cardíaco mede aproximadamente 1,70 de altura, tem cabelos negros, pele branca, e não tem mais que vinte aninhos – Disse ela persuadida.

- Dezenove, para ser mais exata – Disse enquanto levantava-me do sofá afim de encerrar o assunto – Tenho que ir, se não... – Sorri irônica - Vou chegar muito tarde em casa, e como dizem que essa cidade é perigosa, né?

- Tudo bem – Disse ela – Vê se não some, tá? Sei que moramos muito longe uma da outra, mas, faz um esforço – Picou pra mim.

Bia levou-me até a porta, dei-lhe um beijo no rosto, e ela ficou olhando-me até que eu entrasse no meu apartamento. Logo que entrei, senti o cheiro do perfume de Natasha no ambiente, um perfume perturbador.

- Não estraga a noite pensando nela – Disse para as paredes.

Tomei um banho e deitei-me.



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Capítulo 33: Dia de descrença

(por Karina Dias , adicionado em 18 de Maio de 2007)






No dia seguinte, à noitinha, passei na casa dos meus pais para pegar Luiz, afim de levá-lo na faculdade. Estava na sala esperando-o terminar de se arrumar quando Amanda chegou acompanhada de Natasha, as duas conversavam animadamente, mas, encerraram o assunto quando me viram. Amanda não beijou-me como de costume, era a primeira vez que nos víamos desde o incidente de Sábado. Um cumprimento frio, e logo subiu correndo as escadas, parecia ter pressa. O cumprimento de Natasha fora mais cordial, logo que minha irmã subira, a menina deu-me dois beijos no rosto.

- Como você está? – Disse ela.

- Como eu deveria estar?

- Queria que estivesse bem.

- Se te conforta, eu estou bem.

- E a Mary? Como vai?

- Vai bem, porque?

- Nada, Cris! Curiosidade – Fitou-me hesitante – Gosto dela, só isso.

Sorri debochada.

- Tem tanta coisa que você não sabe – Disse aguçando a curiosidade da menina.

- O que, por exemplo?– Funcionou, fitou-me curiosa.

- A Mary é minha amiga.

- Isso não é novidade – Sentou-se no sofá.

Sentei-me ao seu lado... Senti o cheiro do seu perfume, e um frio percorreu toda as minhas costas.

- O que quero dizer... É que... Mary não é minha namorada... Nunca foi, Naty! – Ao dizer aquela frase, senti-me leve, eu não estava mais confortável com aquela farsa, na verdade, nunca estive, sempre gostei da verdade, e nem entendo o porque de ter inventado uma historia tão descabida, embora tenha que considerar o meu desespero dos últimos meses. Não acham que eu estive muito desesperadinha esses últimos meses?

- O que? - Olhou-me confusa.

- Inventei isso porque estava muito mal... E queria que você achasse que eu tinha te esquecido, ou pelo menos estava tentando esquecer – Despejei tudo de uma só vez, parece que tirei um peso enorme das costas. Cheguei a respirar mais aliviada.

- Porque está me dizendo isso? O que mudou? – Continuou olhando-me confusa.

- Não sei ao certo o que mudou Natasha, mas... Não queria continuar mentindo pra você – Fiquei repetindo em meu pensamento a frase dela: “o que mudou?”. Será que mudou alguma coisa? – Pensei.

- Pura infantilidade esse teatro que você armou – Concluiu aborrecida me tirando completamente do mundinho em que eu me enfiara.

- Não precisa nem dizer que foi uma tremenda infantilidade – Balancei a cabeça negativamente – Se eu pudesse voltar atrás...

Ficamos em silêncio por alguns segundos, meus olhos não conseguiam parar de fitar os dela. Natasha iria dizer algo, mas, desistiu e continuou a me encarar como se esperasse alguma coisa de mim, não consegui ler o seu olhar, logo levantei-me. A covardia tomou-me por completa, aquela proximidade toda, certamente me faria perder o controle da situação, ela era linda demais! Impossível, estar tão perto e não querer tocá-la... Eu não tinha certeza se havia mesmo mudado algo, então...

- Você está diferente – Disse ela intrigada.

- Cansei de ser rejeitada por você – Disse irônica.

- Tem outra pessoa, Cris? – Levantou-se também.

Meu coração disparou ao vê-la tão próxima de mim, mais um pouco e eu não resistiria... Seu cheiro era tão bom, seu olhar estava tão profundo...

- Porque quer saber? Isso importa pra você?

Natasha dispersou seu olhar, afastou-se de mim... Respirei aliviada.

- Seria bom se você estivesse apaixonada por alguém – Disse quase num sussurro – Seria melhor pra todo mundo.

Olhei-a irritada.

- Não estou apaixonada por ninguém! Mas, não se preocupe, vou parar de pegar no seu pé – Disse brava.

Luiz desceu nesse instante. Nem pude ouvir o que ela diria a respeito do meu comentário, mas, também não queria ouvi-la mesmo.

- Tô esperando no carro, Luiz! – Disse e saí sem dizer mais nada a ela. Bati a porta ao sair.

...Luiz entrou no carro intrigado, eu estava cega de raiva... Não esperei nem que ele fechasse a porta... Arranquei com o veiculo... Sem motivos? Acham mesmo? Ela disse: “queria que estivesse apaixonada por alguém... Seria melhor pra todo mundo”

- Quem ela está pensando que é? – Disse furiosa – Ela tá se sentindo... Eu sou muito idiota, mesmo! – Bati no volante duas vezes - Como posso amar uma garota que brinca com meus sentimentos dessa maneira? Ela quer me enlouquecer, e está conseguindo...

- Hei, Cris! – Interrompeu-me – Dá pra se acalmar?

- Ela me irrita, Luiz! A Natasha tem o poder de me deixar desse jeito.

- O que aconteceu?

- Eu sou um brinquedo nas mãos dela – Bati no volante do carro novamente, agora, irritada com os veículos que entravam na minha frente sem dar a seta – Esses babacas, por isso acontecem tantos acidentes – Disse impaciente.

- Pega leve, tá? Os acidentes também acontecem quando pessoas transtornadas dirigem, fica calma! – Colocou o cinto de segurança às pressas, ele é meio traumatizado com velocidade.

- Eu tô calma, não se preocupe – Disse, no entanto não consegui tirar o pé do acelerador.

- Você só tem uma saída, esquecer essa garota – Disse enquanto afundava as costas no banco, medroso, né?

- Se fosse tão fácil, eu já tinha esquecido - Nem senti o movimento brusco que fiz com o volante do carro.

- Já terminou o trabalho da faculdade? – Visivelmente queria mudar de assunto.

- Ainda não – Disse - Precisamos de mais alguns depoimentos – Estacionei o carro de fronte ao prédio onde Luiz estudava, nunca aquele percurso havia sido tão curto – Ainda estamos no prazo – Concluí.

- Tem planos para Sábado? – Disse respirando aliviado.

- O que tem Sábado? – Fitei-o de frente... Ele estava tão pálido.

- Não acredito que esqueceu! – Disse decepcionado.

- Desculpa... Minha cabeça não anda muito boa – Fitei-o ainda sem saber do que se tratava – Diz logo! O que tem Sábado?

- Droga, Cris! É o meu aniversário.

- Nossa, Luiz! Eu devo estar terminal mesmo para esquecer um dia como esse – Sorri constrangida – O que pretende fazer?

- Churrasco com a galera, lá em casa? – Disse inseguro.

- Quer uma opinião? É isso?

- Claro! Depois desse estresse todo com a Natasha, não sei se será uma boa idéia fazer uma comemoração muito extensiva.

- Até parece que eu deixaria você sem festa de aniversário por causa daquela doida – Pensei por um instante – Posso levar uma amiga?

- Claro que vou chamar a Mary.

- Não estou falando dela, a Mary já é da família – Pensei por uns segundos – Conheci uma pessoa esses dias... E como ela não é daqui, acho que iria gostar de conhecer gente nova.

- Cris! – Disse sorridente – Seus olhos estão brilhando, quem é ela?

- Não exagera! É minha vizinha, mudou-se esta semana para aquele apartamento de frente pro meu.

- Isso tá com cara de paixão.

- Não! É amizade – Sorri sem graça – Daquelas que fazem muito bem pra gente.

- A Mary é sua amiga, te faz bem, e seus olhos não brilham quando você fala dela.

- Mas que coisa! Nós estamos nos conhecendo ainda – Fiz um gesto pra que ele descesse logo do carro.

- Sei – Disse enquanto abria a porta do veículo – Tô atrasado... Mas, não pense que vai fugir desse papo, tá? – Beijou-me no rosto – A gente se vê amanhã no trabalho. Tchau. Dirige devagar, hein?

- Pode deixar. Tchau – Liguei o carro e parti.



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Capítulo 34: Desejo

(por Karina Dias , adicionado em 19 de Maio de 2007)




Olá meninas... Esclarecendo uma dúvida que muitas estão tendo... Bom, a “Confeitaria Colombo” realmente existe, ela fica localizada na “Rua: Gonçalves Dias, 32 centro – Rio de Janeiro”... É realmente um dos lugares mais fascinantes que tive o prazer de conhecer nessa cidade, e para vocês terem noção do que realmente é a Colombo, estou postando o site que serviu de base para o dialogo da Cris com a Bia...

www.confeitariacolombo.com.br (Não é vírus rsrsrs)... Obrigada pelos e-mails, pelo carinho... Espero retribuir a altura... Bjus para todas... Vcs estão no meu coração... Mais Bjus... É que gosto de beijar, pow!!!... Rsrsrs





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Cheguei da faculdade lá pelas onze da noite. Parei de fronte ao apartamento de Bia, dava pra ouvir uma música suave vinda lá de dentro. Uma luz fraca denunciava que ela ainda devia estar acordada. Tive vontade de bater na porta... Bia estava sendo uma ótima companhia desde que nos conhecemos, no entanto, o receio de que ela estivesse acompanhada falou mais alto. Parei de frente ao meu apartamento, girei a chave... Pensei por alguns segundos, tornei a rodar a chave... Agora no sentido contrário, fechando-a novamente. Não resisti... Bati timidamente na porta do apartamento de Bia, o máximo que poderia acontecer seria... Ela dizer que não estava sozinha, né? Fiquei impaciente, Bia demorou para atender, já estava desistindo quando a porta se abriu. Ela estava linda! vestia um robe preto de seda.

- Des...culpa – Disse, logo que notei a taça de vinho na sua mão.

Bia contornou os lábios com a ponta da língua... Acompanhei aquele gesto com os olhos atentos.

- Não precisa se desculpar – Levantou a taça – Às vezes bebo sozinha – Disse exibindo um sorriso no canto dos lábios.

- Acabei... De chegar da faculdade.

- Eu sei. As luzes do seu apartamento estavam apagadas. Entra – Antes que eu entrasse... Olhou para a minha porta – Continuam apagadas, né? – Disse e sorriu.

- Ainda não entrei em casa – Sorri tímida.

Percebi que ela não estava tão sóbria, e isso deixou-me preocupada, mulheres alteradas pelo álcool tendem a ficarem mais sensuais, ou vulgares, não que isso seja uma regra, no entanto, Bia assumia o primeiro papel. Sua voz estava mais doce, e seus gestos mais lentos e convidativos. Toda vez que falava, sua mão tocavam na minha perna, e ela demorava para tirá-la. Estávamos sentadas no sofá da sala, ela baixou um pouco o som.

- Bebe comigo?

- Só um pouquinho, amanhã tenho que... Acordar cedo – Disse insegura.

- Que pena...- Fitou meus olhos por alguns segundos - Amanhã não tenho plantão no hospital.

Senti uma onda de calor tomando conta do meu corpo, há muito tempo não sentia desejo por outra mulher que não fosse Natasha.

Olhei para a mesinha de centro que decorava a sala, desconfiei das intenções de Bia, sobre ela havia uma taça na qual ela serviu-me o vinho.

- Estava esperando alguém?

- Estava esperando você – Disse sugestiva... E sensual...

Eu já não estava me aguentando de tesão... Nem peguei o copo de vinho nas mãos, puxei-a pela nuca beijando-lhe os lábios com muito desejo. Bia correspondeu ao beijo com a mesma intensidade. Desamarrei seu robe, ela estava completamente nua, e eu estava faminta... Perdi o controle, puxei-a pela cintura colando o meu corpo no dela, logo ela despiu-me também, com certa violência rasgou minha blusa ao tentar tira-la às pressas, isso alimentou ainda mais minha vontade. Chupei seus seios e me perdi nos seus gemidos cheios de desejo, ela se contorcia no sofá. Passei a mão no meio das suas pernas e senti sua excitação, penetrei-a no mesmo instante, meus dedos entravam dentro dela cada vez mais rápido. Vi seus olhos se transformarem num orgasmo profundo, mas, nem a deixei desfrutar daquela sensação, coloquei minha língua no seu sexo molhado e a chupei demoradamente, ela gozou novamente e me empurrou de encontro ao outro lado do sofá, logo senti suas mãos macias e ágeis deslizarem pelo meu corpo, fechei os olhos para aproveitar aquela sensação, e gozei várias vezes na sua língua. Fomos para o quarto dela, e transamos por longas horas, até adormecermos de exaustão. Nada dissemos uma para a outra, acho que não tínhamos forças nem para falar...



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Capítulo 35: Depois...

(por Karina Dias , adicionado em 21 de Maio de 2007)




Acordei na manhã seguinte sentindo-me péssima... Vocês provavelmente vão me odiar pelo que irei falar, mas, apesar de ter adorado a noite que passei com Bia, as lembranças de Natasha pareciam ainda mais veementes naquele instante. O que está acontecendo comigo? Será que estou ainda mais louca? – Pensei. Não demorou para Bia acordar também. Ela abraçou-me, logo surgiu um sorriso encantador nos seus lábios... Sabe quando você sente raiva de si mesmo? Pois é? Eu tinha raiva de mim, e de Natasha...

- Bom dia – Disse, logo beijou-me – dormiu bem?

- Muito – Afaguei seus cabelos – Ela não tem culpa da minha doença – Pensei.

- Adorei fazer amor com você.

- Eu também – Olhei o relógio – Estou atrasada pro trabalho.

- Vou fazer um café pra você.

- Não precisa... Vou lá em casa tomar um banho e trocar de roupa – levantei-me da cama - Meu pai não facilita a minha vida, se achar que estou fazendo corpo mole, é bem capaz de me despedir.

- Posso te esperar mais tarde?

Fitei-a sem saber o que dizer.

- Pode – Disse num impulso.

Bia sorriu.

Vesti-me às pressas, estava completamente desconcertada, tinha certeza da burrada que eu cometera, afinal de contas, Bia não parecia ser mulher de uma noite apenas, dava para ver no seu olhar que ela esperava mais que isso, e eu, enrolada com meus sentimentos do jeito que estou, seria a pior pessoa para prometer-lhe algo. Se vocês sentirem raiva de mim, eu entendo... Também sinto a mesma coisa.



...Passei no meu apartamento, tomei um banho, troquei de roupa e sai... Estava indo para o trabalho, mas, não consegui chegar ao meu destino. Peguei o primeiro desvio que apareceu e fui até a casa da Mary. Eu estava confusa demais, e precisava desabafar com alguém.

O porteiro já me conhecia, deixou-me subir imediatamente. O elevador demorou uma eternidade para chegar ao sétimo andar. Bati na porta, Jorge, o porteiro, já havia interfonado para avisar que eu estava subindo. Mary atendera-me com cara de sono.

- Nossa, Cris! – fez um gesto para que eu entrasse – Que mania de me acordar de madrugada – Disse aborrecida.

- Já passa das nove.

- Então, foi o que eu disse, madrugada ainda – Disse e bocejou.

- Preciso conversar – Disse ansiosa.

- Preciso de um café, você quer?

Fomos para a cozinha. Esperei Mary colocar a água na cafeteira.

- O que a Natasha aprontou desta vez? – Disse com a sua costumeira irônia.

- Conheci uma pessoa esses dias.

- Meu Deus! Está me dando um fora? – Sentou-se em uma cadeira a minha frente – O que devo fazer? Chorar? Me descabelar ou fazer uma daquelas cenas patéticas pedindo para você não me abandonar?

- Hei! Pára de brincadeira, estou falando sério.

- Acho que farei a cena da mulher traída – Continuou sarcástica - O que ela tem que eu não tenho? – Disse caindo na gargalhada.

- Vai ficar me zoando? – Disse quase irritada.

- Tudo bem – Disse séria – Sou uma mulher madura, vou encarar com naturalidade o fim do nosso relacionamento, afinal de contas, a amizade continua.

- Você não presta, Mary! – Sorri descontraída, ela fazia tudo parecer tão fácil e divertido.

- Quem é a sortuda? Não vai me dizer que é mais uma das amiguinhas da Amanda – Sorriu debochada - Criança só trás problemas, você já devia estar vacinada contra essas pestinhas.

- Ela não tem nada de criança, inclusive é médica. Para ser mais exata, pediatra – Disse mais à vontade.

- Tá trocando uma psicóloga por uma pediatra? – Levantou-se para pegar o café que já estava pronto – Gosta mesmo dos profissionais da saúde, hein?

- Sua palhaça! – Disse – Minha cabeça está dando um nó.

- Pára de complicar as coisas, criatura! – Serviu-me do café – Se apaixonar por alguém nessa altura do campeonato, é a sua redenção, Cris! A probabilidade de você esquecer a Natasha fica enorme.

- Pensei nisso quando fui procurar a Bia ontem a noite, a gente...Transou, foi uma delicia, mas... Hoje de manhã – Respirei fundo – Acordei com a Natasha na cabeça, e não consegui nem olhar pra Bia direito.

- Bom, já sei que o nome dela é Bia, e que você me corneou ontem a noite – Sorriu irônica – Como ela é? Bonita? Bianca, Beatriz, ou Fabiana?

- Beatriz – Disse de imediato – Ela é muito bonita. Tem trinta e um anos, é super divertida, inteligente, e ... Gostosa.

- Ganhou na loteria amiga! Porque está nessa agonia toda? A mulher é perfeita pra você.

- Tenho medo de magoá-la, ela é tão legal, Mary... Como você disse, perfeita! – Balancei a cabeça no sentido negativo - Putz! Porque não nos apaixonamos pelas mulheres perfeitas pra gente? –Pensei. Terminei o café – Bia não é mulher para ficar só saindo, deu pra notar que está procurando algo sério.

- Quer mesmo a minha opinião?

- Eu vim aqui pra isso.

- Acho que você gosta de se torturar, e vai fugir dessa Bia para não dar a oportunidade dela te fazer esquecer a Natasha, por que no fundo – Enfatizou – Bem lá no fundo, você gosta desse amor doentio que sente por essa menina.

- Está louca, Mary? Eu faria qualquer coisa para esquecer a Natasha.

- Faria mesmo? – Disse irônica – Então dá uma chance pra pediatra.

- Eu estou mais confusa do que antes – Passei a mão no rosto, estava agoniada – Quando eu tocava na Bia, fechava os olhos e imaginava que estava tocando a Natasha, e isso aumentava ainda mais o meu tesão. Entende? Já sentiu isso?

- Ouça bem, Cris! – Disse agora com seriedade... É isso mesmo! S.e.r.i.e.d.a.d.e! – Mesmo que você pense na Natasha ao fazer amor com a Bia, mesmo que o seu coração diga que é a Natasha a mulher da sua vida, ainda assim... - Fitou-me nos olhos – Fica com a Beatriz, e deixa o tempo colocar as coisas no lugar. Pensa em como pode ser bom pra você, ter uma mulher realmente madura do seu lado, sem os receios e os medos infantis que a Natasha tem – Pensou por um instante, logo disse – Cris, não deixe essa mulher sair da sua vida, da uma chance, não pra Bia, mas, pra você.

- Mas... A Natasha tá confusa, quem sabe...

Interrompeu-me impaciente com o meu comentário.

- A Natasha é uma criança, muito mimada por sinal – Disse irritada – Ela está acostumada com todo mundo aos pés dela, Cris! E você é só mais uma a engajar a lista dos “fissurados por Natasha”. Se essa menina quisesse mesmo ficar contigo, já teria ficado, mas, não... Pra ela é mais fácil te levar pra cama quando sentir vontade, porque depois, é você quem fica sofrendo, e cheia de inseguranças, e ela? Bom, ela sempre volta pro seu primo e ainda tem a coragem de dizer que é você quem confunde as coisas, quando na verdade, ela está provocando tudo isso que está te matando.

- Está sendo injusta, Mary! – Disse insegura – Eu é quem a agarro sempre – Nossa!Como eu estava me sentindo infantil naquele momento.

- Meu amor! Nenhuma mulher se deixa agarrar, a menos que ela queira também. Afinal de contas, você não é nenhum estuprador de menininhas indefesas e ingênuas, é? – Respirou fundo, estava aparentemente saturada - E sem contar que de indefesa e ingênua a Natasha não tem nada, ela é bem espertinha e sabe provocar como ninguém. E você Dona Cristina é uma idiota que cai sempre no joguinho dela.

- Prefiro você mais irônica, e menos realista.

- Decida-se então, amor.



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Capítulo 36: A festa

(por Karina Dias , adicionado em 22 de Maio de 2007)




Hoje já era Sábado, desde Quarta-feira não dormia mais no meu apartamento, sempre que chegava da faculdade, passava no apê de Bia, e não resistia, acabávamos dormindo juntas... Acordei cedo... Olhei pela janela, o dia estava lindo, os raios de Sol já denunciavam que faria um calor entorpecente. Parece não haver outra estação aqui no Rio, os meses passam e é sempre como se fosse verão, até quando chove faz calor, nem me lembro à última vez que usei um casaco.

Bia ainda dormia quando levantei-me. Ela parecia tão cansada, os dias no hospital onde ela trabalha não estavam sendo fáceis. Hoje, pela manhã e à tarde, ela estaria livre daquela rotina estressante, no entanto, teria que trabalhar a noite toda. Faria um plantão de doze horas que começaria as sete da noite. Ainda bem que a festa de aniversário de Luiz duraria o dia inteiro.

Lá pelas onze da manhã, fui tomar banho e arrumar-me em meu apartamento. Hoje seria um dia importante, não só por ser o aniversário do meu irmão que tanto amo, mas também, por saber que iria apresentar Bia a todos que estivessem lá na festa. Como eu estou? Em paz, posso dizer... Acho que Mary tem razão, eu não estava dando uma oportunidade para Bia, estava dando uma oportunidade pra mim... Aquela mulher, faria qualquer pessoa feliz. Era atenciosa, dedicada, inteligente... Linda... Divertida, e fazia amor como ninguém.

Bati no apartamento de Bia, depois do meio dia... Uau! Ela estava linda! Vestia uma saia jeans e uma camiseta verdinha que deixava a mostra todo o ombro.



Fomos os últimos a chegar na festa, a casa estava cheia como de costume, tínhamos muitos amigos e sem exagero posso dizer que nenhum deles faltaria ao aniversário de um dos caras mais legais do Rio de Janeiro. Dei um abraço bem forte em Luiz, que a essa altura já estava mais pra lá, do que pra cá... Apresentei-lhe Bia, neste instante, Mary também veio falar comigo, estava na companhia de uma garota, nos apresentamos, ela se chama Júlia, e as duas estão “saindo” a uns dois dias, assim ela definiu. Ficamos as quatro conversando animadamente, eu estava bem, juro! Estava entrosada no assunto, curtindo a música que estava tocando... Até tinha me esquecido que... Bom, antes de vê-la, estou falando da Natasha, está bem? Sim! Bastou ver Natasha vindo em nossa direção com um copo de bebida nas mãos, aquele olhar penetrante... Para um desconforto enorme tomar conta de mim, ela se aproximou, me cumprimentou... Beijei seu rosto... Não consegui apresentar-lhe Bia, Mary quem o fez, percebendo de imediato o quanto eu estava afetada com a presença dela. Depois que Natasha afastou-se de nós, não consegui mais ser a mesma... Fiquei ansiosa e entediada.

- Algum problema, Cris? – Disse Bia, notando que eu havia me calado completamente.

- Um probleminha que já está quase superado – Disse ainda sem conseguir tirar os olhos de Natasha, que logo depois de nos cumprimentar ficou conversando com alguns amigos de Guga a poucos metros de nós. Era automático, sabem? Eu nem percebia que estava olhando pra ela.

Bia fitou Natasha por alguns segundos...

- Estou vendo o tamanho do seu problema – Disse indiferente, logo voltou a conversar com Mary e Júlia, como se nada estivesse acontecendo.

- Alguém quer uma cerveja? – Eu estava tentando voltar ao normal – Estou indo na cozinha – Eu precisava desvincular-me daquele contato visual – Pensei.

Que bom! As três assentiram com a cabeça.

Estava abrindo a geladeira quando Amanda chegou na cozinha... Nos olhamos, minha irmã desviou o olhar... Meu coração partiu... Caminhou em direção a porta de saída... Parou... Virou-se novamente de frente pra mim... Retornou até onde eu estava... E deu-me um beijo no rosto, acompanhado de um sorriso que aquecera meu coração novamente. Nem esperava que o faria, pensei que ainda estivesse aborrecida comigo por eu ter dado em cima da sua ingênua amiguinha.

- Tá de namorada nova, Cris? – Disse ela.

- Acho que sim – Sorri com saudade daquela vozinha irritante sendo direcionada novamente pra mim..

- Desculpa por ter te tratado tão mal naquele dia – Disse envergonhada.

- Tudo bem – Dei-lhe outro beijo – Você é minha irmazinha linda, nunca vou ficar chateada contigo.

- Eu não tenho o direito de me meter na sua vida – Disse com semblante arrependido – E também... A Natasha é bem grandinha, não precisa de ninguém para defendê-la, mesmo porque... Nós conversamos, e ela se abriu comigo, Cris... Ela me disse algumas coisas.

Olhei-a curiosa.

- O que ela disse?

- Ah! Ela disse que rolou um beijo entre vocês, e que está muito confusa... Não sabe se quer continuar com o Guga, porque...

- Diz logo, Amanda! Porque ela não quer continuar com o Guga? – Eu estava completamente ansiosa, meu coração parecia que iria saltar pela boca.

- Poxa, Cris! Já viu como o Guga está? Só vive bêbado, relaxado, nem faz mais a barba... Pra piorar, está andando com uns carinhas super esquisitos.

- Ãh... É por isso... – Disse decepcionada.

Apanhei umas latas de cerveja na geladeira.

- Hei! Vê se não enche a cara – Disse Amanda.

- Pode deixar - Disse e sai.

Amanda não sabe, mas, sepultara ainda mais os fios de esperança que eu carrego no peito, ou carregava, né? Cada dia mais tenho me convencido que ela, digo, a Natasha realmente não nasceu pra mim. Talvez seja melhor desta forma mesmo, esquecer Natasha seria melhor para todo mundo, palavras dela. Palavras que me fizeram morrer por dentro. Quando alguém diz isso pra você, é sinal que realmente não sente nada, do contrário, teria o mínimo de receio que você a esquecesse.

As três riam como crianças quando cheguei com a cerveja.

- Alguém contou uma piada? – Disse curiosa.

- Sua amiga Mary, é sensacional!– Disse Bia tentando controlar o riso.

- Eu que o diga – Distribuí as cervejas.

- Estou falando dos meus pacientes, Cris – Disse empolgada – Tem uns casos tão divertidos.

- Pensei que fosse antiético falar dos pacientes.

- E... É! – Disse Mary animada– Mas, vê se não conta pra ninguém, tá?

Nós rimos.

- Mary, Mary... Se depender de mim, você morre de fome, nunca vou te indicar um paciente.

- Relaxa, Cris! – continuou extrovertida - Meu pai é um dos melhores profissionais da área em São Paulo, com o nome dele na minha certidão de nascimento, não vão me faltar pacientes – concluiu.

- É como eu sempre digo: Mary, você não presta! – Sorri também.



... As horas foram passando, Bia olhava-me com aqueles olhos apaixonados que só um cego não veria, e isso devia me deixar feliz, no entanto, deixava-me preocupada. Ela seria perfeita pra mim, como definiu Mary, isso se eu não estivesse tão apaixonada por Natasha, e por falar nela, passara o tempo inteiro me olhando de longe, e eu sabia disso, porque sempre estava olhando pra ela. Na certa, Natasha queria ter certeza de que eu estava realmente namorando, pois assim, eu não mais iria incomodá-la.



... As cinco e meia... Bia disse que precisava ir embora, teria que estar no hospital antes das sete, e passaria em casa para tomar um banho e trocar de roupa. Eu decidi que iria embora com ela, apesar da grande insistência para que eu ficasse mais um pouco na festa.

- Eu tenho que trabalhar, você não! – Disse gentil – Fica com seus amigos, Cris.

- Depois que você for embora, isso aqui vai perder toda a graça pra mim.

- Que gracinha! – Mostrou-me um sorriso – Então tá! Mas, se quiser voltar pra cá, volte.

Despedi-me das pessoas que estavam ali fora, logo entrei na casa para procurar meus pais que haviam fugido da bagunça que se formara. Estavam vendo um filme no quarto, sempre faziam isso quando dávamos uma festinha, diziam que aquela bagunça toda era boa para os jovens, e eles não tinham paciência para nós... Despedi-me dos dois...Desci apressada. Já estava passando pela sala quando esbarrei em Natasha.

- Que pressa, hein?– Segurou meu braço - Já vai, Cris?

- Já – Disse fria.

- Namorada nova?

- Amanda perguntou a mesma coisa, vocês combinaram?

Ela sorriu... Um sorriso daqueles bem irônico sabe?

- É namorada mesmo, ou mais um teatrinho para me colocar ciúmes?

- Você nasceu pretensiosa assim mesmo, ou foi adquirindo com o tempo? – Disse irritada.

Natasha sorriu novamente, não respondeu minha pergunta, por isso continuei falando.

- É minha namorada sim, e se me dá licença, ela está atrasada para o trabalho – Puxei meu braço com áspera força. Seus dedos deslizaram pela minha pele... Impossível não deixar de sentir calor com o toque das mãos dela em mim.

- Vai voltar? – Fitou meus olhos.

- Não volto, não! – Desviei o olhar, ela sabia o que seus olhos exerciam sobre mim - vou pra casa, preciso dormir.

- Boa idéia! Acho que também vou pra casa, aproveito que não tem ninguém lá... Tomo um banho pra relaxar...- Deslizou a mão pelo pescoço, afastou o cabelo da nuca, descansando os fios por cima do lado direito do ombro - Tá um calor, né? – Disse sugestiva.

Lembrei-me das palavras de Mary: “ela sabe provocar como ninguém”.

- Porque tá me dizendo isso? Só pra eu ficar maluca? – Não consegui me segurar.

- Desculpa – Sorriu satisfeita com o meu descontrole.

Fitei a calça jeans que ela vestia, Nossa! Seu corpo ficara ainda mais provocante naquela calça.

- Deixa eu ir – Disse desviando o olhar - Antes de fazer, ou falar alguma besteira – Pensei.

- Desculpa mesmo, Cris – Disse com um sorriso debochado no canto dos lábios.

- Tchau, Natasha – Disse irritada – Essa garota deve ser feiticeira – Pensei, logo ri do meu pensamento ridículo.



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Capítulo 37: surpresa

(por Karina Dias , adicionado em 23 de Maio de 2007)




Depois que Bia foi para o Hospital... Tomei um banho bem gelado, e demorado também. Vesti uma camiseta, um short e liguei o som na sala. Deitei-me no sofá e tive a impressão de ter cochilado, pois, assustei-me quando a campainha tocou. Olhei o relógio, nove e meia, eu havia dormido mesmo. Abri a porta...

- O que você está fazendo aqui? – Disse surpresa.

- Oi pra você também – Disse irônica – posso entrar?

- Sim... Claro – Estava confusa. O que ela queria? – Pensei.

A menina estava com a mesma roupa do churrasco, concluo que tenha vindo direto pra minha casa. Claro! Eu não esqueceria jamais aquela calça jeans com uns detalhes rasgados, ela ficara linda dentro dela. Natasha entrou, estava um pouco pensativa, aflita também. Arrisco dizer. Ficamos nos olhando sem dizermos nada uma para a outra, acho que pelo menos um minuto.

- Lembra quando eu disse que esperava não ser tarde demais quando eu tomasse uma decisão? – Disse quebrando o silêncio.

- Do que você está falando? – Disse ainda mais confusa.

- É tarde, Cris? – Fitou-me com os olhos mais tristes que eu já vi na minha vida.

- Dá pra parar de me enrolar e ser mais clara? – Disse impaciente. Tenho dessas coisas: dificuldade pra desvendar enigmas, ou você me diz o que quer com todas as letras, ou eu realmente não te entendo.

A menina puxou-me repentinamente pelo pescoço e grudou seus lábios macios nos meus... Mesmo sem esperar aquela atitude, tenho que confessar que... Nossa! Senti tanta sede daquela boca, nosso beijo parecia não ter fim... Era molhado... Cheio de desejo... Ritmado com gemidos baixinhos...

- Mais clara do que isso? – Disse entre beijos na boca e no pescoço.

Afastei-a de mim... Por livre e “espontânea pressão”, diga-se de passagem... Eu queria tanto ter continuado aquele beijo, mas... Ela sempre me confunde, não é? Eu sinceramente não queria mais passar por isso.

- Enlouqueceu, foi? – Respirei fundo, tentando me situar, sabe? – Se está procurando diversão eu já te disse que tenho uma pessoa ótima pra te indicar – Concluí sarcástica.

- Cris! Eu sei que é difícil pra você acreditar em mim, mas... Droga! – Sentou-se no sofá... Mãos trêmulas nos joelhos... – Desde que nos conhecemos, não tem um dia que eu não pense na gente.

- Não acredito em você! – Sentei-me numa poltrona bem afastada dela – Você só me faz sofrer, Naty! Ilude-me... Me usa... Brinca com os meus sentimentos, mas... Agora que eu estou bem... Agora que estou... Estou... Apai...xonada por outra mulher... Você...

- Eu não quero te perder! – Aproximou-se de mim... Levantei-me de imediato e fui até a janela. Não podia ceder, eu não queria ceder!

- Eu sei que você não quer perder o seu brinquedinho – Disse amarga.

Ela abraçou-me por trás... Senti suas mãos tocarem a minha barriga... Fechei os olhos... Eu já não sentia as minhas pernas...

- Não posso mesmo te cobrar que entenda os meus motivos... – Encostou a cabeça nas minhas costas e continuou falando – Fui infantil com você... Insensível... Mas, não sofri menos... É horrível tentar fugir das próprias vontades, do próprio sentimento... – Suspirou – Não soube administrar o meu medo, Cris! – Disse enquanto eu sentia suas lágrimas ultrapassarem o tecido da minha camisa.

... Retirei sutilmente as mãos de Natasha que laçavam o meu corpo... Afastei-me da janela... Olhei-a de frente... Eu nunca vi antes aquela garota tão desarmada...

- Não acredito em você! – Repeti tentando mentir para o meu coração, que teimava em querer acreditar nela.

- Eu lamento... – Enxugou algumas lágrimas que rolavam pela sua face – Jamais vou me perdoar por ter sido tão covarde – Caminhou até a porta... Girou a maçaneta... Eu não tive orgulho essa história toda! Lembram? Mas... Já era hora de mudar, né? Então... Fechem os olhos... Fecharam? Imaginem o sorriso da mulher que vocês amam, ou um dia já amaram, se desfazendo para sempre no seu pensamento... Imaginaram?

- Espera! – Tomei a sua frente... Bati forte na porta para fechá-la novamente... Não consegui deixá-la ir embora... Aqueles olhos lindos me olharam tão... Tão... Surpresos? Pode ser... Eu não disse nada, nem ela... Segurei forte seus braços e a puxei para mim... Apertei-a sem pressa, sem medo... Sem receio da sua repulsa... Beijei-a como se fosse a primeira vez... E era mesmo... Não me olhem assim! Eu nunca resisto a ela... Puxei Natasha pelas mãos, levando-a para o quarto... E nada, nem ninguém passavam pela minha cabeça naquele momento, e eu não precisava fechar os olhos para sonhar com ela. Meu corpo tremia de um desejo tão intenso, que não ousaria explicar nessas poucas linhas, posso adiantar que Natasha era o meu mundo, a minha vida... Eu só sentia-me completa estando com ela, e essa certeza queimava dentro de mim. Eu mal conseguia respirar, seu cheiro era tão bom... Seus cabelos tinham um perfume inigualável... Minhas mãos se perdiam naquela pele macia e quente. Meus lábios procuravam desesperados os seios dela, e minha língua deslizava por eles, chupando-os como se eu nunca tivesse tido outra mulher antes dela, e não tive mesmo, não outra que me fizesse sentir tudo aquilo que eu estava sentindo. Beijei sua barriga, seus pêlos se arrepiavam toda vez que minha língua deslizava por ela, torturei-a por longos minutos, até abrir suas pernas e sugar seu sexo molhado com vontade... Natasha apertava com as mãos o lençol da cama enquanto minha língua entrava dentro dela. Seus gemidos ficaram mais freqüentes, sua respiração ainda mais descompassada... Parei de chupá-la... Ela olhou-me confusa. Escalei seu corpo novamente com meus lábios... Beijei-lhe a boca... Olhei bem dentro dos olhos da menina... E coloquei meus dedos dentro dela... Natasha gozou na hora, e eu fiquei olhando pro seu rostinho – Não há nada mais bonito nesse mundo do que o rosto de uma mulher gozando, o dela então... – Pensei, logo vi sua face ficar tranquila e seu corpo relaxado. Nesse instante, ela agarrou meu rosto com as duas mãos tremulas, me olhou como eu nunca pensei que Natasha me olharia um dia, e disse:

- Eu te amo, Cris!

Naquele momento, ela me fizera a mulher mais feliz do mundo, e nada me faria esquecer aquele olhar. Podem passar mil anos, e ainda assim, eu lembrarei daquele olhar. Uma lágrima escorreu dos meus olhos sem que eu percebesse, ela conteve com as mãos delicadas, e tornou a beijar-me na boca.

- Eu sonho com esse momento todos os dias – Disse ainda sem conseguir controlar as sensações maravilhosas que estavam dentro de mim.

- Você pode ter momentos como esse todos os dias – Disse ela – Se não for tarde, é claro.

- Nunca vai ser tarde, Naty... Você sempre estará aqui dentro – Apontei o meu coração.

- Então... Vamos começar de novo – Disse sorrindo enquanto ajeitava-se na cama – Cris, você quer ficar comigo? – Encostou seus dedos nos meus lábios impedindo que eu respondesse – Mas... Se por acaso não tiver certeza do que quer, vá pra casa, pense em tudo o que conversamos, e só me procure quando souber o que realmente quer – Concluiu.

- Já estou em casa – Sorri.

- Mas um motivo para me responder logo.

Agarrei-a pela cintura e puxei-a para cima de mim, continuei beijando-a.

- Quer que eu seja mais clara que isso? – Minha voz fora sufocada pelos lábios dela.

- Poxa Cris! Desde que nos conhecemos, você vive repetindo o que eu digo.

- É porque não tenho assunto com uma garotinha de dezenove anos – Disse irônica.

- Não sou uma garotinha.

- É sim.

- Não sou, não! – Fez cara de aborrecida.

- Tá bom, não é – Prendi sua língua na minha boca, sugando-a – Você é uma mulher – Sussurrei.

- Você fala demais – Puxou-me com força, agora eu é quem estava por cima dela. Beijei-lhe a nuca, o pescoço, enquanto minhas mãos deslizavam pelos seus seios, desciam para suas coxas... Nossos beijos foram ficando mais quentes, nossos corpos pareciam um só naquela cama, minha perna no meio das dela arrancava-lhe gemidos de prazer, ela adorava aquele contato, ficava toda molhada, e pressionava cada vez mais seu sexo na minha perna.

Natasha dormiu abraçada a mim, e eu, bom, custei pra dormir, fiquei velando o sono dela por horas, acariciando seus cabelos que caiam pelo meu rosto, e relembrando cada instante daquela noite, que pra mim, havia sido a melhor de toda a minha vida, a melhor porque eu ouvi pela primeira vez a mulher que eu amo, dizer que me ama... Nada paga esse momento.

- Meu Deus! Como ela é linda! – Pensei, logo sorri. Eu não estava sonhando como das outras vezes, era ela... A mulher que eu procurei a vida inteira, e encontrei em uma garotinha de dezenove anos, imatura, cheia de dúvidas, medos, receios... Logo eu, que sempre admirei as mulheres mais velhas, mas maduras, preparadas realmente para a vida... Entreguei meu coração a uma menina que ainda tinha cara e jeito de criança, mas, que se mostrava uma mulher incrível na cama, e despertava em mim, o meu maior desejo de viver... Estranho o que o amor faz com a gente, né?



... A campainha tocou, levantei-me de sobressalto, vesti com rapidez um short e uma camiseta... Olhei o relógio que estava sobre a cômoda, eram sete e quarenta e cinco da manhã, lembrei-me de que Bia havia dito que assim que chegasse do hospital passaria no meu apartamento. Parei um instante, percebi que Natasha não estava na cama, a campainha também havia parado de tocar... Nossa! Eu não sabia onde enfiar a minha cara, tamanho fora o meu constrangimento. Natasha quem atendera a porta, e fora realmente Bia que tocara a campainha. O que dizer numa hora como essa? Posso explicar? Não, isso não adiantaria nada.



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Capítulo 38: coisas pra dizer

(por Karina Dias , adicionado em 24 de Maio de 2007)




Olhei para Bia... Passei as mãos pelos meus cabelos... Nervosa, posso garantir.

– Mas que droga! – Pensei. Eu não queria que ela ficasse sabendo desta forma, não desta forma - Eu posso... Explicar – Disse de repente, logo me odiei.

Bia olhou-me com uma calmaria assustadora...

- Bom dia, Cris! – Disse – Depois conversamos sobre o que você quiser, agora estou muito cansada, preciso dormir.

- Espe...ra... – Ela deu-me as costas, antes que eu pudesse terminar de falar.

Olhei para Natasha que estava de cabeça baixa fitando o sofá.

- Também não sei como dizer isso pro Guga – Disse desanimada.

Fitei-a cheia de receios...

- Tá dizendo... Que... Não sabe sebe como dizer isso pra ele, ou que não quer dizer isso a ele? – Disse insegura.

- Para de distorcer o que eu digo, Cris! Sua boba! – Beijou-me – Eu te amo. Custei pra admitir isso, não quero mais correr o risco de perder você.

- Repete.

- Não quero mais...

- Não! Repete que me ama – Sorri boba de verdade.

- Eu te amo...Eu te amo...Eu te amo...

Aquela frase era música para os meus ouvidos, eu fechei os olhos, e fiquei ouvindo-a repetir várias vezes que me amava. Natasha dava-me força para enfrentar qualquer coisa nessa vida, bastava olhar seu sorriso, pronto! Como mágica eu era a pessoa mais forte do mundo.





À tarde Natasha foi para casa. O celular da menina havia tocado o dia inteiro. Ela não atendeu, era o Guga quem estava ligando. Ele ligou do celular, ligou de casa e até do celular da mãe dele...A menina me garantiu que hoje falaria com Guga, e eu, sinceramente não posso dizer que estou completamente feliz, como vocês sabem, as circunstâncias não favorecem. Nossa! Acho que o destino, ou seja lá o que for, me pregou uma peça, vocês concordam comigo que foi um erro me apaixonar logo pela mulher que conquistou o coração do meu primo? Eu sei, eu sei... No coração a gente não manda. Como se não bastasse isso, eu também tinha que falar com Bia, ela no mínimo merecia uma explicação. Eu sei, eu sei... Nenhuma explicação poderia justificar o ocorrido, mas... Ela merecia uma.

Tomei coragem... Toquei a campainha do apartamento de Bia... Eu estava de cabeça baixa quando ela abriu a porta. Como encará-la? – Pensei.

- Oi Cris – Disse ela com a mesma calmaria de sempre – Esquivou-se da passagem, fez um gesto... Eu entrei... Ela fechou a porta atrás de mim.

- Bom... – Fitei-a completamente desconcertada.

- Quer café? Acabei de fazer – Interrompeu-me.

- Sim – Disse de imediato, pensei em ganhar tempo para elaborar algo bem... Bem... Sincero pra dizer? Nessa altura do campeonato, que mentira esfarrapada eu podia usar? Não! Eu não queria mentir... O cheiro do café estava delicioso, já disse que sou louca por café? Fomos até a cozinha e ela serviu-me uma xícara, nesse instante, Bia ficou olhando-me, acho que ela estava esperando a tal da explicação. Será que tem explicação para o que eu fiz? Que justificativa usar nesse momento?

- Olha, Cris... – Disse enquanto puxava uma cadeira para se sentar – Acho que... O que vi, já explica tudo – Disse firme – Somos adultas, e saberemos encarar essa situação, portanto, não precisa ficar com essa cara, não morreu ninguém! – Sorriu – Você não foi a primeira a me “cornear” e espero sinceramente que não seja a última – Fitou-me novamente – Não me olhe assim, oras! Ainda quero viver muitas outras estórias... Com muitas outras pessoas – Concluiu.

- Bem... Poxa, Bia! – Ela me surpreendeu... Nossa! Como surpreendeu – Não... Não costumo fazer esse tipo de coisa com as minhas namoradas, é que... É que...

- Eu sei, eu sei... Ela apareceu sem avisar, a carne é fraca... E o resto a gente já sabe – Resumiu a seu modo. Pratica, né?

- Olha... Não é porque a carne é fraca... – Ainda não conseguia agir com naturalidade, apesar da compreensão de Bia – Se... Se fosse qualquer outra mulher eu... Eu... Mas, a Natasha...

- É a mulher que você ama – Completou a frase.

- É – Disse aliviada.

- Bom saber que você está sendo correspondida – Sorriu, um sorriso não muito acolhedor, mas, um sorriso – Quer mais café? – Fiz um gesto dizendo que não queria – Foi muito bom os momentos que nós vivemos, mas... Se acabou, paciência.

Fiquei olhando aquela mulher na minha frente, tão forte, decidida... Como ela podia manter toda aquela calma? Acabou de surpreender a namorada com outra...

- Não me olhe assim, já pedi! – Disse fingindo aborrecimento, logo sorriu novamente – Queria que eu fizesse o que? Te jogasse da minha janela? Ou quem sabe seria satisfatório pra você, que eu fizesse um escândalo na sua porta? – Não pude deixar de lembrar-me de Mary, quase sorri – Acho melhor do jeito que está sendo – Continuou ela – Civilizado – Frisou a palavra – Tomamos um delicioso café enquanto selamos um acordo de amizade – Concluiu com naturalidade.

- Ainda quer minha amizade? – Fitei-a surpresa, isso é prova de maturidade? Bom, eu devo ser bem imatura então, porque talvez não iria querer ser amiga de alguém que me corneou. Olha como somos egoístas?

- Espero que você seja mais leal como amiga do que foi como namorada – Segurou minhas mãos, sorriu – Desamarra essa carinha, Cris! Eu vou estar sempre aqui, e caso precise conversar, basta tocar a campainha da minha casa... E se você também quiser me levar naquele restaurante que me prometeu, lembra? Fica a vontade...Continua tudo igual, a única diferença é que não vamos mais dividir a mesma cama.

- Que alívio! – Pensei. Pela primeira vez esbocei um sorriso real – Bom... Achei que você nem iria me receber, e ouvindo você falar tudo isso... Nossa!

- Tá brincando? Você ainda me deve um jantar.

- Não esqueci do jantar – Respirei fundo – Não está mesmo magoada?

- Estou! Magoada eu estou – Levantou-se – Eu não esperava ver você nos braços dela tão cedo, no entanto, pelos olhares que eu vi vocês trocando na festa do seu irmão, eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria... Mas, às sete da manhã? – Sorriu divertida – Não! Às sete da manhã foi demais para o meu sexto sentido me prevenir – Ela se superou desta vez – Mas... Me diz! Se eu não me engano, a menina é a namorada do seu primo, não é?

- É sim, ela foi pra casa, e... Vai conversar com ele ainda hoje – Disse preocupada.

- Seu primo parece ser bravo – Pensou um pouco – Tomara que ele não crie problemas para vocês.

- Estranho vai ser se ele não criar – Levantei-me também, debrucei-me sobre um balcão de mármore que dividia a cozinha – Ele gosta muito dela. Sabendo disso, fico dividida entre a felicidade de estar com a mulher que amo, e a tristeza de ver meu primo sofrer, e o que é pior: sofrer por ela.

- Coisas do coração, Cris... Para um de vocês sorrir, o outro vai ter que chorar, não tem outra solução.



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Capítulo 39: Amor mesmo???

(por Karina Dias , adicionado em 25 de Maio de 2007)






Já passava das dez quando a campainha tocou... Eu estava no meu quarto, pensando em Natasha, sai correndo pra atender, podia ser ela... Abri a porta, e ele, digo, Guga, entrou como um furacão, empurrou-me contra a parede, seus olhos estavam cheios de ira.

- Traidora! – Gritou enquanto apertava meu pescoço com o antebraço - Ela não vai ficar com você, Cris! Se você não esquecer essa história de ficar com a minha mulher eu te mato.

- Tá me machucando cara – Disse enquanto tentava empurrá-lo – Não seja idiota! Não torne às coisas mais difíceis – A voz saia sufocada, faltava-me o ar.

Ele soltou-me, eu comecei a tossir, o ar enfim foi voltando para os meus pulmões... A respiração restabelecendo aos poucos. Quem era aquele sujeito parado na minha frente, olhando-me com tanto ódio? Não era o meu irmão Guga, podem apostar.

- Desiste dela, Cris! A gente não precisa brigar – Ele estava suado, suas mãos inquietas... Andava de um lado para o outro da casa, passava as mãos no rosto, nos cabelos... Sem contar o cheiro de álcool na boca e nas roupas.

- Ela não quer ficar com você! Será que ainda não entendeu? – Alterei-me.

- Você tem tudo, droga! Porque quer a minha mulher também? – Gritou.

- Eu não quero a sua mulher, eu quero a Natasha... – Baixei o tom de voz, vi uma lágrima escorrer dos olhos dele – A gente se gosta, Guga... Se eu pudesse escolher, mas...

- A Natasha não gosta de mulher! Eu sei muito bem do que ela gosta e posso te garantir que não é de mulher! – Continuou descontrolado.

- Vai embora! – Disse ríspida – Vai! – Repeti.

Guga sorriu, um sorriso irônico...

- Tá morrendo de medo, né? – Passou a mão pelos cabelos, ameaçou ir embora e voltou – No fundo, Cris... Bem lá no fundo... Você sabe que é um erro! – Sorriu novamente – Ela vai te trocar por um homem, mais cedo ou mais tarde... Ouviu bem? – Aproximou-se da porta.... Abriu – Vai te trocar! Pode escrever o que estou te dizendo.

- Vá embora! – Gritei. Ele saiu... Eu empurrei a porta com força... Sentei-me no sofá da sala completamente desolada... Mãos na cabeça... Deixei o corpo cair para trás... Será que esse amor me deixou tão cega a ponto de me enganar tanto com essa relação? – Pensei, logo levantei-me e fui para o quarto. Deitei-me novamente na cama... Foi inevitável não pensar no que ele havia me dito... Será que Natasha estaria comigo se ele não estivesse no fundo do poço? Nossa! Acho que quem estava no fundo do poço naquele momento era eu, corroída por essa dúvida... Concordam comigo que às vezes é melhor sofrer com a certeza, do que se submeter à tortura da dúvida? Não demorou para a campainha tocar novamente... – O que será que ele quer desta vez? – Pensei enquanto levantava-me para atender a porta novamente... Abri a porta... Natasha jogou-se nos meus braços... Soluçante, trêmula, nervosa...

- O que aconteceu, amor? – Tentei fitar seus olhos.

- Seu... Seu primo enlouqueceu, Cris! – Disse perturbada.

- Vem cá... Senta aqui... – A menina sentou-se no sofá – Espera, vou pegar água pra você – Disse e corri para a cozinha... Misturei açúcar na água, nem sei se isso funciona mesmo como calmante, mas... Todo mundo faz, né? Quem nunca tomou água com açúcar para se acalmar? Tá valendo então. Retornei a sala – Bebe, vai te fazer bem – Disse enquanto entregava-lhe o copo.

Fiquei alguns segundos encostada na parede de braços cruzados olhando-a tomar a água... Nesse instante, as palavras de Guga martelavam ainda mais na minha cabeça, no entanto, eu não estava se quer cogitando a possibilidade de questionar alguma coisa a respeito... Não era hora para cobranças... Eu também nem queria cobrar nada, ou tinha medo do que poderia descobrir com algum tipo de questionamento, sabe? Sinceramente, não sei de mais nada!

- Tá melhor, Naty?

- Estou – Entregou-me o copo vazio... Coloquei-o ao lado da TV... – O Guga voltou na minha casa... Nós brigamos, foi horrível, Cris!

Sentei-me ao seu lado, segurei suas mãos...

- Lamento muito, amor – Estava sem palavras.

- Meu pai se meteu na discussão... Eles se agrediram...

- Ele encostou em você? – Disse com os olhos cheios de raiva.

- Só apertou o meu braço – Mostrou-me um hematoma – Ele não gostou quando... Quando... – Fitou meus olhos com carinho – Quando eu disse que te amo – Sussurrou.

Nossa! Vocês ouviram isso? Acho que ela dissipou toda e qualquer dúvida que estava corroendo o meu coração, certo? Abracei-a com carinho... Senti meus olhos molhados... Posso dizer que eu não precisava de mais nada da vida naquele momento, eu já tinha tudo... Natasha era o meu “tudo”, ela preenchia todos os espaços vagos que me impediam de ser uma pessoa completa.

- Olha, Naty... – Disse fitando seus olhos – O Guga tá doente... Muito doente – Baixei os olhos – Ele perdeu o controle, e você era a única referência que ele tinha para tentar lutar contra as drogas – Disse com a voz embargada.

- Ele precisa de tratamento, Cris! Nossa! – Disse perplexa – Você tinha que vê-lo, estava drogado... Ou bêbado, sei lá! Irreconhecível mesmo... De dar pena...

- Eu sei... Ele veio aqui.

- Hoje?

- Agora pouco – Fiquei em silêncio por alguns segundos... – Veio me ameaçar... Pediu para eu não ficar com você – Disse com um gosto amargo na boca, eu queria tanto que tudo fosse diferente, eu juro!

- Você... Não... Vai se intimidar com as ameaças dele, não é? – Passou as mãos trêmulas no meu rosto – Eu sei... Que ele é como um irmão pra você, Cris... Mas... Não... Não desiste da gente... Eu não quero te perder de novo – Disse com lágrimas escorrendo pela sua face... Fiquei emocionada também, seus olhos estavam tão brilhantes... Tão sinceros...

- Hei! – Cheguei mais perto... Sorri pra ela... Eu estava encantada com sua fisionomia temerosa, com os seus olhos negros transbordando de paixão – Você nunca me perdeu, Naty! E... Jamais vai me perder – Beijei seus lábios frios de apreensão, senti suas lágrimas se misturarem no nosso beijo – Eu te amo, menina – Sussurrei com meus lábios encostados nos dela – Eu te amo – Repeti e a abracei mais forte.

- Ele... Ele falou de nós para os meus pais, Cris – Disse tímida.

- E eles?

- Não acreditaram... Os dois não conseguem imaginar que um dia eu poderia me apaixonar por uma mulher.

- E se eles...

- Shiiiii – Colocou o dedo nos meus lábios, impedindo que eu pronunciasse algo – Esquece eles – Puxou-me com força... Eu deitei-me sobre o seu corpo... Natasha começou a puxar minha blusa para me despir...



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Capítulo 40: Revolta

(por Karina Dias , adicionado em 28 de Maio de 2007)




Na manhã seguinte, deixei Natasha dormindo e antes de ir para o trabalho, passei na casa dos meus pais... Precisava tomar alguma providência quanto a Guga, por isso procurei meu pai. Esperei-o na sala...

- Bom dia, filha – Beijou o meu rosto.

- Papo sério, pai – Disse de imediato.

- Imagino que seja mesmo, nem esperou-me chegar na loja – Disse e sentou-se no sofá. Sentei-me também e conversamos por longos minutos...



...Fomos até a casa de tia Vera, perguntamos a ela se Guga estava em casa, ela disse que o mesmo estava no quarto dormindo, pois havia chegado há pouco. Meu pai achou melhor que ele não estivesse mesmo presente, tínhamos que preparar o coraçãozinho de minha tia para a bomba que iria explodir na sala dela naquele momento. Sim! Imaginem uma pessoa querida aprisionada no mundo das drogas... Imaginaram? Então... Sofremos todos, sem exceção.

Pronto! Contamos tudo a ela, minha tia ficou desolada, abraçou meu pai e chorou por longos minutos... Meu pai ficou repetindo que tudo acabaria bem, que Guga tinha chances de se recuperar... Falar é fácil, difícil é acreditar na cura completa... Fui até a cozinha e peguei um copo d´água para minha tia, mais uma vez fiz a receitinha com açúcar... Ela bebeu devagar... Mãos trêmulas... Olhar perdido em suas reflexões...

- Meu Deus! – Disse ela com o olhar vago – Como não percebi antes? Andou sumindo dinheiro da minha bolsa com freqüência... Algumas jóias, objetos aqui de casa... – Abandonou a água num canto... Pôs as mãos na cabeça, balançou no sentido negativo... – Como fui tão cega? Meu único filho, Carlos! Onde foi que eu errei? Sempre dei tudo de melhor pra ele...

- Calma, Vera... – Apoiou as mãos nas costas da irmã – Ele vai ter um tratamento adequado... A Cris tem um amigo na faculdade que conhece uma clínica de reabilitação muito boa – Disse confortando-a.

- É tia... – Fitei-a com pena, acho que pena é um dos piores sentimentos que um ser humano pode sentir por outro, não acham? É um sentimento tão sombrio – Ele vai ficar bem – Suspirei – Só temos que convencê-lo de que precisa de ajuda.

Antes que eu pudesse ouvir as palavras de tia Vera, Guga entrou na sala furioso... Empurrou-me e começou a gritar comigo...

- Sua traidora! – Disse sem conseguir conter a raiva que brotava dos seus olhos – Não ficou satisfeita em roubar a minha namorada? Tinha que vir aqui fazer intrigas para minha mãe? – Empurrou-me novamente... Esbarrei em um jarro de minha tia e o mesmo caiu no chão e se estilhaçou...

- Calma, rapazinho! – Interveio meu pai – Vamos conversar, filho!

- Tira a mão de mim! – Gritou – Eu não sou seu filho! Eu não ia querer ser irmão dessa traidora!

- Guga, eu só quero te ajudar – Disse tentando justificar minha atitude.

- Ajudar? – Continuou bravo – Você quer destruir a minha vida! Isso sim!

- Filho... Senta aqui – Disse tia Vera já aos prantos, segurando o braço de Guga... – Você precisa de um tratamento... Vamos ver uma boa clínica de desintoxicação...

- Eu não tô doente! Que merda! – Num momento de raiva maior, meu primo fez um movimento brusco com as mãos e quebrou de uma só vez todas os bibelôs de porcelana que estavam sobre a estante da sala... Ficamos atônitos com a atitude de Guga, e com o barulho dos objetos caindo no chão... O movimento dele fora tão brusco, que mesmo o móvel sendo antigo, daqueles de madeira maciça, ameaçou tombar para frente – Será que vocês não estão vendo que ela quer me internar numa clínica para eu ficar longe da Natasha? – Disse fervoroso em sua certeza.

- Cara! Você tá viajando! – Disse incrédula.

- Gustavo! Somos pessoas civilizadas, vamos resolver isso com calma – Disse meu pai – Sua mãe não merece esse desgosto, filho – Completou.

- Cala a boca tio! Já disse que não sou seu filho! – Gritou novamente... Nesse instante, começou a esfregar as mãos na cabeça, parecia alucinado... Andava de um lado para o outro... – Eu não vou pra droga de clínica nenhuma! Ouviram? Vocês estão loucos? – Sorriu debochado – Eu não tô doente, merda! – Disse furioso.

- Gustavo, eu... Não vou mais te dar dinheiro! Você vai ter que arrumar uma ocupação – Disse tia Vera, logo voltou a chorar – Não vou ver você estragar a sua vida e ficar de braços cruzados – Completou mortificada.

- Tá caindo na pilha dela, né D. Vera? – Disse irônico – Pergunta pra sua digníssima sobrinha... Quem ela está namorando – Fitou-me severo – Ou melhor... Não pergunta, não! Eu digo... Ela tá trepando com a minha namorada! – Disse aos berros.

- Pára com essa mania de perseguição, Guga! – Tentei aproximar-me dele, coloquei a mão no seu ombro... Ele estava arredio, virou-se bruscamente, fugindo do meu contato. Irritei-me, na verdade, perdi foi a paciência de vez – Você não quer ajuda, não é? Pois bem! Fica nesse esgoto em que se meteu!

- Não dá esse desgosto pra sua mãe, por favor – Disse minha tia desesperada.

- Desgosto? A Sra não sabe o que é desgosto! Eu tô arrasado e ninguém liga, droga! – Apoiou as mãos no balcão do bar que havia na sala... Silêncio, sua respiração afobada... Passou rapidamente a mão no rosto – Eu tô puto com você, Cris! Puto com você! – Disse, logo apanhou uma taça de vinho nas mãos e arremessou na minha direção, só deu tempo de esquivar-me um pouco... Puro reflexo... Vi o objeto bater na parede ao meu lado... Depois desse gesto, meu primo saiu correndo pela sala, logo ouvimos o estrondo da porta batendo... Minha tia foi amparada por meu pai, que segurou em suas mãos e a conduziu até o sofá para que se sentasse, já que suas pernas teimavam em não sustentar o seu corpo.



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Capítulo 41: Sem poder voltar atrás

(por Karina Dias , adicionado em 29 de Maio de 2007)




... Ligamos para todos os amigos de Guga, fomos em todos os lugares onde ele costumava freqüentar, e não o encontramos... Já faziam dois dias desde a briga que tivemos na casa da minha tia, e ele não dava notícias... Mal conseguíamos pregar os olhos de tanta preocupação, e especulações de onde ele poderia ter se metido... Ele estava sem dinheiro e sem documento algum... Ligamos para hospitais, demos queixa pelo seu desaparecimento... E nada... Eu estava na casa de Mary quando o telefone tocou...

- Alô? – Disse receosa, era número de telefone público.

- Cris!

- Guga? – Levantei-me de sobressalto da poltrona – Onde você está, cara? – Disse afobada – Deixou todo mundo preocupado.

- Eu... Eu... – Silêncio do outro lado da linha, sua respiração estava alterada – Pode me encontrar aqui na praia? Estou em Copacabana... Posto seis – Disse com tom de voz angustiado.

- O que aconteceu? – Fiquei ainda mais preocupada.

- Não pergunta, merda! – Alterou-se – Pode vir ou não?

- Você está me assustando – Disse e troquei o telefone de ouvido, olhei pela janela – Sua mãe tá sofrendo, sabia?

- Sem sermão, Cris!

- Queremos te ajudar – Disse quase num sussurro, eu estava sem forças para tentar convencê-lo a fazer um tratamento.

- Pode trazer quinhentos reais pra mim? – Disse sem rodeios.

- O que? – Logo percebi o porque de sua ligação – Tá devendo de novo, cara?

- É a última parte da dívida... E...

- Posto seis, né? – Interrompi-o – Me espera, tô chegando – Desliguei o telefone... Ainda fiquei com ele nas mãos... Olhar vago... Mary tocou o meu ombro, me resgatou dos meus pensamentos...

- Eu vou contigo, Cris! – Disse ela.

- Não! Não vou te envolver nisso.

- Ele pode estar armando pra você, Cris! – Abraçou-me – Vamos chamar a polícia... Ele não está no seu juízo perfeito...

- Não é possível que ele não esteja pelo menos com um fio de arrependimento – Segurei suas mãos, olhei nos seus olhos – Eu vou convencê-lo de que precisa de ajuda.

- Cris! – Puxou-me novamente para um abraço – Não vou deixar você ir sozinha – Disse perto do meu ouvido.

- Tá – Disse, logo dei-lhe um beijo na testa – Pega... Pega... A bolsa lá dentro, eu te espero – Ela sorriu.

- Já volto! – Disse e saiu correndo pela casa.

- Desculpa amiga – Pensei. Peguei as chaves que estavam ao lado da TV... Sai e tranquei a porta deixando-a presa. Claro! Se ela estiver certa? Se o Guga está armando mesmo pra mim, eu não iria me perdoar nunca se acontecesse alguma coisa com Mary. E... Eu... Tava com um pressentimento ruim, sabe? Nem acredito nessas coisas, mas...Meu coração tava apertado, um gosto amargo na boca... Uns arrepios esquisitos pelo corpo...

... Passei em casa... Peguei o dinheiro que ele havia pedido... Depois de quinze minutos cheguei na praia... Estacionei o carro na orla... Logo que desci do automóvel, vi Guga encostado numa árvore, estava com as mãos no bolso... Vestia uma camisa vermelha surrada que eu nunca tinha visto antes, uma calça jeans também nas mesmas condições... Nos pés usava chinelos ao invés de tênis, Guga odiava chinelos – Pensei. Mais uma olhada... Barba por fazer... Arranhões no rosto... E... Aproximei-me...

- Tira o óculos – Disse de imediato.

- Trouxe a grana pra mim? – Disse com o tom de voz trêmulo... Estava visivelmente impaciente.

- Tira o óculos, cara! – Insisti.

Guga mortificado tirou os óculos escuro... Estava com o olho direito roxo...

- Satisfeita? – Disse irônico.

- Isso é uma bola de neve, ainda não percebeu? – Disse aflita, desesperada pra ser mais exata... – Aceita passar uns dias na clínica, cara! – balancei seu ombro – Eu me interno com você se for preciso... Por favor, nos deixa te ajudar!

- Trouxe a grana ou não trouxe, Cris! – Olhou para os lados desconfiado, acho que ele estava com medo de alguma coisa – Depois... Que eu acertar com os cara... Vou voltar pra casa, e... Me tratar nessa merda de clínica que você tá falando – Seus olhos ficaram marejados – Vou... Arranjar um emprego também, Cris! Tô cansado... Muito cansado dessa vida – Sussurrou.

- Promete? – Disse com os olhos também cheios de lágrimas.

- Prometo – Disse... Ficou em silêncio olhando-me por uns segundos, depois Guga me puxou para um abraço... Nem pude acreditar nisso, tinha até me esquecido como era confortável o abraço do meu irmão – Diz pra minha mãe que eu a amo muito, Cris! – Disse no meu ouvido – Um dia... Ela vai ter orgulho de mim... Juro que vai ter – Concluiu.

- Diz isso você pra ela, cara! – Apertei-o em meus braços – Sua mãe te ama tanto... – Sorri... Suspirei, logo passei as mãos no rosto dele.

- Me diz uma coisa, Cris... – Fitou-me envergonhado – O... O nosso segredo, lembra? Aquele dia na Rocinha... Você... Você contou pra alguém, o que aquele cara fez comigo? – Baixou os olhos.

- Esqueceu que sou boa pra guardar segredos? – Levantei seu queixo... Olhei seus olhos... Sabem o que vi? O olhar do meu irmão... Aquele do começo dessa história, que sempre me metia em furadas, mas, que eu amava, quer dizer, que eu amo – Esse segredo vai comigo dessa vida, cara! Não se preocupe.

- Obrigado... Deixa eu ir, Cris! – Disse um pouco menos aflito, enxugou as lágrimas que escorriam pela sua face.

- Toma – Tirei o dinheiro do bolso da calça e entreguei a ele – Não demora, tá?

Guga sorriu pra mim, e foi caminhando pela ciclovia...

- Não vou demorar! – Gritou e acenou com as mãos.

Eu sorri de volta, com o coração ainda mais apertado... Cada vez mais apertado na medida que eu o via se distanciar de mim, a sensação que me deu é a de que ele estava totalmente desprotegido... Antes de concluir meu pensamento, e antes mesmo de tentar entender que aperto era aquele no meu peito, ouvi um barulho estrondoso de moto... De repente, coisas de segundos mesmo... Um motoqueiro passou em alta velocidade, deu uma meia parada e um homem que estava de carona disparou seis tiros... Foi uma correria tremenda... As pessoas gritando... Eu não consegui me mover um centímetro de onde estava, sabe quando você tem a sensação de que não está vivendo aquele momento? Pois é! Eu fiquei assim... E vi Guga ser baleado... Pisquei os olhos... Balancei a cabeça...

- Guga! – Gritei. O motoqueiro acelerou e partiu... Não deu para ver a placa da moto, ela estava empenada, bastante inclinada para o alto... Refeita do primeiro impacto... Corri na direção de Guga, dos seis tiros disparados, três o acertaram, um no braço direito e dois na barriga... Coloquei a cabeça dele no meu colo, seu corpo todo tremia, se debatia... Agonizava... Seus olhos viravam, escorria sangue pelo canto esquerdo da boca...Ele queria falar, puxava o ar... A voz não saia...

- Não diz nada – Disse desesperada. Começou a se formar uma multidão em volta de nós... Tentei discar o número de socorro, mas... Minhas mãos estavam trêmulas, e eu também não lembrava o número do corpo de bombeiros, três números e eu não lembrava... Parecia que tudo havia se apagado da minha cabeça... Em meio a aquela confusão toda, ao longe vi um senhor no telefone chamando uma ambulância... Nesse instante, voltei minha atenção toda para Guga que segurava na minha camisa tentando puxá-la, mas não tinha forças...

- Agüenta, cara! Agüenta! – Disse enquanto as lágrimas escorriam sem controle pelo meu rosto, vocês não podem imaginar o que é a dor de ver alguém que a gente ama naquele estado, não podem... – Agüenta... Por favor... – A voz quase não saia, eu soluçava...Vi minha blusa branca mudar de cor, estava vermelha do sangue que escorria do corpo dele... Coloquei a mão na sua barriga, na minha profunda ignorância eu tentava conter o sangue que não parava de jorrar. Droga! Porque eu não fiz medicina? – Pensei... Eu realmente não sabia o que fazer, nem sei se minha descrição acima está correta, estou relatando o que meus olhos leigos viram... – Tem algum médico aqui? – Gritei, ninguém respondeu, quer dizer, um senhor chegou mais perto...

- A ambulância já está vindo, filha – Disse com olhar acolhedor. Era o mesmo Sr. Que vi ao telefone.

- C...ris – Balbuciou – D...iz – Sua respiração tava falhada, ele parecia que ia se sufocar toda vez que tentava pronunciar uma palavra – Mi...nha... mãe... a...mo...

- Não diz nada... Fica quietinho – Acariciei sua face – Não faz esforço – Sussurrei. Ele não me deu ouvidos... Sempre teimoso! Mais que merda! – Pensei.

- Cuida... – Puxou o ar – Da... Naty... Pra... Mim – Sussurrou... Enquanto seus olhos abriam e se fechavam... Abriam e se fechavam...

- Me perdoa, cara! – Segurei sua mão – Eu não queria ter me apaixonado por ela – Disse sincera.

- Cui..da... – Senti sua mão um pouco mais forte sobre a minha, vi pelo seu semblante o esforço que tava sendo... Seus olhos se fecharam novamente, logo se abriram... Ele buscava o ar... Engasgava – De...la..

- Cuido – Sussurrei no seu ouvido. Nessa hora ouvimos um barulho de sirene... Finalmente a ambulância havia chegado... Os bombeiros pediram para abrirmos o caminho, logo isolaram a área... Levantei-me do chão... Eles colocaram Guga rapidamente numa maca, depois na ambulância...

- Pra onde ele vai? – Perguntei um dos bombeiros... Nem percebi que eu estava puxando o seu uniforme, quase arrancando a roupa dele.

- Hospital Miguel Couto – Disse e saiu... Não me deixou ir junto, nos filmes, eles sempre deixam... O carro – Pensei – Não sabia mais onde tinha estacionado. Eu tentava sair da multidão... Empurrava aqui, ali... De repente senti alguém me puxar, quando me dei conta já estava nos seus braços.

- Como... Como.... – Fitei-a confusa, eu havia trancado a porta.

- Chaves reserva, esqueceu que tenho mania de perder as coisas? – Disse e abraçou-me mais forte.

- Ele... Ele...

- Vem, Cris! – Puxou-me até o carro dela – Já liguei pra Bia, ela está de plantão e avisei que seu primo está sendo levado pra lá nesse instante.

Bia trabalhava no hospital para onde Guga estava sendo levado, e eu estava tão atordoada que até me esquecera disso... Deus! Parecia um filme de terror!





Foi à primeira vez que vi Bia toda de branco, ela estava na porta da emergência nos esperando... Pensei em não abraçá-la, iria sujá-la com o sangue que estava sobre as minhas roupas, no entanto, ela puxou-me de imediato para um abraço... Desabei a chorar novamente...

- Fica calma, Cris! – Disse ela – Ele já está sendo atendido, e o médico em questão é muito experiente, é um dos melhores profissionais daqui do hospital.

- Diz que ele vai sobreviver, você é médica, pode me dizer isso! – Continuei desesperada.

- Ninguém pode garantir nada, meu bem... Vamos aguardar... Vamos aguardar... – Deu-me um beijo no rosto – Vem – Disse. Começamos a caminhar por um imenso corredor gélido e sombrio...



... Não demorou dez minutos e um médico alto, de cabelos grisalhos... Veio em nossa direção... Bia apertou-me mais forte, uma mão envolta do meu ombro, a outra segurando a minha mão...

- Esse é o Dr. César Rodrigues – Disse ela.

- A Sra. É dá família? – Disse ele gentil.

- É a prima do paciente, César – Antecipou-se Bia, achei bom, porque eu não tinha forças nem para falar. Eles se olharam, um olhar estranho, olhar de médico, sabe? Ele fez um gesto... Ela apertou minha mão mais forte – Cris... – Disse agora fitando-me de frente – Ele... O Guga... Não... Lamento, Cris! – Respirou fundo – Ele não resistiu - Completou.

De repente ouvi umas vozes longe... Cada vez mais longe... O chão começou a se mexer... Se mexer... E eu desabei... Pude ouvir o barulho do meu corpo encostando no chão, parecia câmera lenta... Acordei com uma mulher de branco enfiando uma luzinha nos meus olhos, acho que ela queria me deixar cega... Uma enfermeira segurava o meu braço e media a minha pressão... Bia estava segurando a minha mão e Mary encostada na maca onde eu estava deitada...

- Tá me ouvindo, Cris? – Disse Bia.

- Tô.

- Você teve uma queda de pressão... Desmaiou... Agora já está tudo bem.

- Diz que é mentira! – Pronto, acordei dentro do pesadelo novamente – Diz! – Segurei forte no seu jaleco, apertei-o nas mãos.

- Lamento... Ele chegou sem vida ao hospital – Disse mortificada.





... Quando retornei ao corredor gélido e sombrio, encontrei tia Vera abraçada ao meu pai e minha mãe segurando as suas mãos... Natasha e Luiz aos prantos no canto da parede... Caminhei lentamente até eles, Bia e Mary estavam ao meu lado... Quando Natasha me viu, veio correndo e largou-se nos meus braços... Retribui o abraço, apertei-a bem forte e choramos juntas...



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Capítulo 42: 7 dias

(por Karina Dias , adicionado em 30 de Maio de 2007)




... Era uma tarde fria, o tempo estava cinza e uma chuva fininha teimava em se fazer presente... Despedi-me de Natasha na porta do cemitério, eu não conseguia ficar perto dela, precisava de um tempo para digerir os últimos acontecimentos, e ela... Bom... Ela também não se sentia muito confortável ao meu lado, isso era visível nos seus olhos.

- Tem certeza que não quer que eu te leve em casa? – Disse sem conseguir olhar nos olhos da menina. Era torturante.

- Não precisa, Cris... Eu prefiro ir andando... Não fica tão longe... – Baixou os olhos – Tchau – Disse fria.

- Naty! – Chamei-a antes que virasse as costas pra mim – Acho... Acho que precisamos de um tempo – Disse com nó na garganta.

- Cla...ro... – Disse um pouco surpresa, eu acho, oras! Ela fitou-me surpresa pelo menos – Se é assim... Cuide-se, Cris! – Sussurrou.

- Te digo o mesmo – Beijei seu rosto... Entrei no carro e sai. Não tínhamos muito o que conversar, na verdade, tudo o que menos queríamos era conversar... Olhei pelo retrovisor, e ela ainda estava parada no mesmo lugar, olhando sabe Deus pra onde.

Vocês devem estar se perguntando... Porque, né? Sinceramente eu não saberei responder... Tudo havia ficado tão estranho entre a gente... Eu não consegui dar um beijo se quer nos lábios dela desde que toda essa tragédia ocorreu, olhava para aquela garota que eu tanto amava, e sentia dor... Bia e Mary foram para casa comigo, não trocamos uma palavra por todo o caminho...

- Cris! – Chamou-me Bia, logo que entramos no meu apartamento, Mary havia ido até a cozinha – Desculpa a intromissão, mas... Ouvi a sua conversa com a Natasha, não acha que está sendo radical?

- Preciso de um tempo, Bia! – Encostei-me na parede ao lado da TV – Eu fiz tudo errado desde o começo – Comecei a chorar, ela abraçou-me, senti-me em paz nos braços dela... Bia me dava tanta paz, sinto raiva de mim, por ter cedido a Natasha naquela noite, estávamos indo tão bem... – Eu já sabia que ele estava se perdendo nas drogas, eu era a única que sabia... Não procurei meu pai, nem minha tia... Muito menos uma clínica... Não dei a importância necessária a difícil situação que o Guga estava passando... Fiquei praticamente ignorando tudo isso, porque não conseguia parar de correr atrás da Natasha – Abracei-a mais forte... Senti toda a sua proteção naquele abraço – Eu não devia ter corrido atrás dela, não devia...

- Não há culpados, Cris – Sussurrou no meu ouvido – Você não fez por mal, também se apaixonou por ela... E com relação as drogas, ele já estava envolvido... Pelo que sei, se envolveu antes da Natasha estar entre vocês – Disse calma. Percebi naquele instante que a calmaria dela, era uma das coisas que eu mais admirava em Bia.

- Ele poderia ter se tratado no começo... – Respirei fundo – Me deixei levar pelas promessas falsas dele de que iria parar. Eu queria acreditar nisso, era mais fácil... sobrava mais tempo para ficar atrás da namorada dele, droga! – Percebi que minhas lágrimas molhavam a sua blusa, levantei o rosto... – Desculpa.

- Não se preocupe com isso, se chorar te faz bem, então chore... Chore o quanto quiser no meu ombro – Disse enquanto passava as mãos carinhosamente pelos meus cabelos.

Mary já estava na sala, nos olhava, sem nada dizer... Segurava um copo com água nas mãos...

- Toma esse comprimido, Cris! - Disse Mary esticando a mão para que eu pegasse o remédio.

- O que é isso? – Fitei o bolso da calça dela.

- Relaxa! É homeopatia, vai te fazer bem – Disse.

- Desde quando homeopatia é vendido em embalagem de tarja preta? – Apontei a caixa do comprimido em seu bolso.

- Toma logo esse comprimido e deita logo na sua cama, sua enxerida! – Disse ela fingindo estar brava.

Duvidei que aquele comprimido pudesse me fazer dormi, mas... Tomei, logo me deitei na cama... Não sei quanto tempo demorou, só sei que eu apaguei.





... Olhei no espelho... Hoje completam sete dias – Pensei. Estava arrumando-me para a missa de sétimo dia quando a campainha tocou... Abri a porta...

- Oi – Disse, logo entrou – Ainda fugindo de mim, Cris? – Disse Natasha com os olhos tristes.

- Desculpa... É que ainda...

- Você não consegue ficar comigo, não é? Se sente culpada pelo que aconteceu e está me castigando pela culpa que carrega – A menina olhou-me nos olhos... Desviei os meus... Ela abraçou-me com carinho, tentou beijar-me... Eu não consegui beijá-la...

- Desculpa – Disse com nó na garganta, logo desvinculei-me do seu abraço – Não está sendo fácil – Disse quase num sussurro.

- Não está sendo fácil pra ninguém, Cris! – Fitou-me séria.

- Droga! Ele morreu quase nos meus braços, e se nós... Se nós não...Sabe? Ele podia ter tido uma chance – Desabei no sofá... Mãos nos joelhos... Natasha abaixou-se na minha frente, ergueu minha face...

- A culpa não é sua... A culpa não é nossa – Disse e segurou meu rosto com as duas mãos, beijou meus lábios – Eu te amo, Cris! – Disse com lágrimas nos olhos – Preciso de você – Sussurrou.

- Eu tô muito confusa – Fitei seus olhos, eu não sabia mais o que tinha no meu coração... Conseguem entender? Era uma mistura de culpa com revolta... Será que a culpa se sobrepôs ao amor que estava dentro de mim?

- Não vou insistir – Disse ela... Levantou-se, caminhou até a porta – Desculpa por não ter respeitado o seu tempo... Vou esperar o seu tempo – Disse e saiu.

Joguei meu corpo pra trás... Coloquei as mãos no rosto... – O que está acontecendo comigo? – Pensei.



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Capítulo 43: 7 dias

(por Karina Dias , adicionado em 30 de Maio de 2007)




... Era uma tarde fria, o tempo estava cinza e uma chuva fininha teimava em se fazer presente... Despedi-me de Natasha na porta do cemitério, eu não conseguia ficar perto dela, precisava de um tempo para digerir os últimos acontecimentos, e ela... Bom... Ela também não se sentia muito confortável ao meu lado, isso era visível nos seus olhos.

- Tem certeza que não quer que eu te leve em casa? – Disse sem conseguir olhar nos olhos da menina. Era torturante.

- Não precisa, Cris... Eu prefiro ir andando... Não fica tão longe... – Baixou os olhos – Tchau – Disse fria.

- Naty! – Chamei-a antes que virasse as costas pra mim – Acho... Acho que precisamos de um tempo – Disse com nó na garganta.

- Cla...ro... – Disse um pouco surpresa, eu acho, oras! Ela fitou-me surpresa pelo menos – Se é assim... Cuide-se, Cris! – Sussurrou.

- Te digo o mesmo – Beijei seu rosto... Entrei no carro e sai. Não tínhamos muito o que conversar, na verdade, tudo o que menos queríamos era conversar... Olhei pelo retrovisor, e ela ainda estava parada no mesmo lugar, olhando sabe Deus pra onde.

Vocês devem estar se perguntando... Porque, né? Sinceramente eu não saberei responder... Tudo havia ficado tão estranho entre a gente... Eu não consegui dar um beijo se quer nos lábios dela desde que toda essa tragédia ocorreu, olhava para aquela garota que eu tanto amava, e sentia dor... Bia e Mary foram para casa comigo, não trocamos uma palavra por todo o caminho...

- Cris! – Chamou-me Bia, logo que entramos no meu apartamento, Mary havia ido até a cozinha – Desculpa a intromissão, mas... Ouvi a sua conversa com a Natasha, não acha que está sendo radical?

- Preciso de um tempo, Bia! – Encostei-me na parede ao lado da TV – Eu fiz tudo errado desde o começo – Comecei a chorar, ela abraçou-me, senti-me em paz nos braços dela... Bia me dava tanta paz, sinto raiva de mim, por ter cedido a Natasha naquela noite, estávamos indo tão bem... – Eu já sabia que ele estava se perdendo nas drogas, eu era a única que sabia... Não procurei meu pai, nem minha tia... Muito menos uma clínica... Não dei a importância necessária a difícil situação que o Guga estava passando... Fiquei praticamente ignorando tudo isso, porque não conseguia parar de correr atrás da Natasha – Abracei-a mais forte... Senti toda a sua proteção naquele abraço – Eu não devia ter corrido atrás dela, não devia...

- Não há culpados, Cris – Sussurrou no meu ouvido – Você não fez por mal, também se apaixonou por ela... E com relação as drogas, ele já estava envolvido... Pelo que sei, se envolveu antes da Natasha estar entre vocês – Disse calma. Percebi naquele instante que a calmaria dela, era uma das coisas que eu mais admirava em Bia.

- Ele poderia ter se tratado no começo... – Respirei fundo – Me deixei levar pelas promessas falsas dele de que iria parar. Eu queria acreditar nisso, era mais fácil... sobrava mais tempo para ficar atrás da namorada dele, droga! – Percebi que minhas lágrimas molhavam a sua blusa, levantei o rosto... – Desculpa.

- Não se preocupe com isso, se chorar te faz bem, então chore... Chore o quanto quiser no meu ombro – Disse enquanto passava as mãos carinhosamente pelos meus cabelos.

Mary já estava na sala, nos olhava, sem nada dizer... Segurava um copo com água nas mãos...

- Toma esse comprimido, Cris! - Disse Mary esticando a mão para que eu pegasse o remédio.

- O que é isso? – Fitei o bolso da calça dela.

- Relaxa! É homeopatia, vai te fazer bem – Disse.

- Desde quando homeopatia é vendido em embalagem de tarja preta? – Apontei a caixa do comprimido em seu bolso.

- Toma logo esse comprimido e deita logo na sua cama, sua enxerida! – Disse ela fingindo estar brava.

Duvidei que aquele comprimido pudesse me fazer dormi, mas... Tomei, logo me deitei na cama... Não sei quanto tempo demorou, só sei que eu apaguei.





... Olhei no espelho... Hoje completam sete dias – Pensei. Estava arrumando-me para a missa de sétimo dia quando a campainha tocou... Abri a porta...

- Oi – Disse, logo entrou – Ainda fugindo de mim, Cris? – Disse Natasha com os olhos tristes.

- Desculpa... É que ainda...

- Você não consegue ficar comigo, não é? Se sente culpada pelo que aconteceu e está me castigando pela culpa que carrega – A menina olhou-me nos olhos... Desviei os meus... Ela abraçou-me com carinho, tentou beijar-me... Eu não consegui beijá-la...

- Desculpa – Disse com nó na garganta, logo desvinculei-me do seu abraço – Não está sendo fácil – Disse quase num sussurro.

- Não está sendo fácil pra ninguém, Cris! – Fitou-me séria.

- Droga! Ele morreu quase nos meus braços, e se nós... Se nós não...Sabe? Ele podia ter tido uma chance – Desabei no sofá... Mãos nos joelhos... Natasha abaixou-se na minha frente, ergueu minha face...

- A culpa não é sua... A culpa não é nossa – Disse e segurou meu rosto com as duas mãos, beijou meus lábios – Eu te amo, Cris! – Disse com lágrimas nos olhos – Preciso de você – Sussurrou.

- Eu tô muito confusa – Fitei seus olhos, eu não sabia mais o que tinha no meu coração... Conseguem entender? Era uma mistura de culpa com revolta... Será que a culpa se sobrepôs ao amor que estava dentro de mim?

- Não vou insistir – Disse ela... Levantou-se, caminhou até a porta – Desculpa por não ter respeitado o seu tempo... Vou esperar o seu tempo – Disse e saiu.

Joguei meu corpo pra trás... Coloquei as mãos no rosto... – O que está acontecendo comigo? – Pensei.



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Capítulo 44: Desculpa!!!

(por Karina Dias , adicionado em 30 de Maio de 2007)




Oie lindas... Desculpa por ter postado duas vzs, é q pensei q naum tinha ido, deu erro na pagina... rsrsrs



Bjus!!!!!!!!!



Karina



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Capítulo 45: Dias de crítica

(por Karina Dias , adicionado em 31 de Maio de 2007)




Mary e Bia todas as noites vinham até minha casa, mesmo porque eu não tinha mais ânimo para nada... Era uma Quinta-feira, eu não fui trabalhar e também não queria ir a faculdade... Liguei a TV, estava passando um filme qualquer, não lembro o nome, muito menos sobre o que era a estória, só não queria dar papo para aquelas duas. Nossa! Elas pararam na minha frente de braços cruzados, pareciam minhas mães... Ultimamente estavam agindo desta forma, sabe quando nossa mãe nos olha com aquela cara: “você está ficando rebelde, menina?”.

- O que foi? – Disse olhando-as.

- Como está indo a sua matéria da faculdade? – Disse Mary.

- Terminando.

- O trabalho na loja do seu pai? – Disse Bia.

- Vai indo.

- Não acha que já está na hora de parar de se sentir culpada e retomar a sua vida? – Disse Mary sentando-se ao meu lado no sofá.

- Tá falando da Natasha?

- Sim! – Antecipou-se Bia, e logo sentou-se ao meu lado do outro lado do sofá – Poxa, Cris! Já tem quase um mês que você não retorna os telefonemas da menina... Cadê aquele amor todo?

- Tá aqui! – Coloquei a mão na altura do coração e suspirei – Não sei se devo retomar essa história, o Guga não merecia o que eu fiz – Disse baixando os olhos.

- Para de sentir pena de si mesma!porque não deixa esse amor falar mais alto do que essa culpa desnecessária que te impede de ser feliz? – Continuou Bia – Olha pra você, Cris! Tá na cara que não está feliz sem ela, quer enganar quem? Vai ficar aí se punindo até quando? – Balançou meu braço – Ele não vai voltar! – Disse.

Mary levantou-se, foi até a janela, abriu as cortinas...

- você prometeu que iria cuidar dela – Disse e virou-se novamente para nós.

- O que você disse? Repete! – Levantei-me.

- Eu não disse nada, Cris! Só afastei as cortinas – Fitou Bia por um segundo – Eu disse alguma coisa?

- Não ouvi.

Fiquei em silêncio por alguns segundos... Será que eu estava ficando louca? Ouvindo coisas agora? Fechei os olhos e pude retornar aos meus últimos instantes ao lado de Guga...Foi a primeira vez que consegui lembrar-me de tudo o que acontecera com exatidão... Lembrei-me de cada palavra que ele pronunciou com dificuldade, na verdade, olhando por esse lado, eu realmente não ouvi Mary dizer-me nada, foram às palavras de Guga que teimavam em se fazer presente naquele instante por algum motivo... Ele havia me pedido pra cuidar dela, lembram? Como pude esquecer-me dessas palavras? Se ele disse isso... Bom... Isso quer dizer que me perdoou? Levantei-me de sobressalto... Como se o mundo tivesse saído dos meus ombros... Apanhei as chaves do carro que estavam ao lado da TV...

- Onde você vai, Cris? – Perguntou Mary.

- Deixa ela – Ouvi Bia dizer.

Bati a porta e saí...





... Vinte minutos foi o tempo que levei para chegar até a casa de Natasha... Toquei a campainha deveras nervosa, ansiava por vê-la, se bem que depois de tanta recusa, nem sei como seria a reação dela ao se deparar comigo novamente... O coração batia tão forte, estava descompassado, era tanta saudade! Meus olhos brilhavam esperando alguém atender-me... Ela veio... Veio a meu encontro e eu fiquei olhando pra sua face, sua expressão... Precisava saber se me olharia com magoa, ou com saudade... Natasha sorriu ao ver-me parada no portão da sua casa, acho que isso foi uma resposta, não é? Positiva, espero! A menina estava ainda mais linda, como ela podia estar ainda mais linda? Ela vestia um shortinho de dormir branco, uma camisa no mesmo tecido de malha suja de tinta... Veio correndo abrir o portão, estava com os pés descalços, cabelos presos para trás... Quase não esperei-a destrancar o portão, a vontade que eu tinha era a de passar por aquelas grades... Ela abriu, eu empurrei o portão com força... Abracei-a bem forte, senti seu coração marcando os passos com o meu... Batiam no mesmo ritmo acelerado...

- Me perdoa , amor? – Disse entre beijos na boca e beijos no rosto... Sorrisos... Olhos exibidos de saudade...

- Nem acredito – Disse beijando minha boca com paixão – Preciso tanto de você – Sussurrou com seus lábios encostados nos meus - Porque me fez esperar por tanto tempo?

- Fui uma idiota.

- Foi mesmo – Disse... Segurou meu rosto com as mãos... Beijou-me com desejo, tesão... Paixão... – Puxou-me pelas mãos... Não entramos no seu quarto, não deu tempo... Ao passarmos pela porta da cozinha, Natasha desviou o caminho... Ela apoiou-se na mesa, enquanto nossos corpos queimavam um no outro... Levantei-a um pouco, ela sentou-se... Ainda bem que a mesa era de madeira maciça – Pensei. Arranquei-lhe o short, logo a calcinha... Posicionei-me no meio das suas pernas, senti seu sexo roçar em mim, meu corpo tremia, era desejo, saudade, amor... Circulando por toda a minha corrente sanguínea... Tirei sua blusa e minhas mãos logo alcançaram seus seios rígidos... Beijei seu pescoço... Desci até os seus seios, chupei-os com fome, lambi-os com sede... Suguei ora num, ora noutro... Minhas mãos deslizavam pelas suas coxas, passeavam pelo seu sexo molhado... Ela gemeu, puxou meus cabelos e pediu para chupar seus seios com mais força... Passei a língua envolta do mamilo e logo tornei a sugar... Minhas mãos ainda passeavam nas suas coxas, afastei um pouco mais as suas pernas, e coloquei meus dedos dentro dela... Natasha gritou, laçou a minha cintura com as duas pernas, prendeu-me dentro dela... Penetrei-a mais fundo, e mais forte... Sua respiração ofegante me alucinava... Ela mordia os lábios e fechava os olhos, vendo a sua fisionomia se transformar tanto, eu quase desmaiava de desejo.

- Chu...pa, Cris! – Sussurrou... Empurrou minha cabeça... – Quero sentir a sua língua dentro de mim – Disse e gemeu... Inclinei-me no mesmo instante e devorei o seu sexo excitado... Ela passava as mãos nos meus cabelos, se contorcia sentada sobre a mesa... Minhas mãos nas suas coxas sentiam sua carne trêmula. Era tanta saudade do gosto dela, aquele cheiro excitante que me causava arrepios por todo o corpo... Seu clitóris latejava na minha boca... Ela gozou demoradamente... Não consegui me mover... Continuei ali, no meio das suas pernas, acariciando-a, tocando-a com desejo... Ela gozou novamente, e me puxou para um abraço... Seus braços acolhedores me envolveram, e eu senti uma lágrima que caiu dos olhos dela molhar o meu ombro, onde ela havia apoiado a cabeça... Busquei seus olhos... Fitei-os com carinho, amor... Impossível não olhar para ela e não exibir através dos meus olhos todo o amor que estava explodindo no meu coração... Linda! – Pensei – A mais linda de todas as mulheres! Eu a vejo com meu coração, com a minha alma... Com a minha vida a seu inteiro dispor – Continuei pensando, ela sorriu, será que leu os meus pensamentos?

- Eu te amo, Naty – Disse também com os olhos úmidos – Vou te amar pra sempre.

Natasha suspirou, segurou minha face com as duas mãos... Olhou-me profundamente com aqueles olhos que tanto me fascinam... Ela era perfeita pra mim – Pensei. Bom, ela sorriu novamente, ficou calada... Eu não precisava ouvir nada mesmo, às vezes o silêncio é a melhor palavra, um olhar é quase um discurso, e um sorriso, é o sepultar de qualquer magoa que podia ter existido... Natasha deu um pulo da mesa, caiu em meus braços...

- Vem cá, Cris! – Disse e puxou-me pela mão... Paramos na porta do seu quarto... Ela posicionou-se nas minhas costas, senti seu corpo nu roçar no meu, quase agarrei-a novamente, mas, ela resistiu... – Fica quietinha – Disse enquanto tapava os meus olhos com as duas mãos.

- Porque tá tapando os meus olhos? – Disse e tentei fazer cócegas nela para que soltasse as mãos.

- Não pergunta, e para de fazer isso, se não vai estragar tudo! – Disse se esquivando da minha brincadeira – Anda, vai? – Sussurrou no meu ouvido. Senti meus pêlos se arrepiarem na hora... Natasha empurrou-me com o seu corpo... Dei alguns passos... Ela então tirou as mãos dos meus olhos... – O que acha? – Disse e fitou-me apreensiva.

Olhei em volta...

- É... É... Lindo, Naty! – Disse maravilhada com o que vi.

Ela sorriu... Vocês não podem imaginar como era radiante aquele sorriso... Iluminava tudo a nossa volta, acho que nem o Sol tinha tanta luz quanto aquele sorriso... Exagero? Não, não! Ela é repleta de luz mesmo.

- Viu? Não te disse uma vez que meu trabalho não era nada ilícito? – Caminhou até a janela, abriu as cortinas para que eu pudesse ver melhor – É só um hobby – Disse.

Cheguei mais perto... Toquei a tela... Olhei novamente pra menina...

- É lindo! – Perceberam que eu não conseguia dizer mais nada?

- Tá falando sério? – Disse insegura.

- Claro! – Aproximei-me dos outros... Ah! Desculpa! Eram quatro quadros que eu estava vendo... Todos pinturas de pessoas, semblantes sérios, felizes... Lágrimas... Dor, sorrisos... Pele negra, pele branca...

- Olha esse – Tirou um pano branco que cobria a tela – É o que mais gosto – Disse.

- Nossa! – Cheguei mais perto – Vo... cê... Pintou o meu rosto? Mas... Eu tô com uma cara de idiota aí.

- Pára, tá? – Sorriu – É o jeito que você me olha... – Suspirou – Desde que você me olhou pela primeira vez, eu nunca mais esqueci o teu olhar – Disse.

- Caraca, Naty!

- O que foi, Cris?

- Eu não tenho essa cara de boba – Fitei-a envergonhada. Eu tinha aquela cara de boba? Vocês também acham isso? Estão do lado dela?

- Tem sim... – Sussurrou, logo empurrou-me... Caí na cama... Apoiei-me com os cotovelos, sentei-me... Natasha sentou-se no meu colo, de frente pra mim... Tirou minha blusa lentamente... Não disse nada, apenas olhou-me com aquela cara de desejo e saudade... Sugou meus seios, perdi as forças sentindo aquela língua macia deslizando pelos mamilos, suas mãos também acariciavam-nos... Senti o contato dos seus seios nos meus quando ela tentava abrir o ziper da minha calça... Natasha levantou-se por alguns instantes, tirou minha calça... Deixou-me nua também, e sentou-se novamente no meu colo... Senti o seu sexo em contato com o meu... Ela rebolava tão gostoso, seu corpo em atrito com a minha pele, suas mãos em minhas costas arranhando-me, minhas mãos nas suas costas puxando-a cada vez mais pra mim... Minha boca agora tomava os seus seios, enquanto ela se contorcia nos meus braços... Gemia, e sussurrava frases obscenas no meu ouvido, aumentando cada vez mais o calor que emanava de nós duas... Não agüentei, gozei... Ela riu... – Ainda nem coloquei a boca – Sussurrou no meu ouvido.

- Você não precisa de muito para me fazer gozar – Disse enquanto tentava controlar a respiração.

- Ainda não terminei – Disse, logo olhou-me com aquela carinha de menina ingênua e safada que ela conciliava com perfeição. Fiquei sem ar novamente... Natasha empurrou-me para que eu deitasse na cama, depois jogou seu corpo sobre o meu... Afastou minhas coxas e posicionou-se no meio das minhas pernas, como se não bastasse isso, aprisionou os meus pulsos acima da minha cabeça... A menina movimentava o seu corpo com sensualidade, seus cabelos caiam pelo meu rosto, e sua pele quente me fazia perder o pouco controle que ainda me restava... Gemi alto... Sussurrei no seu ouvido que a amava... Ela parou de se mover...

- Continua – Disse com a voz falha.

- Pede, Cris... – Disse baixinho no meu ouvido... Beijou o meu pescoço... Deixou-me louca – Pede – Disse enquanto mordia de leve o meu queixo.

- Não me tortura, Naty! Me chupa logo... Me come... Faz o que quiser comigo, mas... Deixa eu sentir a sua língua dentro de mim... – Sussurrei no seu ouvido. A menina soltou os meus pulsos, e desceu lentamente pelo meu corpo, passando a língua, a boca e seu hálito quente pela minha pele... Suas mãos acariciavam-me com malícia... Ela se divertia com a minha ansiedade... Não agüentei esperar, segurei sua cabeça e conduzi-a para o meio das minhas pernas... Ela começou a me chupar... Me penetrar suavemente com seus dedos... E eu perdi as contas de quantas vezes gozei...

Dormimos abraçadas a tarde inteira... Acordamos com o barulho da porta da sala, e com a conversa dos pais da menina... Dei um pulo da cama... Comecei a vestir-me às pressas... Natasha abriu os olhos, me olhou sorridente...

- O que foi, Cris? – Disse despreguiçando.

- Seus pais, Naty! Acabaram de chegar... Ouvi o barulho da porta... E... Uma conversa também... – Continuei vestindo-me nervosa... A Calça não queria entrar, eu não engordei, não, tá? Era o nervoso e o medo que eles nos pegassem em flagrante, já imaginaram isso? Bom... A calça não queria entrar mesmo, tropecei nela e caí... Natasha ficou gargalhando, enquanto eu pedia pra ela ficar quietinha se não eles iriam nos ouvir.

- Amor – Disse ela – Esquece essa calça, volta pra cama...

- Hei! Acorda menina! Eu disse que seus pais estão aí! – Fitei-a temerosa.

- E eu ouvi você dizendo – Bateu no colchão – Vem! Deita aqui comigo! Eles sabem que eu fiquei esse tempo todo esperando você se decidir.

- Tá brincando, né? – Levantei-me... De onde? Do chão, oras! Eu caí esqueceram? Sentei-me na cama...

- Queria vê-los zangados? – Abraçou-me e puxou-me para que eu deitasse ao seu lado – Eles me querem feliz, Cris! E já sabem que é você quem pode fazer isso por mim.

- Mas... Mas...

- Mas... Me beija, e me faz feliz, tá? – Disse e beijou-me.



CONTINUA....Rsrs



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Capítulo 46: Simplesmente irresistível!!!

(por Karina Dias , adicionado em 1 de Junho de 2007)








... A apresentação do trabalho na faculdade foi fantástica... Colocamos uma imensa fotografia de Guga no auditório, e uma frase que ele gostava de dizer: “ a cidade nunca dorme” era a maneira dele dizer que adorava a vida. Luciano estava presente, Júlio e a Tia também. Selma tia do menino, estava em tratamento com o AAA (associação dos alcoólatras anônimos) e desde que começara com as seções, se mantinha sóbria, não mais faltava ao trabalho, e cuidava melhor de Julio, acho que ela compreendeu o ART. 5º DO ESTATUDO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE QUE DIZ: “ nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais”... A vida do menino Júlio estava mudando, ainda bem que ele não perdeu a esperança. No seu aniversário de onze anos que fora na semana passada, dei de presente pra ele o tal videogame que o menino tanto queria. Júlio voltou a estudar, era bolsista no colégio que pertencia à família de Vitor. Agora dividia seu tempo assim, estudava de manhã, e a tarde jogava futebol, o menino tinha talento, e os Clubes cariocas já estavam de olho nele, embora o sonho do menino fosse jogar no Vasco da Gama, seu time de coração, era o Botafogo quem tinha o privilégio de tê-lo em sua escolinha de futebol. Voltando a apresentação do trabalho... Sabe com quem ficou o título de melhor matéria? Com Anselmo, que cobriu a história sobre os animais em extinção com outro grupo, pelo menos ele abandonou aquela bolsa de couro de jacaré, lembram dela? Acho que falar sobre drogas e violência hoje em dia, não causa muito impacto, e é isso que me assusta, porque as pessoas estão se acostumando com as situações, e já se tornou parte do cotidiano delas saber de um amigo que morreu atingido por bala perdida, ou ter um parente usuário de drogas... De qualquer forma, continuo achando que a melhor reportagem é aquela que nos permite alertar a sociedade sobre os riscos que estão ao nosso lado, e tentar lutar contra essa maré de conformidade que parece ter se instalado em cada um de nós... Ah! Foi bem nesse dia que Luiz viu Janice pela primeira vez... Agora acho que ele sabe perfeitamente o que eu senti quando vi Natasha pela primeira vez.





... Seis meses depois... Finalmente eu estava saldando uma dívida minha com Bia, não foi um jantar, mas um almoço... Onde? Na Confeitaria Colombo. Sim! A histórica Colombo que foi fundada em 1894 pelos imigrantes Portugueses Joaquim Borges de Meireles e Manoel José Lebrão. Estávamos eu, Natasha, Bia e Mary sentadas na mesa, vocês tinham que ver como Mary estava apaixonada por Bia, até em casamento minha amiguinha “coração prático” estava falando nos últimos dias, seu discurso sobre o amor evoluíra bastante, ela me confidenciou varias vezes que havia encontrado a sua alma gêmea, isso mesmo! Essas palavras que ela usou, podem acreditar...

Bia estava encantada com o lugar, dava pra ver nos seus olhos atentos a cada detalhe... Nos sentamos... Estávamos à espera de Amanda e Cláudio, o novo namoradinho que ela conhecera na Net, e Luiz e Janice...

- Confesso que já estou pensando na sobremesa, Cris – Disse Bia animada – O que sugere?

- Acho que você irá gostar bastante de um “Rivadávia”, discos de pão de ló recheados com doce de leite, cobertura de fondant.

- Naty, Naty... – Disse Mary com aquela cara de: “lá vem bomba” – Não sei o que seria de mim se você não tivesse aparecido na vida da minha amiga, Cris.

- Como assim? – Disse já esperando a resposta.

- Imagina eu ficar sem a Bia? – Segurou nas mãos da Pediatra – Quero ficar com você pra sempre – Disse séria. Vocês viram? Perdidamente apaixonada.

- Mary, Mary... – Disse Bia fazendo carinho na “futura esposa” – Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Nada de ciúmes bobos, está bem?

- Sim Senhora... – Disse Mary e sorriu – Te amo!

Nesse momento meus irmãos chegaram e foram se acomodando, conseqüentemente cortaram o clima de romance que se instalara no ambiente... Amanda foi logo cumprimentar Natasha...

- Nervosa amiga? – Disse ela, segurando nas mãos da cunhadinha. Adorei isso! Cunhadinha!

- Bastante – Sorriu tímida – Minha primeira exposição, né?

- Vai ser um sucesso, amor – Segurei suas mãos – Você é um sucesso.

Luiz sentou-se com Janice, Amanda com Cláudio.

- Vocês demoraram, hein? Estou morrendo de fome – Disse Mary olhando maliciosamente para Bia que baixou a cabeça e sorriu.

- Juízo, hein? – Disse no ouvido de Mary.

- Ela tem – Sussurrou no meu ouvido debochada.

... Eu estava sorrindo animadamente das piadas de Mary quando vi um moleque de aproximadamente três anos vir correndo em nossa direção... O menino parou na minha frente e ficou me olhando, estava com a boquinha suja de torta de chocolate, e segurava um pedaço da referida torta em uma das mãos...

- Quer? – Disse ele com um sorriso que pareceu iluminar a minha vida... Antes que eu pudesse responder a ele, sua mãe veio correndo e puxou-o pelo braço.

- Guga! Quantas vezes já pedi pra não fazer isso comigo? – Disse ela brava com o menino – A sua irmã está quietinha sentada na cadeirinha dela, porque você tem que ficar correndo desse jeito? – Virou-se para nós – Desculpa o meu filho, ele dá muito trabalho.

Levantei-me... Meus olhos já estavam cheios de lágrimas, abaixei-me até que eu pudesse ficar o mais próximo da altura do menino... Lembrei-me de Guga, meu primo desde pequeno tinha mania de correr pelos restaurantes, matando minha tia de vergonha, sem contar que ele também adorava torta de chocolate...

- Oi Guga! – Disse, logo o menino sorriu – Posso te dar um abraço? – Ele esticou os bracinhos... Peguei-o no colo... Apertei-o nos meus braços e foi inevitável não ficar comovida com aquele momento – Você tem um futuro brilhante pela frente, rapazinho – Disse baixinho no seu ouvido, lembrei-me que meu pai costuma dizer que as palavras têm muita força, algo relacionado a Deus ouvi-las, sabe? Depois que coloquei-o no chão, sua mãe puxou-o...

- Desculpem mais uma vez... Vamos menino! – Disse brava – Vai ficar de castigo quando chegar em casa.

Fiquei olhando-os se afastarem...Guga olhou pra trás, acenou pra gente... Eu sorri e acenei de volta... Perdi as contas de quantas vezes ouvi minha tia Vera falar que iria pôr meu primo de castigo... Eu não estava triste se querem saber, eu estava... Emocionada, as lembranças que vieram na minha cabeça no instante em que vi aquele menino, foram as melhores que eu tinha de Guga, nossa infância... Adolescência... Acho que as lembranças ruins estavam trancadas em algum lugar dentro de mim, e tenho quase certeza que eu tinha jogado a chave fora... Sentei-me novamente. Todos me olhavam com aquela cara: “ai que peninha!”, sabem como? Odeio que sintam pena de mim...

- O que foi? – Disse e sorri – Parem de me olhar com essa cara!

- Devia pensar em produzir um bebê - Disse Mary.

- Não me venha com essa, tá? Se a Natasha quiser...

Natasha me beliscou.

- Não me venha com essa idéia você, tá legal? – Disse e sorriu.

- Ai! Não está mais aqui quem falou... Mas, se você não quiser ter um com essa sua carinha linda, não tem problema... Podemos adotar um time de futebol, que tal?

- Vamos pensar nisso no futuro, está bem? – Disse ela animada – Por enquanto já basta o Júlio, que seus pais adotaram e que é mais teu filho do que irmão.

Esqueci de dizer, depois que a tia de Júlio faleceu, fiz esse pedido aos meus pais, tendo em vista que seria muito complicado nas minhas “condições” adotar uma criança, de qualquer forma, filho ou irmão... Meu amor por aquele menino é o mesmo...



... Dois meses depois... Olhei o relógio mais de vinte vezes. – Mas que demora! – Pensei, logo levantei-me e fui até o quarto de Natasha. Entrei sem bater...

- Amor... – Bom, esqueci completamente o que iria dizer depois do que vi – Você está... Linda! – Sussurrei.

- Ainda não terminei, Cris! – Empurrou-me para que eu saísse do quarto – Não é porque os meus pais não estão em casa que você pode ficar tirando a minha concentração quando eu estiver me arrumando, está bem? – Disse sorrindo.

- Não faz assim... – Puxei-a pra mim... Beijei seus lábios – Vamos ficar aqui no seu quarto, vamos? – Disse baixinho no seu ouvido, enquanto beijava o seu pescoço.

- Pára, Cris! – Afastou-me sutilmente dela – É o casamento da Mary e da Bia, não podemos faltar! São nossas amigas!

- Elas vão superar a nossa ausência – Puxei-a novamente – Preciso de você agora! – Apertei-a em meus braços... Natasha olhou-me daquela forma que só ela sabia olhar... Abraçou-me... Beijou-me demoradamente... Já estávamos caminhando pra cama quando de repente eu me dei conta de que não podíamos mesmo faltar a tal festa, festa essa que seria no meu apartamento, como disse a Natasha, o apartamento da Mary, estava passando por reformas, e o de Bia, ouvi-a dizer qualquer coisa sobre uma infiltração no banheiro. Poxa! Vocês querem saber tudo!

- O que foi, amor? – Disse notando minha preocupação – Não quer mais? Me convence, depois cai fora?

- Tá louca? Claro que quero – Beijei-a – É que não podemos mesmo faltar a essa festa, né? Como você mesma disse: elas são nossas amigas – Ajeitei o vestido dela. Sim! Já estava quase fora daquele corpinho lindo – Quando a festa terminar... Você não me escapa – Sussurrei no seu ouvido. Não resisti e beijei mais um pouco aquele pescoço... Senti o cheiro delicioso da pele dela... Fiz um esforço tremendo e voltei pra realidade.



.... Mary me ligou três vezes... Duas durante o caminho da casa de Natasha até o meu apartamento, e a última quando nós já estávamos no elevador do prédio... Eu estava tão ansiosa que achei que me entregaria naquele momento, no momento em que toquei a campainha, no entanto, fui salva por Bia que não demorou para abrir a porta... Ela sorriu para nós, logo nos deu passagem... Segurei imediatamente na mão de Natasha que na medida que íamos entrando no apartamento, fora enchendo os olhos de lágrimas... Todos estavam lá... Sorrindo para nós... Felizes pela nossa felicidade... Júlio, meus pais, Tia Vera, Luiz, Janice, Amanda, Cláudio, Bia, Mary... E... Os pais de Natasha... Sim! Eles vieram, contrariando as minhas expectativas, pois sempre deixaram claro de que não aceitavam a nossa “opção sexual”, apenas respeitavam por amor a filha deles.

- Meu Deus, Cris! – Disse a menina surpresa, olhando para todos os cantos do apartamento... Não era uma festa, apenas uma pequena reunião para um grande comunicado – Como não desconfiei? – Disse abismada.

- Não teria graça se você desconfiasse, né? – Passei a mão no seu rosto... Nossa! Quando olho pra esse rostinho, é como se não existisse mais nada a minha volta... Como se o tempo parasse no instante que os meus olhos encantados de amor fitavam os dela... Segurei sua face delicadamente com as duas mãos... Puxei-a lentamente... Senti sua respiração afagar o meu rosto... Senti também Mary beliscar o meu braço...

- Seus sogros não vão gostar de ver isso, Cris! – Sussurrou no meu ouvido. Saímos do transe em que estávamos e sorrimos cúmplices uma para a outra... O sorriso dela estava tão carregado de emoção... Nessa hora os pais da menina se aproximaram de nós.

- Espero sinceramente que faça a minha filha feliz – Disse o pai de Natasha, a principio apertei sua mão, mas, fui surpreendida com um abraço paternal.

- Daria a minha vida pela sua filha – Disse ainda presa em seus braços.

- Não precisa tanto, só a faça feliz – Disse e sorriu.

- Faço minhas as palavras do meu marido, Cris! – Disse minha “sogra”, uau! Minha sogra! Viram? Não pude nem terminar meu pensamento, logo recebi outro abraço.

- Obrigada por terem trago ao mundo essa menina tão especial pra mim – Segurei novamente nas mãos de Natasha.

- Pára, Cris! – Acariciou de leve a minha mão – Não vai me deixar sem graça na frente dos meus pais também, né? – Sorriu.



... Depois de cumprimentarmos a todos, resolvi fazer o tal pedido, esse que não era segredo pra mais ninguém, né? Nem pra vocês... Natasha estava conversando animadamente com seus pais, e com os meus... Aproximei-me... Segurei nas mãos da menina, e fiz um gesto para que ela se levantasse... Levantou-se surpresa...

- Vem cá – Disse puxando-a pelas mãos... Caminhamos pelo corredor... Paramos na porta do quarto.

- Vamos fugir da festa, é isso?

- Mais ou menos – Disse enquanto girava a maçaneta – Fecha os olhos – Ela contestou um pouco, mas fechou os olhos – Obediente... Assim que eu gosto – Disse e sorri. Deixei a porta aberta e passei por trás dela, logo tapei seus olhos com as minhas mãos e com meu próprio corpo empurrei-a para que entrasse no quarto... – Agora pode olhar – Tirei as mãos... Confesso também ter ficado surpresa com o que vi, havia dito a Mary e Bia por alto o que eu queria, mas, não imaginava que a ornamentadora seria tão eficiente, ficou melhor do que em minha imaginação! Bem que a Mary garantiu que essa tal de Olívia era mesmo competente.

- Nossa, Cris! – Olhou pra mim... Depois voltou seu olhar para dentro do quarto – Tá lindo! – Sussurrou com as mãos na boca.

- Pra você! – Disse. Ah! Nossa... Gente! Desculpa... Bom... O ambiente estava a meia luz, haviam buquês de flores por toda a parte... Uma mistura de cores e aromas... A Champagne estava gelando, as duas taças ao seu lado, tão cúmplices quanto nós duas... E na cama, bom... A cama estava forrada com um lençol de pétalas de rosas vermelhas ... As pétalas também podiam ser vistas pelo chão do quarto... Romântica? É fácil quando nos sentimos a pessoa mais feliz do mundo.

- Amor... Pensei que você iria fazer um... Um pedido de casamento, talvez? – Disse desconcertada.

- E vou, por isso te trouxe aqui – Servi a champagne... Segurei nas mãos dela... Beijei docemente os seus lábios... – Eu e você, já é o suficiente... Amor, não tenho alianças... Nem um anel pra você, mas, a partir de hoje, vamos morar na mesma casa, dividir a nossa história... Construir uma vida em comum – Contive uma lágrima que escorreu dos olhos dela – Nós temos um compromisso somente com a felicidade, um compromisso que não inclui formalidades, nada a ver com um papel escrito, ou testemunhas para medir o que sentimos de verdade... Nada vale mais do que o dia-a-dia difícil, a realidade perfeita que é: seus cabelos despenteados pela manhã, os seus hábitos diferentes dos meus que eu tolero por amor... E compreendo com carinho e admiração... Porque sei que ninguém é igual ou diferente demais – Afaguei o seu rosto – No nosso cotidiano, inclui eu e você... Felizes dia sim, infelizes dia não... Porque é assim que a felicidade aparece, sem destino certo... Sem promessas... Somos só nós duas, e um ideal para realizarmos – Respirei fundo, eu queria segurar minhas lágrimas pelo menos desta vez durante essa estória toda, mas... Não consegui! – Tô oficializando nosso casamento. Não vai me dizer nada?

- Eu te amo, Cris! – Segurou meu pescoço com força – Te amo muito!

Segurei sua nuca com as duas mãos e a puxei para um beijo... O beijo carinhoso foi dando lugar a um beijo cheio de paixão que marcava perfeitamente os passos do nosso amor... As mãos macias de Natasha começaram a passear suavemente por baixo da minha blusa... Ela acariciava as minhas costas, arranhava na tentativa de puxar meu corpo para comprimir ainda mais no dela...

- Te quero agora – Disse a menina sem interromper o beijo.

- Eu também... Te quero – Disse com a voz descompassada, enquanto deslizava minhas mãos por baixo do vestido de Natasha, acariciando sua pele, e movendo o tecido lentamente para o alto, retirando-o do corpo dela... Tirei seu vestido... Ela tirou minha blusa... Beijei seu pescoço... Sua nuca... Sussurrei no seu ouvido... Ela retirou a minha calça, passou as mãos pelos meus seios... Beijou o meu queixo... Conduzi-a lentamente para a cama, antes de deitá-la retirei sua calcinha... Passei as mãos pelo seu sexo molhado... Ela retirou também a minha, deixou-me nua... sugou os meus seios como se fosse devorá-los... Deslizou as mãos pelas minhas coxas... gemi pra ela... Deitei-a na cama, seu corpo tocou lentamente as pétalas de rosas... Ela gemeu pra mim, fitou os meus olhos... Segurou minhas mãos e conduziu meu corpo para que cobrisse o dela... Aproximei meus lábios ao seu ouvido... Beijei, passei a língua...

- Pronto – Disse – você é mais uma pétala de rosas na cama - Sussurrei.

- Faz... Amor... Comigo... – ouvi-a dizer, entre gemidos e o barulho da sua respiração alterada.

Beijei seus lábios com desejo... O desejo que latejava pelo meu corpo inteiro quando eu tocava naquela mulher... Deslizei minha boca pelo seu corpo... Chupei seus seios com paixão... Desespero... Volúpia... Senti seus mamilos rígidos se perderem na minha boca, foram tocados intensamente pela minha língua... Apalpados pelas minhas mãos sedentas por eles... Beijei sua barriga, acariciei com a ponta dos dedos o lado do seu corpo, minhas mãos escorregavam por toda a lateral, enquanto meus lábios devoravam novamente os teus seios... Seus pêlos arrepiados, seu calor emanando cada vez mais... queimando a minha pele... Desci marcando o caminho com a saliva dos meus beijos que molhavam o seu corpo... Beijei suas coxas... Mordi levemente... Abri suas pernas, passei a língua superficialmente no seu sexo úmido de desejo... Ouvi seu gemido sôfrego, suas suplicas carregadas de vontade... Massageei seu clitóris com os dedos... Meu corpo tremia... Minha boca aguava... Não agüentei a tortura da espera... Segurei forte as suas nádegas com as duas mãos e a puxei de encontro ao meu rosto... Minha língua a invadiu com pressa, com fome... Com gula... Natasha gemeu ainda mais alto... Sussurrou frases desconexas, enquanto eu a tomava com paixão... Me deliciando completamente com o sabor excitante do sexo dela... Antes de sentir o seu gozo escorrer pela minha boca, a penetrei devagar... Sem parar de me deliciar com o seu sabor... Não demorou para ela pedir-me que a tocasse mais rápido e mais fundo... Assim eu fiz... E então... Minutos depois, ela inundou o lençol de rosas com o seu gozo... Os cheiros se misturaram, e posso garantir que nunca em minha vida, senti um cheiro melhor... Escalei seu corpo tremulo até nossas bocas se encontrarem... Beijei-a ainda cheia de desejo... Parecia não sanar aquela sensação desesperada por prazer dentro de mim... Ela provou o seu gosto... chupou a minha língua... Mordeu os meus lábios... Natasha empurrou-me de encontro ao outro lado da cama, e jogou seu corpo sobre o meu... Minhas mãos logo encontraram as suas costas, e tocaram sua pele suada, senti as pétalas de rosas grudadas por todo o corpo da menina, na verdade, era bem difícil distinguir onde começavam as rosas e onde terminava a pele da menina... Era tudo tão igual... Minhas mãos deslizavam mais forte pelo corpo dela, macerando as pétalas que começaram a exalar um cheiro ainda mais forte... Todo o quarto tinha aquele perfume... Eu já não conseguia mais respirar, Natasha rebolava deliciosamente no meio das minhas pernas, eu podia sentir seu sexo molhado roçando no meu... Misturando nossos líquidos... Segurei-a forte pela nuca... Meus lábios em seu ouvido...

- Eu vou gozar – Disse ofegante.

- Goza gostoso – Sussurrou também no meu ouvido e aumentou o ritmo do seu sexo sobre o meu... Inundei a cama na mesma hora – Quero sentir o seu gosto – Disse ela enquanto deslizava pelo meu corpo... Com os lábios... Com as mãos... Senti seus dedos entrarem dentro de mim... E sua língua tocar no meu sexo... Gozei novamente....

Tentava controlar a respiração, enquanto nos olhávamos fazendo carinhos uma na outra... Tirei os cabelos da sua face que me impediam de fitar seus olhos...

- Eu te amo – Sussurrei com os meus lábios encostados nos dela.

- Também te amo, Cris! – Disse fazendo questão de encarar os meus olhos - Ainda bem que você não se intimidou diante da minha covardia. Você me faz feliz! – Beijou-me.

- Que esse sentimento seja eterno enquanto dure...

- Se depender de mim, vai durar pra sempre... E... Vê se na próxima encarnação... Vem mulher de novo, tá? – Disse e sorriu.

- Então me promete que não vai me dar tanto trabalho da próxima vez – Sorri, puxei-a para mim – E vai ter que prometer também que virá com esses olhos lindos que só você tem. Feito?

- Feito! – Afagou meu rosto – Nunca deixe de me olhar desse jeito, tá? Consigo ver o seu amor através dos teus olhos.

- Jamais te olharei de outra forma... Você é... Simplesmente irresistível, menina!





Fim...



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